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REPORTAGEM

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É do Brasil! A professora por trás da volta do dinossauro Ubirajara

A paleontóloga Aline Ghilardi, professora da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte). - Divulgação
A paleontóloga Aline Ghilardi, professora da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte). Imagem: Divulgação

A paleontóloga e professora Aline Ghilardi, da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte), ficou dividida ao se deparar, no Natal de 2020, com um artigo científico sobre o fóssil do dinossauro Ubirajara jubatus.

Se por um lado ficou feliz pela raridade da descoberta do primeiro dinossauro com penas, mas não aviano (que não faz parte do grupo das aves) do hemisfério Sul. Por outro, ela se entristeceu, pois percebeu que o fóssil foi retirado ilegalmente, em 1995, do parque arqueológico da Chapada do Araripe, no Nordeste, e levado a um museu da Alemanha.

Conforme o colunista Carlos Madeiro apurou, Ghilardi já discutia o tráfico de fósseis há anos na internet. O caso do Ubirajara chamou tanto sua atenção que, em dezembro de 2020, ela começou uma campanha, encabeçada pela hashtag #UbirajaraBelongstoBR, para que o fóssil voltasse ao Brasil.

Ao contrário de outros casos que eu já denunciei, esse debate se tornou público graças ao ativismo digital e ganhou força graças a colegas com público gigantesco que apoiaram. Assim, a campanha explodiu."
Aline Ghilardi, da UFRN

A comoção e o engajamento na campanha foi tanto que, no dia 19 de julho, o Conselho de Ministros de Baden-Württemberg aprovou a proposta da ministra alemã da Ciência, Theresia Bauer, para devolver o fóssil ao Brasil. No entanto, mais de um mês depois da promessa, o Ubirajara continua na Alemanha por não haver uma definição de qual instituição brasileira irá recebê-lo.

paleontóloga  - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
A paleontóloga Aline Ghilardi
Imagem: Arquivo Pessoal

Segundo Juan Cisneros, paleontólogo e diretor do Museu de Arqueologia e Paleontologia da UFPI (Universidade Federal do Piauí), o tráfico de fósseis na Chapada do Araripe foi intenso desde os anos 1990 e início dos 2000, sendo a Alemanha o principal receptor de fósseis que saíram ilegalmente do país.

Os museus desse país têm grandes coleções de nossos fósseis, comprados de lojas que vendem material contrabandeado na Europa. Além deles, há colecionadores privados que também têm vários fósseis"
Juan Cisneros, da UFPI

Colonialismo científico

O tráfico de fósseis e de outros objetos arqueológicos é tão antigo e recorrente que pesquisadores chamam essas retiradas ilegais de colonialismo científico. Nesse tipo de colonialismo, costuma-se alegar que os países de origem não teriam pesquisadores ou museus qualificados para abrigarem peças arqueológicas, o que gera um círculo vicioso: como pedir investimento em infraestrutura se não há objetos para serem exibidos?

Uma forma de combater esse colonialismo científico é diversificar as fontes e ouvir autoridades de diferentes regiões do país na produção de uma matéria. Se um fóssil de dinossauro pertence a um parque arqueológico no Nordeste, especialistas de universidades daquela região também merecem serem consultados. O jornalismo e os leitores só ganham com essa expansão de horizonte.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do informado anteriormente, Ghilardi discutia o tráfico de fósseis há anos na internet, e não o tráfico arqueológico. O texto foi corrigido.