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Afeganistão: como Toyota 'previu' Taleban no poder ao vetar revenda de SUV

Toyota condiciona venda do novo Land Cruiser no Japão à assinatura de termo no qual comprador se compromete a não revender nem exportar SUV no prazo de um ano - Divulgação
Toyota condiciona venda do novo Land Cruiser no Japão à assinatura de termo no qual comprador se compromete a não revender nem exportar SUV no prazo de um ano
Imagem: Divulgação

Alessandro Reis

Do UOL, em São Paulo (SP)

18/08/2021 04h00

Antes mesmo de assumir pela primeira vez o poder no Afeganistão, em 1996, o Taleban tem utilizado veículos 4x4 "civis" adaptados ao combate - especialmente a picape Hilux e o SUV Land Cruiser, da Toyota, conhecidos pela robustez e muito mais acessíveis do que tanques militares.

O uso desses utilitários pelos extremistas islâmicos não é apoiado pela marca japonesa. Como se antecipasse que o Taleban retomaria o controle do país, o que de fato aconteceu no último fim de semana, a Toyota tomou medidas para dificultar que a nova geração do Land Cruiser pare nas mãos de governos ou movimentos associados ao terrorismo.

O utilitário esportivo mais antigo da companhia começou a ser vendido no início de agosto no Japão. A montadora tem solicitado que os respectivos compradores assinem um termo no qual se comprometem a não revender o SUV no prazo de um ano.

Por meio de comunicado divulgado no mês passado a órgãos de imprensa, a Toyota demonstrou preocupação com a possibilidade desses veículos serem exportados "para certas regiões onde existem regulamentações de segurança", com restrições comerciais junto à comunidade internacional - como países que abrigam células terroristas.

"Estamos cientes de que, se um concessionário Toyota for investigado por suspeita de envolvimento na violação da Lei de Comércio Exterior, seria um grande problema não apenas para o revendedor autorizado quanto para a própria Toyota. Essa medida foi tomada com base na recente situação global e nas características do Land Cruiser", diz o comunicado.

Há 20 anos, Toyotas do Taleban eram tema do 'NYT'

Soldado afegão patrulha as ruas de Cabul antes de Taliban reassumir poder; ao fundo se vê um Land Cruiser antigo - Reuters - Reuters
Soldado patrulha as ruas de Cabul antes de Taliban reassumir poder; ao fundo se vê um Land Cruiser antigo
Imagem: Reuters

Em reportagem publicada no mês de novembro de 2001, pouco após os Estados Unidos invadirem o Afeganistão para depor o governo do Taleban, o "The New York Times" abordou a "predileção" dos líderes do grupo extremista e de outras associações terroristas, como a Al Qaeda de Osama bin Laden, pelo Land Cruiser - enquanto os "soldados" preferiam a Hilux.

Cinco anos antes, o grupo islâmico havia invadido a capital Cabul usando tanques e também unidades modificadas desses dois modelos.

"Land Cruisers são confortáveis, climatizados e confiáveis, bem como têm grandes tanques de combustível, qualidades muito valorizadas no clima desértico. Além disso, da mesma forma que a Hilux, são bons para transportar um grande número de pessoas e de armamentos. As picapes também são plataformas ideais de intimidação e coerção".

O jornal questionou a montadora como os veículos foram parar no Afeganistão, considerando que, após os atentados de 11 de setembro, o governo dos EUA já impunha pesado embargo econômico ao país do Oriente Médio, por supor que o Taleban estaria dando abrigo a Bin Laden - apontado como o mentor dos ataques em solo norte-americano.

Na ocasião, a Toyota informou que não dispunha de um canal de vendas ou distribuição naquele país e que, exceto por um Land Cruiser exportado legalmente em 1997 para o território afegão, todos os demais vistos em fotos e vídeos da época teriam chegado ao Afeganistão por "canais não oficiais" - ou seja, via contrabando.

Toyota domina mercado afegão

Corollas expostos em loja nos arredores de Cabul; sedã seria o modelo mais vendido do país - Reprodução - Reprodução
Corollas expostos em loja nos arredores de Cabul; sedã seria o modelo mais vendido do país
Imagem: Reprodução

O mercado automotivo afegão é dominado por modelos japoneses de segunda mão, importados predominantemente de Dubai.

Conforme publicações locais, a marca mais vendida por ampla margem é a Toyota e o modelo que mais se vê circulando nas ruas é o Corolla, incluindo todas as gerações do sedã médio.

De acordo com o governo do Afeganistão, em 2020 a frota de veículos registrados no país era de 1.997.687 unidades - a título de comparação, somente o Estado paulista tem cerca de 30 milhões de unidades rodando.

Do total, 1.210.163 são carros de passeio, 329.956 são caminhões e outros comerciais pesados e 110.796 são ônibus.

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