Pivô do escândalo do diesel deixa presidência da VW nos EUA
Levou seis meses entre a descoberta de que a Volkswagen fraudou milhões de motores a diesel em todo mundo, em setembro de 2015, e o mais recente capítulo do escândalo apelidado de "dieselgate". Michael Horn, ex-chefão da Volks nos Estados Unidos e atual presidente da marca para Américas, pediu demissão.
Reconhecido como "homem de mercado" e responsável desde 2014 pelo plano de triplicar as vendas da Volkswagen nos EUA, Horn admitiu em setembro que a montadora foi "desonesta".
Com isso, balançou, foi rebaixado (a presidência das Américas era subordinada à Europa, enquanto a chefia da VW EUA era absoluta), mas só caiu agora, ao entregar o cargo nesta quarta (9).
Para vender mais, a Volkswagen afirmava que seus motores eram mais eficientes e menos poluidores. A fraude eletrônica, porém, permitia que os motores fossem aprovados nos testes de laboratório, ainda que poluíssem mais na vida real.
Segundo a Volkswagen, a saída se dá de comum acordo.
Por que caiu?
Dois motivos contribuíram para a queda de Horn, aponta a agência "Automotive News".
O principal é a insatisfação dos revendedores com a falta de um plano claro da Volkswagen para solucionar o caso. Com isso, as vendas nos EUA e Canadá caíram 5% em 2015 na comparação com 2014. Este ano, a queda já é de 14%.
Além disso, a Justiça está na cola da Volkswagen: a corte federal deu prazo até a última semana de março para que a marca entregue planos reais de uma solução para os motores com fraude.
Só nos EUA, são quase 500 mil carros afetados, todos equipados com motores 1.6 e 2.0 a diesel. No mundo, o total passa de 11 milhões de carros.
Também há problemas no Brasil, onde 17 mil unidades da picape Amarok esperam por uma solução e pela limpeza da imagem da marca.
Vendedores insatisfeitos
"Nossa empresa foi desonesta, nós ferramos com tudo e devemos consertar estes carros", afirmou Horn em 21 de setembro.
Desde então, tem tentado contornar a insatisfação da rede de lojas da Volkswagen nos EUA.
Nesta quarta, porém, a situação se mostrou insustentável, após o conselho de revendas emitir comunicado que não poupa a reputação da matriz da Volkswagen.
"O Conselho Consultivo Nacional de Revendedores [da Volkswagen] quer reconhecer a liderança e força de Michael [Horn] em meio à má gestão contínua do escândalo do diesel, que tem atormentado nossas vendas e reputação mais do que qualquer outro mercado global", aponta o comunicado.
"Estamos preocupados observando a má gestão deste escândalo por parte da Alemanha, e como isso pode afetar as decisões das autoridades dos EUA".
Desde a revelação do escândalo, a Volkswagen gasta três vezes mais dinheiro para vender cada carro: segundo a imprensa americana, o bônus dado por lojistas a cada cliente saltou de US$ 1.300 para US$ 3.900 (de R$ 4.800 para R$ 14.400) de 2015 para cá.
O conselho também aponta seu descontentamento com a chegada de Hinrich Woebcken, que assume a presidência interina da Volkswagen America em 1º de abril.
"A mudança de gestão só pode servir para deixar a empresa ainda mais no risco, não menos", aponta o conselho de revendedores.
Vendas em baixa
Apesar de ter ocupado a liderança global em 2015, a Volkswagen viu suas vendas despencarem 2,4%, segundo dados da consultoria Jato Dynamics.
Rivais como Toyota e General Motors perderam menos (1,4% e 1,9% de queda, respectivamente). A marca japonesa encostou na alemã (8,3 milhões de unidades contra 8,7 milhões) e pode recuperar a liderança mundial já em 2016. (Com agências internacionais)
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