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Câimbra é causada por falta de potássio?

Renata Turbiani

Colaboração para o VivaBem

20/11/2019 04h00

Você está no meio de um exercício físico e aí sente aquela fisgada na panturrilha. Ou então acorda na madrugada com a perna ou os dedos repuxando. Todo mundo sabe que isso é culpa da famosa câimbra, contração involuntária, bastante dolorosa, de um ou mais músculos.

E ao relatar que sofreu o problema, é bem provável que alguém diga: "É falta de potássio, você precisa comer mais banana". Por muito tempo existiu a crença de que essa condição —que, geralmente acomete os membros inferiores, mas também pode atingir pés, abdome, mãos e pescoço — era causada ou agravada pela pouca ingestão de potássio, daí a recomendação de consumir alimentos ricos no mineral. Hoje, no entanto, há o conhecimento de que isso é um mito.

O que provoca a câimbra?

Não existe um consenso entre os especialistas sobre a origem da câimbra. O que se sabe é que ela é um fenômeno multifatorial, provocado por desidratação, perda de sais minerais (desbalanço hidroeletrolítico) e fadiga neuromuscular, tudo isso junto ou separado.

Quando há diminuição no organismo de água e eletrólitos, sobretudo sódio, mas também cálcio e magnésio, seja pela sudorese, seja pela má nutrição, isso deixa os músculos mais sensíveis e sujeitos aos dolorosos espasmos musculares. O sódio é o mineral mais importante nessa equação porque garante a osmolaridade fora da célula muscular.

Isso significa que, na sua ausência, ou em quantidade insuficiente, falta água nos espaços necessários para fazer a hidrolise (quebra de uma molécula pela ação do líquido) e, assim, não há geração de energia para o relaxamento dos músculos, tendo como consequência a câimbra.

No caso do potássio, vale destacar que estudos mostram que a quantidade eliminada no suor é baixa, não impactando na ocorrência dos repuxamentos da forma como se pensava antigamente —o que pode ocorrer, quando a sua taxa cai, é fraqueza e paralisia muscular.

O incômodo causado pela fadiga neuromuscular é mais comum em atletas, tanto profissionais quanto amadores, que sobrecarregam algum músculo com atividade física de alta intensidade e/ou alta duração e não conseguem relaxá-lo. Mas também se dá como resultado de ações repetidas (digitar e passar muito tempo na mesma posição, por exemplo).

Nessas situações, algumas pessoas, talvez por predisposição genética, apresentam uma falha nos neurônios motores, responsáveis por conduzir a informações do sistema nervoso central em direção aos músculos. Dessa forma, os mecanismos que inibem as contrações musculares são desativados ao mesmo tempo em que os indutores são ativados.

Outras causas da câimbra

A câimbra ainda pode ser sinal de alguma doença, como diabetes, hipotireoidismo, insuficiência renal, distúrbios neurológicos e lesões vasculares, além de provocada pelo uso de certos medicamentos —estatinas, para controle do colesterol; quimioterápicos, para tratamento do câncer, e diuréticos, para hipertensão arterial, são alguns.

Um grupo que sofre bastante com o problema é o das gestantes, e por um conjunto de fatores: peso adicional e mudanças na postura, impondo estresse aos músculos; alterações na circulação sanguínea e no aporte de sangue aos músculos e diminuição na quantidade de minerais no organismo.

Como prevenir a câimbra

As contrações musculares involuntárias não têm cura, mas com a adoção de alguns cuidados simples é possível evitar ou diminuir a sua frequência. Na lista entram:

  • Hidrate-se bem antes, durante e após a prática de atividade física e também em dias muito quentes;
  • Tenha uma alimentação saudável, rica em frutas, legumes e verduras;
  • Faça regularmente exercícios de alongamento e fortalecimento muscular, com supervisão de um especialista e compatível com o seu condicionamento físico.

No momento em que ocorre a dor, com duração de alguns segundos até vários minutos, a recomendação é tentar relaxar, alongar levemente o local afetado e fazer uma massagem suave. Se mesmo assim os espasmos persistirem, aí é fundamental consultar um médico para investigar as possíveis causas e realizar o tratamento mais adequado.

Fontes: Antonio Herbert Lancha Jr., professor titular de nutrição da Escola de Educação Física e Esportes da USP (Universidade de São Paulo) e membro do Comitê Científico da SBAN (Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição); Marcelo Leitão, presidente da SBMEE (Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte); e Paulo Roberto Szeles, ortopedista, médico do esporte e coordenador da Residência de Medicina Esportiva da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

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