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Não adianta lembrete: 7 coisas que atrapalham sua memória todos os dias

Denis de Freitas / VivaBem
Imagem: Denis de Freitas / VivaBem

Colaboração para o VivaBem

07/10/2019 04h00

Entrou na sala determinado a procurar algo tão essencial naquele momento, olhou ao redor de si mesmo e, de repente, o branco. A memória, às vezes tão traiçoeira... O que chamamos de memória é um processo cognitivo complexo com diferentes fases, explica a neurocientista Pamela Mello Carpes, da Unipampa (Universidade Federal do Pampa):

  1. Primeiro existe um processo de aprendizagem, quando nosso cérebro percebe informações novas e tenta reunir conhecimentos já adquiridos para contextualizar e compreender a novidade;
  2. Depois há uma etapa de consolidação da memória, em que são realizadas alterações temporários ou permanentes nas redes neurais, responsáveis pela comunicação entre diferentes partes do cérebro;
  3. A terceira fase é a evocação, o momento em que tentamos retomar uma lembrança para um novo uso.

Toda essa operação de memorização e lembrança depende de um fino arranjo entre o corpo inteiro. E alguns maus hábitos, que envolvem do sono ao celular, atrapalham o funcionamento ideal dessa orquestra.

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    Pouca atenção

    A conversa com o colega de trabalho para resolver um problema enquanto olha um e-mail na tela do computador ou aquela conferida na mensagem de WhatsApp durante uma aula ou uma reunião. A tentativa de ser multi-tarefas reduz nossa atenção e dificulta nosso processo de memorização. "Para aprender alguma coisa, eu preciso ter foco. Quando temos muitos estímulos simultâneos chegando, é difícil manter a atenção", esclarece a neurocientisa. Um artigo de 2015, publicado na revista Psychonomic Bulletin Review, mostra que para 97% da população fazer várias coisas ao mesmo tempo tem impacto negativo na eficiência. Os pesquisadores de Utah indicam que a grande maioria das pessoas têm um desempenho pior ao fazer simultaneamente duas atividades que pedem atenção.

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    Dormir pouco

    Ter uma boa noite de sono, com o número de horas adequado para que você se sinta bem, é essencial para o bom funcionamento do cérebro e para a consolidação de memórias. "A consolidação é um processo que envolve alterações nas sinapses (as interações entre os neurônios), e a informação é guardada justamente sob a forma de conexões entre os neurônios. Enquanto dormimos o cérebro se encontra em um estado favorável a essa consolidação", descreve Cleanto Rego Fernandes, pesquisador de neurociência cognitiva no IFCE (Instituto Federal do Ciência e Tecnologia do Ceará). Sabe aquela história de virar a noite para estudar para uma prova? Pode até resolver para o desempenho naquele exame, mas a privação de sono provavelmente vai atrapalhar a criação de memória de longo prazo. E mais, conforme o cansaço, a falta de sono atrapalha mesmo a formação da memória de curto prazo, pois a pessoa privada de sono tem menos capacidade de atenção.

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    Falta de significado

    Ter uma razão para guardar uma memória ajuda o cérebro a perceber que aquilo é importante e se dedicar na construção da lembrança. Se não vemos significado em uma informação, ela não será guardada. ?As alterações feitas no cérebro para criar uma memória gastam energia. E o cérebro não vai gastar sua energia com algo que não considere necessário?, indica Mello Carpes. Quanto mais recebemos informações que dialogam com nosso contexto ou com conhecimentos que já temos, maior a chance de se lembrar delas mais tarde.

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    Ver por uma única vez e não usar

    A repetição de uma informação aumenta a retenção de memórias ao longo da vida. E essa repetição pode ser real, fazendo novamente a mesma ação, ou usando uma lembrança para contar uma história aos amigos, por exemplo. Em uma pesquisa publicada em agosto na Science por cientistas da Caltech (Instituto de Tecnologia da Califórnia) mostram que memórias antigas podem ser mantidas mesmo após um dano cerebral, pois nosso cérebro cria redundância para manter a informação. A pesquisa feita com ratos indica que as informações de longo prazo eram mantidas em diferentes grupos de neurônios, garantindo a manutenção da lembrança mesmo quando alguns destes neurônios deixaram de funcionar. É como se para garantir que a memória vai ser preservada, criássemos lembretes em lugares diferentes do cérebro com a mesma informação. "Quanto mais praticamos uma ação, maior o número de neurônios que são ativados nesta ação", segundo Carlos Lois, um dos responsáveis pelo estudo. "Nossos resultados sugerem que aumentar o número de neurônios empenhados na mesma memória permite que a memória persista por mais tempo."

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    Estresse crônico

    O estresse agudo, como aquele sentido quando você acha que vai perder o ônibus para chegar àquela prova importante, é uma resposta desejável do corpo. Neste momento, você recebe uma injeção de adrenalina, que aumenta seus batimentos cardíacos e sua respiração, e seu corpo pode responder adequadamente ao desafio imposto. No entanto, quem passa por essa sensação ao longo de vários dias sofre de estresse crônico, uma doença com danos para o sistema imunológico, cardiológicio e também para a cognição. ?As alterações chegam a ser estruturais, causando diminuição do tamanho de uma parte indispensável à consolidação da memória: o hipocampo?, destaca Fernandes. Neste caso, combater as razões do estresse crônico é a única forma também de melhorar a memória.

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    Sedentarismo

    Além de não fazer bem para o coração, a falta de exercícios físicos atrapalha também o cérebro. Um estudo feito na Universidade da Califórnia ? Los Angeles (UCLA) com 35 pessoas entre 45 e 75 anos apontou que ficar muito tempo sentado está ligado com a redução do lobo temporal medial, parte do cérebro importante para a formação de novas memórias. A prática de exercício físico frequente está ligada à melhora do sistema circulatório. "Assim chega mais sangue e mais energia para o cérebro poder funcionar bem. Além de estar ligado à melhora da neuroplasticidade, que é a capacidade do cérebro criar novas sinapses, e à modulação de neuro transmissores e à secreção de hormônios", explica Mello Carpes. Para estimular o funcionamento cerebral, os exercícios físicos com resultados já testados cientificamente são os aeróbicos, como correr, andar de bicicleta, nadar ou mesmo dançar.

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    Esquecer também é importante

    Se às vezes o esquecimento incomoda, Fernandes sublinha que "não existe uma memória perfeita, no sentido de conseguir lembrar de tudo". O pesquisador explica que esquecer também é parte importante do processo para garantir um registro com sentido e organização. "Se guardássemos tudo que vivemos na memória nossa mente seria tão caótica quanto nossa casa se não pudéssemos jogar nada fora. Precisamos esquecer coisas irrelevantes para privilegiar o registro e recordação das informações relevantes."

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