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Paola Machado

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Destreinamento existe! Veja dicas para retornar aos treinos da forma segura

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Colunista do UOL

30/07/2021 04h00

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A fase amarela da flexibilização da quarentena na cidade de São Paulo permitiu que as academias retornassem o funcionamento. Além dos cuidados com distanciamento, higienização e uso de máscaras, é importante estar atento às mudanças que esse tempo de pausa impactou na saúde do corpo de todos.

Durante a quarentena, muitas pessoas passaram a treinar em casa, outras, no entanto, abandonaram a atividade física. Se você for do time que abandonou os treinos, é preciso entender como seu corpo pode ter mudado nesses meses de isolamento.

Destreinamento existe

O tempo longe dos treinos e a inatividade física levam o corpo a retroceder, há a diminuição do condicionamento físico, massa muscular e flexibilidade por falta de estímulos de treinamento. Em uma analogia simples, é como se o seu corpo entendesse que os ganhos conquistados não fossem mais necessários de serem mantidos.

É claro que cada corpo reage tanto aos treinos quanto às pausas de formas diferente. Há uma série de variáveis que devem ser levadas em consideração, como a idade e o gênero da pessoa. Em idosos, por exemplo, a pausa impacta muito mais rapidamente no corpo se comparado às pessoas mais jovens na faixa dos 20 anos.

De acordo com estudos prévios, o condicionamento físico e a flexibilidade tendem a regredir rapidamente. Já a massa muscular e a força levam mais tempo para serem perdidos. A maioria das pessoas começa a reduzir a força e massa muscular cerca de duas a três semanas após o período de inatividade.

Músculo tem memória

A memória muscular no músculo de pessoas que já tiveram processo de hipertrofia muscular existe e faz com que a fibra muscular se recupere de forma mais rápida.

Isso é, quem já treinava antes tem o benefício de recuperar o corpo mais rapidamente. Estudos comprovam que músculos previamente ativos têm maior facilidade de ganhar força e volume muscular quando comparados aos que nunca realizaram nenhum tipo de exercício.

Essa memória se relaciona à ação do sistema nervoso central, à aprendizagem motora e às mudanças epigenéticas. A memória muscular pode também ser chamada de memória motora.

Não se sabe ao certo se essa memória possui um prazo de validade ou se ela permanece por toda a vida. Mas o que parece acontecer é que quanto mais tempo de bagagem de treino, maior será a sua memória muscular. Portanto, não se preocupe, aqueles anos inteiros de academia não foram totalmente perdidos nesses meses de pausa.

Mas calma, isso não significa que você deve retornar a todo vapor aos treinos porque acha que sua memória muscular irá lhe favorecer.

Em todo retorno é necessário ter paciência e controlar a ansiedade para que essa transição seja segura e não ocorra uma lesão que lhe faça ficar ainda mais tempo afastado dos treinos.

Portanto, para retornar aos treinos é necessário uma série de cuidados, principalmente se você está parado desde o início da quarentena.

  • Nunca retorne com a mesma intensidade e volume de treino
  • Consulte seu médico para realizar uma avaliação prévia do seu estado atual de saúde
  • Procure o educador físico e comunique sobre a inatividade física nesse período
  • Realize treinos de adaptação: uma boa estratégia para as 3 primeiras semanas
  • Evite realizar treinos sem supervisão
  • Respeite o tempo de readaptação do seu corpo
  • É fundamental respeitar o intervalo entre as séries
  • É fundamental respeitar o intervalo entre as sessões de treino: recuperação do corpo

*Colaboração Rodrigo Kenzo, educador físico e gestor do @personal.laposture e Renata Luri, fisioterapeuta doutorada pela Unifesp.

Referências:

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