Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
Obesidade: por que é tão difícil a adesão à dieta e há reganho de peso?
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Quando uma pessoa obesa começa a fazer uma dieta com restrição calórica para emagrecer, é natural que, no início do tratamento, ocorra uma redução relativamente rápida do peso. Após algumas semanas, a taxa de perda de peso torna-se mais lenta e gradual. Por fim, depois de alguns meses, é comum que os dígitos na balança parem de diminuir e ocorra até um reganho de peso, muitas vezes gerando frustração em quem iniciou o processo de mudança de hábitos.
Várias causas têm sido propostas para explicar esses padrões desfavoráveis de perda de peso. É bem reconhecido que a baixa eficácia ou ausência de sucesso em dietas de restrição calórica se deve principalmente ao fracasso da adesão à prescrição dietética, um fenômeno que pode ocorrer rapidamente no decorrer da dieta e que geralmente aumenta com o tempo. Em alguns casos, observa-se um abandono total dos programas de tratamento da obesidade.
Mas por que é tão difícil manter a dieta e tantas pessoas desistem?
Hoje, eu poderia falar de diversos fatores que surgiram na pandemia, como o fechamento de parques e academias (já reabertas), medo da covid, ansiedade, desmotivação, estresse excessivo no home office. Mas a baixa adesão a um tratamento não surgiu agora nem ocorre só quando falamos de obesidade.
Estudos de 1994 já mostravam que 38% dos pacientes deixaram de seguir um tratamento agudo recomendado —como o uso de antibióticos—, 43% dos pacientes não aderiam a um tratamento crônico e 75% dos pacientes não seguiram as recomendações médicas relacionadas a mudanças de estilo de vida, como alimentação, exercícios, abandono do cigarro etc.
Em 1995, uma pesquisa mostrou que 50% dos indivíduos que iniciaram um programa de treinamento o abandonaram dentro de três a seis meses. Já uma análise com 50 mil pessoas sugere que, embora de 34% a 42% das pessoas se esforcem para emagrecer, muitas delas não conseguem e desistem.
No entanto, a disfunção comportamental não é o único fator que explica isso. Há outras questões envolvidas e, como já falei, mesmo em pessoas que exibem total adesão à dieta prescrita, a perda de peso prevista tende a diminuir no médio prazo, com estabilização ou eventual recuperação do peso corporal em longo prazo.
Possíveis causas do reganho de peso
Hormonais
O balanço energético é controlado por um grande número de peptídeos secretados pelo intestino e tecido adiposo. Esses peptídeos regulam a ingestão de alimentos e a homeostase energética, estimulando ou reduzindo a atividade ou síntese de vários neuropeptídeos localizados principalmente no hipotálamo.
Dentre essas vias, o circuito contendo o neuropeptídeo Y (NPY) é considerado uma etapa fundamental para a ação dos peptídeos sintetizados no trato intestinal e tecido adiposo. Experimentos em animais demonstraram claramente que qualquer aumento na secreção e liberação do NPY exerce um efeito orexígeno e promove a ingestão de energia.
Em contraste, qualquer redução na secreção do NPY resulta em um efeito oposto e está associada a uma resposta de hipóxia. Essa visão relativamente simples das vias de sinalização de neuropeptídeos no hipotálamo não deve ocultar a complexidade da alimentação da homeostase e da regulação do gasto de energia no nível do cérebro.
No entanto, esta abordagem bastante elementar deve ser suficiente para demonstrar a inadequação das respostas hormonais à restrição da ingestão alimentar e para explicar por que essa adaptação inadequada pode ser um fator causal para a limitação e até mesmo a ausência de perda de peso, que são frequentemente observadas em pessoas submetidas a dietas com restrição de calorias.
Disbiose intestinal
A microbiota intestinal humana é vista como um ecossistema de trilhões de micro-organismos, distribuídos em mais de 70 comunidades bacterianas agrupadas em 3 subconjuntos principais. Cada indivíduo possui uma microbiota intestinal específica, com uma partição equilibrada entre as espécies bacterianas.
O conceito de disbiose surgiu quando os cientistas começaram a questionar a associação de alguns distúrbios clínicos com desequilíbrio sustentado entre as comunidades bacterianas intestinais. Foi reconhecido que a microbiota intestinal de indivíduos obesos e magros é diferente, levando assim à definição de uma nova entidade referida como disbiose intestinal na obesidade.
Durante a última década, um número crescente de estudos tentou abordar várias questões relativas a essa condição.
A primeira questão é saber se este padrão anormal de microbiota intestinal é herdado, resultante da natureza ou adquirido sob a influência de fatores dietéticos, ou seja, a "criação ambiental". Em segundo lugar, caso a disbiose intestinal na obesidades seja principalmente devida ao ambiente, surge a questão de saber se essas mudanças adquiridas são autossustentáveis e/ou agravantes.
Conclusão
Em resumo, parece que perder peso é um desafio difícil porque todos os sistemas termodinâmicos, neuroquímicos e endócrinos respondem a dietas de baixa caloria e outras medidas terapêuticas, ao neutralizar seus benefícios potenciais.
Ou seja, o melhor tratamento da obesidade é preventivo e cada indivíduo deve adotar o mais precocemente possível um padrão alimentar saudável, a fim de evitar o desenvolvimento do excesso de peso, pois esse quadro clínico se torna cada vez menos reversível com o aumento da duração da doença e o avanço do paciente
A revisão aqui exposta mostra em primeiro lugar porque a teoria ajuda a compreender que reduções no peso corporal permanecem sempre possíveis, mas também porque a prática mostra que em muitas situações a teoria não está alinhada, apesar do otimismo. Quando combinamos teoria e prática entendemos o que vemos, mas na prática vemos que nada funciona como teoricamente previsto.
Referência:
- Monnier L, Schlienger J, Colette C. et al. The obesity treatment dilemma: Why dieting is both the answer and the problem? A mechanistic overview. Diabetes & Metabolism. 2020.
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