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Paola Machado

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

O que fazer quando se está tendo uma crise de pânico?

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Colunista do UOL

14/07/2021 04h00

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Já fizemos um texto aqui sobre o diagnóstico do transtorno de pânico. Hoje o foco será no tratamento deste importante problema de saúde.

Falaremos sobre seu tratamento medicamentoso, psicoterápico e também sobre estratégias de autocuidado que você mesmo pode aplicar. Contamos novamente com a colaboração do psiquiatra Pedro Rosa, da FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).

Quem já teve ou tem transtorno de pânico sabe o quanto cada crise é desesperadora. Durante um ataque de pânico, você pode achar que está tendo algum problema fatal, junto com falta de ar, tontura, náusea e dor no peito. Os sintomas podem ser muito semelhantes aos de um ataque cardíaco, por exemplo. Saiba que transtorno de pânico tem tratamento eficaz e com poucos efeitos colaterais.

Tratamento medicamentoso

Uma vez firmado o diagnóstico de transtorno de pânico, o tratamento adequado envolve a escolha de uma medicação antidepressiva com benefício comprovado para o transtorno de pânico.

Além destas medicações, antidepressivos muito eficientes, mas que tem uma tolerabilidade menor, são escolhas viáveis caso seja necessário.

Todas estas medicações são iniciadas em doses baixas, aumentadas ao longo de semanas e meses conforme necessário para que a remissão dos sintomas seja obtida. Tipicamente, essas medicações começam a apresentar benefícios após 10/15 dias de uso.

Além dos antidepressivos, medicações benzodiazepínicas também são utilizadas no transtorno de pânico.

A maior parte dos psiquiatras entende que o uso destas medicações deve ser restrito tanto em duração quanto em dose, uma vez que elas têm potencial de causar dependência. Em geral, são utilizadas temporariamente, por poucos dias ou semanas, até que o efeito do antidepressivo escolhido ocorra.

Tratamento psicoterápico

Todos sabemos que psicoterapia envolve a identificação de fatores muito pessoais e seu manejo ocorre em um ambiente seguro onde o vínculo com um profissional capacitado se desenvolve e serve como catalisador para mudanças positivas.

Entretanto, podemos descrever princípios gerais das psicoterapias para transtorno de pânico. Vale aqui também lembrar que muitas destas intervenções podem e devem ser, ainda que parcialmente, fornecidas pelos médicos quando prescrevem medicações e acompanham seus pacientes com transtorno de pânico.

Em primeiro lugar, pacientes devem receber informações a respeito do transtorno de pânico. Informação também é tratamento. Muitas pessoas se sentem aliviadas por saber que o que sentem tem nome e que é compartilhado por muitos outros indivíduos.

Sabemos que muito frequentemente um transtorno de pânico surge em momentos de estresse extraordinário ou em momentos de transição de vida. Ainda que ataques de pânico surjam, ao menos inicialmente, sem desencadeante claro, ao longo do tempo podem passar a ser desencadeados por múltiplas razões, que vamos chamar aqui de gatilhos.

Gatilhos podem ter diferentes origens. Podem ser um pensamento, situação, ou até algo sutil como uma ligeira mudança na frequência cardíaca, ainda que possam ser sensações físicas mais intensas, como uma dor.

Por mais que esses gatilhos todos por si só em geral não sejam importantes, acabam por receber enorme atenção e geram preocupações que podem crescer e se tornar um ataque de pânico. O tratamento aqui inclui o esclarecimento de que os gatilhos por si são inofensivos e distintos do ataque de pânico.

Autocuidado é essencial

Tratamento médico e psicoterápico é muito importante para o cuidado adequado de transtorno de pânico. Entretanto, é muito importante que pacientes com esse problema e seus familiares saibam como conduzir a própria vida de maneira saudável e que os proteja melhor desse problema de saúde.

Há 3 temas importantes que você vai sempre ler ou ouvir falar quanto a autocuidado: sono, atividade física e alimentação saudável.

Saiba que você pode incorporar ao seu estilo de vida hábitos saudáveis, que podem ajudar a reduzir a ansiedade e os ataques de pânico. Alimentar-se de forma saudável, descansar o suficiente e fazer exercícios regularmente pode ser útil na redução do estresse em geral.

Homem pratica corrida com máscara - iStock - iStock
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Pesquisas consistentemente mostram que exercícios aeróbicos regulares, como corrida, ciclismo ou outros exercícios aeróbicos de intensidade moderada a alta, podem reduzir os sintomas de ansiedade.

Medicações e substâncias também podem desencadear e piorar o transtorno de pânico. O primeiro grupo delas são as drogas de abuso, como álcool, maconha, cocaína, metanfetamina, dentre outros.

Por mais que algumas pessoas justamente usem algumas dessas substâncias com o intuito de aliviar ansiedade, a evidência é que o uso regular delas aumenta de forma importante a incidência de transtornos mentais. Além disso, essas substâncias também dificultam que os efeitos do tratamento medicamentoso e psicoterápico sejam sentidos completamente.

Além daquelas substâncias, sabemos que outros estimulantes, mesmo lícitos, também causam ansiedade. Os mais importantes aqui são: cafeína e similares (presente não somente no café, mas em chá preto, chá verde e em suplementos variados), e efedrina e similares (presentes em descongestionantes e em diversos compostos analgésicos e antitérmicos). Caso você faça uso de alguma dessas substâncias, provavelmente vale a pena reduzir ou cessar o uso.

As técnicas de relaxamento podem ajudar ainda mais alguém a "fluir" de um ataque. Essas técnicas incluem, por exemplo, retreinamento da respiração ou visualização positiva.

Alguns especialistas descobriram que as pessoas com transtorno do pânico tendem a ter taxas de respiração ligeiramente mais altas do que a média. Portanto, aprender a respirar de uma forma relaxante pode ajudar muito alguém a lidar com um ataque de pânico e pode também prevenir ataques futuros.

Quando for necessário, faça o seguinte...

Perceba e se lembre do seu estado de saúde física. Saber mais sobre sua saúde física o coloca em uma posição melhor para saber a diferença entre os sintomas do ataque de pânico e os sinais de uma condição médica.

Pense sobre os sintomas específicos que você está experimentando se são comuns durante um ataque de pânico. Revise a lógica em sua cabeça, ou até mesmo diga em voz alta que você já sabe que está com seu corpo saudável e que um ataque de pânico não é fatal.

Reconheça também que você já sabe que ataques de pânico, como das outras vezes que aconteceram, sempre passam. Os ataques de pânico geralmente duram apenas alguns minutos. Diga a si mesmo que você está tendo um ataque de pânico e está tudo bem.

Você não precisa tentar controlá-lo, mas apenas saber o que está acontecendo pode ajudar esse sentimento.

Em seguida, pare e se concentre na sua respiração. Está sentindo o início de um ataque de pânico? Concentre-se em sua respiração, pois é uma das melhores maneiras de desacelerar a reação de estresse produzida pelo seu sistema nervoso.

A questão da respiração é de tal forma importante que há uma maneira específica de respirar que auxilia no controle de estresse e ansiedade. Podemos notar que diante de estresse e ansiedade nossa respiração é mais curta e mais rápida, além de irregular e por vezes ainda expiramos de forma incompleta, deixando muito ar nos pulmões antes da próxima inspiração.

Essa respiração associada ao estresse tem pouca expansão do abdome e muito mais expansão do tórax. Essa é uma forma não relaxante de respirar e que por si só piora o estresse.

A respiração relaxada é uma abordagem simples para o relaxamento e que envolve uma respiração mais lenta, profunda, regular e relaxada. Faça o seguinte:

  • Concentre-se em fazer inspirações e expirações um pouco mais longas.
  • Em seguida, concentre-se em uma expiração lenta, tranquila e profunda.
  • Se a sua atenção se desviar para qualquer outro tema (como um pensamento, emoção, ou outra parte do seu corpo), não tem problema: gentilmente retorne a sua atenção para a sua respiração.
  • Procure fazer a expiração um pouco mais lenta do que a inspiração. Você pode contar mentalmente na inspiração "1 ... 2 ... 3 ... 4" e, em seguida, "1 ... 2 ... 3 ... 4 ... 5" durante sua expiração.
  • Não prenda a respiração ao final de suas inspirações ou expirações: permita-se mudar lentamente de inspirar para expirar, e assim sucessivamente.
  • Permita-se ficar um pouco mais relaxado a cada respiração.
  • A respiração relaxada é um processo normal e natural, então não se esforce demais. Apenas permita que o processo de relaxamento aconteça naturalmente. Não existe uma maneira perfeita de fazer isso.
  • Tente não se esforçar para relaxar demais. Tentar se forçar a relaxar é como tentar se forçar a cair no sono. Quanto mais você tenta, menos provável que isso aconteça. É melhor apenas se permitir relaxar.
  • Você pode escolher praticar por 5 minutos, 10 ou mais, como 30 minutos.
  • O segredo do sucesso é praticar continuamente. Para que você tenha mais experiência diante de ansiedade, pratique diariamente com regularidade de hora e local.

Outras opções para você tentar

Visualize imagens ou situações relaxantes. Imagine-se em um ambiente tranquilo de sua escolha. Esta técnica ajuda na ação do sistema nervoso parassimpático, que promove a resposta de relaxamento, um antídoto para a reação de estresse.

Nesta atividade, procure visualizar a si mesmo chegando ao ambiente de escolha e interagindo com ele. Inclua na sua imaginação experiências sensoriais variadas para ampliar a imersão nesta técnica.

Realize o relaxamento muscular progressivo. Esta técnica envolve, basicamente, tensionar por alguns segundos e em seguida liberar essa tensão dos músculos —um grupo muscular de cada vez.

Por exemplo, você pode tensionar os dedos dos pés, segurar por alguns segundos e depois soltar. Essa técnica ajuda você a se concentrar em diferentes grupos musculares e entender a diferença entre a sensação do músculo quando está tenso ou relaxado.

Além disso, faz com que você tenha consciência de como seu corpo está se sentindo no momento.

*Colaboração de Pedro Rosa, médico psiquiatra. Graduado em medicina pela FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), residência médica em psiquiatria pelo Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP, doutor em ciências pela FMUSP, pesquisador do Laboratório de Neuroimagem em Psiquiatria (LIM-21) da FMUSP. Atua em consultório privado e em hospitais em São Paulo (Hospital Israelita Albert Einstein e Hospital Sírio-Libanês).

Referências:

- Buccelletti F, Ojetti V, Merra G, Carroccia A, Marsiliani D, Mangiola F, Calabrò G, Iacomini P, Zuccalà G, Franceschi F. Recurrent use of the Emergency Department in patients with anxiety disorder. Eur Rev Med Pharmacol Sci. 2013 Feb;17 Suppl 1:100-6. PMID: 23436671.

- Bystritsky A, Khalsa SS, Cameron ME, Schiffman J. Current diagnosis and treatment of anxiety disorders. P T. 2013;38(1):30-57.

- Mayo Clinic. Panic attacks and panic disorder. Disponível em: https://www.mayoclinic.org/diseases-conditions/panic-attacks/diagnosis-treatment/drc-20376027

- Mayo Clinic. Stress management. Disponível em: https://www.mayoclinic.org/healthy-lifestyle/stress-management/in-depth/relaxation-technique/art-20045368?pg=2

- NIH. Panic Disorder: When Fear Overwhelms. Disponível em: https://www.nimh.nih.gov/health/publications/panic-disorder-when-fear-overwhelms/