Topo

Jairo Bouer

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Saúde emocional: internet é lugar seguro para jovens buscarem suporte?

iStock
Imagem: iStock

Colunista de VivaBem

19/08/2022 04h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Um terço das crianças e adolescentes no Brasil já recorreu à internet para buscar algum tipo de ajuda emocional, segundo estudo divulgado esta semana pela Folha de S.Paulo. O comportamento é mais frequente entre as garotas e entre os jovens na faixa dos 15 aos 17 anos.

A rodada atual da pesquisa TIC Kids Online Brasil (Tecnologia de Informação e Comunicação), uma espécie de bússola do comportamento digital de crianças e adolescentes no Brasil, realizada anualmente desde 2012, aponta que 32% dos jovens já buscaram ajuda na internet quando acontece algo ruim ou para falar sobre suas emoções quando se sentem tristes, 36% das meninas e 29% dos meninos.

A busca por ajuda aumenta na medida em que eles ficam mais velhos. Salta de 15% na faixa de 11 e 12 anos, para 28% entre 13 e 14 anos, e chega até 46% na faixa dos 15 aos 17 anos.

Em síntese, quase a metade dos adolescentes já buscou algum tipo de conforto ou suporte emocional na internet pelo menos uma vez na vida

Na pesquisa, foram feitas 2651 entrevistas presenciais, com base na amostragem populacional do IBGE, entre outubro de 2021 e março de 2022. O levantamento apurou parte dos dados em um momento da pandemia em que muitos desses jovens ainda estavam sob forte impacto emocional por conta da distância dos amigos e longe das escolas, o que pode ter "inflado" um pouco os números.

Redes: causa e solução das dificuldades

É interessante lembrar que, muitas vezes, a própria internet (sobretudo as redes sociais) se torna a principal fonte de muitos dos sofrimentos, ansiedades, inseguranças e tristeza dos mais novos. Fenômenos que podem gerar emoções e sentimentos negativos como cyberbullying, preconceito, violências, exposição da intimidade, desmoralização, exclusões e rejeições repetidas fazem parte do cotidiano dos jovens em sua vida digital.

Em um momento de maior vulnerabilidade, como na pandemia, tudo isso pode virar gatilho para uma dificuldade importante no campo da saúde mental.

Ao mesmo tempo em que vida nas redes pode gerar situações complexas do ponto de vista emocional, ela parece surgir na pesquisa como um importante "porto seguro" para que os jovens busquem pares e especialistas para pesquisar o tema e falar sobre suas angústias.

Internet ajuda ou atrapalha?

O problema é que, do ponto de vista prático, as redes podem tanto trazer suporte e acolhimento para os jovens em sofrimento, como também podem fazer com que eles se aproximem de pessoas ou grupos que mais prejudicam do que ajudam, inclusive trazendo riscos adicionais para a saúde mental de muitos deles.

Na geração que valoriza a troca de informações de forma mais horizontal, em que a vivência e a opinião de influenciadores jovens e leigos podem ter peso semelhante à experiência de profissionais e especialistas, crianças e adolescentes podem se deparar com propostas e soluções prejudiciais e delicadas

Como a saúde mental pós-pandemia ficou em xeque para quase todos nós, deixar um tema tão delicado "na mão" de desavisados, desinformados ou mal-intencionados de plantão pode ser um risco para os jovens

Claro que muitos deles são incríveis e dividem experiências e empatia importantíssimas, mas é difícil para um jovem pouco experiente diferenciar o que é bacana do que pode não ser tão legal

Espaço de mediação

Por isso é importante entender e perceber que, se o uso da internet para a busca de suporte emocional é cada vez mais comum entre os mais novos, ele precisa ser melhor "curado", mediado e controlado por pais, educadores e autoridades responsáveis.

Se você, pai ou professor, percebe que seu filho ou aluno está passando cada vez mais tempo conectado, é fundamental discutir com eles a forma de uso, os impactos provocados e a importância do desenvolvimento de "filtros pessoais" para maior percepção de risco, gestão das emoções e para maior proteção.

Que tipo de abordagem de estranhos merece atenção? O que pode ligar o sinal de alerta? Que tipo de mensagem ou imagem deve gerar cuidado? Qual a melhor forma de se comportar e de se cuidar nas redes? Em quem confiar? Que tipo de informação merece crédito e quais delas precisam ser checadas?

Essas reflexões e alertas podem fazer com que o suporte emocional buscado na rede possa ser feito com maior credibilidade e segurança, além de deixar claro que o diálogo em casa e na escola são portas que devem estar sempre abertas para os mais novos!