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Jairo Bouer

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

34% estão insatisfeitos com o pênis ou vulva; como isso afeta vida sexual?

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Imagem: iStock

Colunista de VivaBem

13/08/2022 04h00

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[EM EDIÇÃO] A velha questão "tamanho é documento?" ainda parece ser uma preocupação muito comum em todo o mundo. Um novo estudo feito na Suécia, com 3500 pessoas, mostra que quase 34% dos entrevistados estão insatisfeitos com seus genitais, o que pode impactar sua autoestima e explicar o número crescente de procedimentos estéticos íntimos.

O trabalho mostra que existe uma correlação entre ter lábios vaginais mais pronunciados ou pênis um pouco menor com a maior insatisfação com os genitais. Por outro lado, o grau de insatisfação com os genitais não teve relação direta com o consumo de pornografia, embora mais de 90% dos homens e quase 60% das mulheres dizem ter acessado esse tipo de material nos três meses anteriores à pesquisa.

Segundo a pesquisa, quase 3,5% das mulheres e 5,5% dos homens apresentavam uma severa baixa na autoestima em relação aos seus genitais. Os dados mostram que mais de mais de 11% deles e quase 14% delas consideram uma cirurgia para melhorar a aparência de seus órgãos sexuais.

Segundo matéria da Folha de S.Paulo da última semana, 20 mil pessoas no Brasil fizeram algum tipo de cirurgia estética para os genitais em 2020, entre elas celebridades como Deolane Bezerra, Geisy Arruda e Letícia Santiago, além do cantor Tiago, da dupla com Hugo.

Evitando sexo e relacionamento

A insatisfação com os genitais e a piora na autoestima podem afetar o bem-estar e a qualidade de vida das pessoas, podendo prejudicar sua vida sexual e seus relacionamentos.

Quem não se sente bem com seu corpo ou com seus genitais pode ter dificuldade de relaxar e ficar à vontade com os parceiros na hora do sexo, o que pode gerar um aumento da ansiedade no momento de intimidade, resultando em disfunção erétil e falhas de excitação, dificuldades com a ejaculação e com o orgasmo e, ainda, dor no momento da penetração. Quem se sente assim, por insegurança e medo, pode passar a evitar o sexo e as relações amorosas.

Tenho trabalhado com saúde sexual nos últimos 25 anos e as questões sobre tamanho do pênis, por exemplo, não diminuíram em nada, ao contrário, a insatisfação com os genitais e a busca por informação sobre cirurgias íntimas só escalaram na última década com a chegada das redes sociais, com o maior acesso a conteúdos eróticos explícitos (e a perspectiva distorcida que eles podem trazer), além da pressão crescente por padrões estéticos muito rígidos (inclusive do pênis e da vulva).

Tamanho e masculinidade

Pouco adianta explicar que tamanho e formato não fazem diferença para desempenho, performance e satisfação da parceira ou do parceiro na imensa maioria dos casos. A ideia de um pênis maior ainda parece muito atrelada à afirmação da masculinidade e da virilidade de muitos homens, independente da sua orientação sexual.

É lógico quer há casos extremos, em que o tamanho reduzido do pênis (micropênis) ou uma deformidade importante desse órgão (como na doença de Peronye) justificam uma opinião médica e, muitas vezes, um procedimento corretivo. Da mesma forma, no caso da vulva, lábios muito pronunciados podem provocar incômodo, dor e desconforto em algumas situações e, também, merecem uma avaliação do ginecologista.

Mas, em geral, as pessoas buscam uma melhora estética dos seus genitais em busca de uma maior satisfação com sua imagem corporal e, por tabela, uma melhora da sua autoestima. O problema é que a maior parte das técnicas não entrega o "resultado" prometido, além de trazer riscos cirúrgicos como problemas de cicatrização, infecções e até deformidades. A Sociedade Brasileira de Urologia contraindica cirurgias para aumento peniano, já que não há prova científica de eficácia e segurança.

Sem tratar os aspectos emocionais que estão na base da insatisfação genital, entender as pressões estéticas escalonadas pelas redes sociais e adequar expectativas é possível que, mesmo realizando alguns procedimentos em busca da melhora estética, as pessoas sigam infelizes com seus corpos. Importante lembrar que a psicoterapia pode ser uma poderosa aliada na busca de respostas para essas questões.