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Jairo Bouer

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Sexo anal, aumento do pênis e outras preferências nacionais

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Imagem: iStock

Colunista do VivaBem

14/07/2021 04h00

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A última semana foi pródiga em celebridades contando algumas das suas aventuras e experiências sexuais que, é claro, ecoam muitas das curiosidades e práticas que se vê aqui no país. Se de um lado é bom que influenciadores possam descrever motivações e desejos, é interessante que se possa contextualizar eventuais cuidados e riscos envolvidos nessas experiências.

MC Loma, por exemplo, contou um episódio passado em que desmaiou durante a prática de sexo anal com um parceiro. O afoito rapaz teria "invadido" a área sensível com certa avidez e acabou provocando um reflexo de dor tão intenso que levou a MC a desmaiar e ter dificuldade até de andar após o ato.

A tríade clássica defendida pelos especialistas para o sexo anal é: proteção com camisinha, lubrificante à base de água ou silicone e, um elemento frequentemente esquecido na prática, muita calma nessa hora.

Muita calma nessa hora

O ânus é um orifício composto por dois músculos de formato circular, os esfíncteres externo e interno. O externo possui controle voluntário, ele relaxa e abre quando vamos evacuar. O interno tem controle involuntário, ou seja, não se consegue abrir quando a gente quer. Para o sexo anal sem dor é importante que os dois estejam relaxados de forma simultânea, daí a importância da calma e do início da penetração bem lento, para que haja tempo dessa resposta adequada.

O lubrificante facilita o processo, já que o ânus não tem a mesma lubrificação natural da vagina. O desejo e consenso dos parceiros em fazer sexo anal também são fundamentais para esse relaxamento. Consultar um médico, caso a dor persista apesar desses cuidados, é essencial para descartar outras questões da saúde do ânus como fissuras, hemorroida trombosada e infecções como herpes, entre outros. Na última semana, o médico cirurgião digestivo Vinicius Lacerda Ribeiro publicou um texto bem esclarecedor e atual sobre o tema no site Doutor Jairo.

Exercícios com fisioterapia da região pélvica para facilitar o relaxamento e o uso de acessórios específicos também podem facilitar a vida de quem quer fazer sexo anal e enfrenta dificuldades. Para quem não usa camisinha de forma regular também é importante consultar um profissional de saúde para discutir testagens regulares de ISTs (infecções sexualmente transmissíveis) e o uso de alguma forma de prevenção combinada ao vírus HIV como a PrEP (profilaxia pré-exposição).

Quero ser grande

Outro tema que "bombou" na semana foi a cirurgia de aumento peniano (faloplastia) do cantor sertanejo Tiago Silva por motivações estéticas. Esse tipo de procedimento não é, via de regra, recomendado pela Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), a não ser para problemas reais de saúde sexual masculina, como o caso do micropênis.

Não existe ainda evidência científica dos benefícios desse tipo de cirurgia, os resultados tendem a ser modestos, além do risco de complicações como deformidades, infecções e impactos na vida sexual dos homens.

Existem várias técnicas "vendidas" como efetivas para esse objetivo que vão desde secção do ligamento que liga o pênis ao púbis, remoção de gordura ao redor do pênis, injeção de gordura no corpo do pênis, aplicação de substâncias sintéticas, colocação de uma peça de silicone ou até o uso de uma prótese.

A questão é complexa porque muitos homens gostariam de ter um pênis maior, da mesma forma que muita gente gostaria de ser mais alta ou mais forte. Acontece que esse desejo é, muitas vezes, motivado por uma percepção equivocada de que maior é melhor ou de que ter um pênis grande implica mais virilidade ou um desempenho sexual mais impressionante.

Na vida real, em geral, nada disso se confirma. Além de que muito homens podem ter um quadro de dismorfia corporal e passar a acreditar que seu pênis é pequeno apesar de ele ser absolutamente normal e estar dentro da média do tamanho de um pênis (de 12 cm a 15 cm em ereção, de acordo com a maior parte das pesquisas).

Se um pênis que parece pequeno para o homem pode gerar questões de autoestima, por outro lado, a expectativa irreal pode desaguar em quadros de ansiedade, depressão e busca por procedimentos arriscados e pouco efetivos. Nesse aspecto, seria melhor trabalhar a saúde emocional do que investir em técnicas ainda não aprovadas.

Dentro dessa mesma perspectiva, publicamos recentemente no Instagram uma dúvida de um homem que buscava procedimentos para aumento do seu saco escrotal, porque o considerava pequeno. Na esteira dos métodos estéticos para aumento do pênis, também têm sido ofertadas técnicas para aumento dessa parte da anatomia masculina, igualmente sem o devido respaldo das autoridades médicas e dos métodos científicos.

Fica sempre aquele questionamento: por que aumentar, ser o maior, ser o melhor, impressionar pelo tamanho e pelo desempenho ainda são temas tão caros para tantos homens na construção da sua identidade masculina. Precisa de tudo isso?