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Alexandre da Silva

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Vidas idosas importam: a solidão na velhice precisa de suporte social

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Imagem: iStock

Colunista do UOL

25/04/2022 04h00

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É ainda muito frequente a situação na qual a pessoa que envelheceu fique sozinha e, por mais que tenha se dedicado ao "cultivo" de boas amizades e relacionamentos (sim, feito um jardineiro que cuida adequadamente de suas plantas e árvores), ainda assim essa pessoa agora idosa envelhece sozinha, sem a presença diária de tantas outras pessoas que gostam dela.

E esse estar sozinha pode ser algo de um ano todo, quando familiares e amigos moram muito distantes, de um mês todo, quando não há mais o dinheiro para aquelas viagens quinzenais que familiares realizavam para a casa da sua mais velha.

Pode ser semanal, quando a filha passa a semana toda na casa da patroa e netos e netas, ainda muito pequenos, ficam na casa de vizinhos. E ainda pode ser o dia todo, se toda a família está envolvida em atividades de trabalho e de estudo.

E aqui não incluo as situações de violência, que já seriam motivos suficientes para o empobrecimento do seu suporte social. Entende-se suporte ou apoio social o resultado das relações sociais que possibilitam a ajuda financeira ou com alimentos, o auxílio nas atividades domésticas, nos deslocamentos de um lugar para outro, na obtenção e compreensão das informações das mais diferentes naturezas e finalidades e no lado afetivo, seja para o amor, encorajamento ou outros sentimentos.

E uma das causas dessa possibilidade de estar sozinho e com um suporte social precário é a insuficiência familiar, um dos grandes problemas públicos que afeta muitos países e impede que pessoas idosas ainda possam viver bem.

A insuficiência de familiares e amigos para esse suporte social e nesse momento da vida de idosas e idosos passa desde os planos bem-sucedidos para que filhos e filhas alcançassem o sucesso e reconhecimento profissional merecidos, e agora vivam em um outro estado ou país, mas também pelas mortes precoces de familiares, ou a trajetória de vida de muitas pessoas idosas que a impossibilitou de criar amigos.

Há famílias que, por amor, por respeito ou pela falta de dinheiro para a contratação de uma pessoa cuidadora, tentam se organizar para esse cuidado diário à pessoa idosa. Mas nem sempre dá certo. Pode ser a filha mais velha que, agora divorciada, precisa ainda mais trabalhar para "honrar" seus compromissos financeiros; é a neta mais velha que conseguiu aquele curso técnico tão importante, ainda que duas horas distante da sua casa, mas que garantirá chances mínimas para o tão esperado primeiro emprego; é a companheira ou companheiro já mais velho e com sérias dificuldades de locomoção e dores incessantes nos ombros que, mesmo com a abundância de vontade de ajudar, quando o faz, são dois ou três dias de muito sofrimento físico; ou a nora que, desempregada, só acumula funções na casa: faxina, cuidado com suas crianças mais novas, da própria mãe, do sogro e, prevendo já o futuro, da sogra que já apresenta sinais frequentes da perda de memória.

Os exemplos poderiam ser infindáveis e, muitos envolvendo as mulheres, de todas as idades. As mesmas mulheres que, com políticas públicas adequadas ou com a imposição das suas vontades e direitos, procuram cada vez mais sua inserção no mercado de trabalho, seu crescimento profissional e aperfeiçoamento técnico. Esse é outro desafio que futuros e futuras candidatas precisarão enfrentar.

Então o que se precisa pautar como um assunto urgente para as próximas eleições é como resolver o problema do cuidado, ou falta dele, e que afeta não apenas as pessoas idosas, mas também de quem cuida delas, além de familiares, amigos e comunidade?

Especialistas do Brasil e de outras partes do mundo vêm alertando seus países sobre a necessidade da criação e ampliação de serviços para pessoas idosas que, sozinhas ou com uma limitada ajuda de outras pessoas, precisarão de apoio para a realização de suas atividades de vida diária, dessas que envolvem as atividades de autocuidado dentro da própria casa, como comer, andar pela casa, sentar e levantar, até aquelas atividades realizadas fora de casa, como sair para fazer compras, subir uma ladeira e ir trabalhar.

Não bastará a criação de um serviço, sem os profissionais necessários contratados e devidamente treinados. Não adiantará também pensar que quem quiser que procure esse serviço. Será também parte desse serviço o planejamento de um sistema de transporte e de logística para famílias que não conseguem realizar esses deslocamentos com a pessoa idosa.

Assim, é esperado que União, Estado, municípios e outras instituições nacionais e internacionais se articulem para pensar em serviços que possam contribuir para essa condição que demanda cuidados de longa duração e reduzam os cuidados com situações que se agravam pela ausência de um serviço que acompanhe não apenas a evolução de uma doença, mas sim sua condição de vida em geral, que engloba também o cuidado com a saúde, mas que pense na socialização, na aprendizagem ao longo da vida de velhos e velhas e resgaste ou manutenção da vontade de viver e com propósitos de vida que ainda precisarão ser alcançados.

Na hora do voto, que está logo aí, procure ainda mais conhecer a candidata ou o candidato que terá um compromisso em melhorar a vida das pessoas idosas, de seus familiares e de pessoas cuidadoras.

Não deixe para última hora a escolha de quem poderá também contribuir para isso. Acompanhe o Movimento Velhices Cidadã, que construiu uma declaração para o povo brasileiro em geral e também para candidatos, e saiba mais sobre as demandas e direitos que toda pessoa idosa precisa.

Não se esqueça de que, desde o começo da leitura desse texto, você envelheceu um pouco mais e não pode achar que isso nunca acontecerá com você ou com alguém que goste e esteja também envelhecendo diariamente.

Nossa velhice precisa ser tão prazerosa e digna quanto qualquer outra fase da nossa vida. Vidas idosas importam e precisam ser cuidadas adequadamente.