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A vida é curta pra não surfar: coletivos de mulheres querem te levar ao mar

As garotas do Surf Nelas juntas, rumo ao mar - Divulgação
As garotas do Surf Nelas juntas, rumo ao mar Imagem: Divulgação

Natália Leão

Colaboração com Universa

13/10/2019 04h00

Garota, a vida é muito curta pra você não surfar! Com essa frase as Gals at The Sea fazem um convite para que mais mulheres se juntem a elas. O apelo é dos coletivos de surfe feminino, criados e multiplicados pelo Brasil por mulheres dispostas a mudar a cara do esporte amador.

Sabe aquela história de homens surfando e mulheres tomando sol na areia? Passado. "Até pouco tempo atrás, o mar era dominado pelos homens. As mulheres sempre tiveram um papel coadjuvante, como a gata da praia na areia vendo o namorado pegando onda", diz Cristiane França, uma das criadoras do coletivo Gals at The sea.

Mas isso está começando a mudar. "Vemos cada vez mais mulheres começando a surfar, viajando em busca de ondas juntas e explorando seus limites", ela conta. É verdade que ainda estamos longe da equidade de gêneros no mar, mas quando uma mulher vê outras quebrando essa barreira, uma onda começa a ganhar força.

Mas eu não sei surfar, não levo jeito, não sou boa

Coletivo de surf feminino 2 - Daniel Cruz/ Divulgação - Daniel Cruz/ Divulgação
Expor o corpo é o que impede várias mulheres de encararem o esporte; não as do Clinic Surf Girls
Imagem: Daniel Cruz/ Divulgação

Esses são os primeiros questionamentos de quem considera a ideia de se juntar a um desses grupos. "Muitas vezes não encaramos as coisas por vergonha, por nos acharmos destrambelhadas e sem jeito, por nos acharmos gordas ou magras demais, ou qualquer outro motivo que nos impeça de experimentar. Todas nós temos algum lado que precisa de um apoio", diz Cristiane.

Aí está a beleza dos grupos só para mulheres: cercada de semelhantes, com os mesmos medos e necessidades, receberá apoio e incentivo a cada remada. "Nos coletivos, nós acreditamos no potencial de cada mulher, sem julgamentos e discriminações. A partir da nossa atitude, elas começam a acreditar nelas mesmas e que é possível", confirma Suelen Naraísa do Girls Surfing Experience.

Prancha, parafina e água fresca

Coletivo de surf feminino 3 - Hermann Cockles/ Divulgação - Hermann Cockles/ Divulgação
Os coletivos, como Todas para o Mar, oferecem os materiais e estrutura que você precisará para começar
Imagem: Hermann Cockles/ Divulgação

Uma vez tomada a decisão de se jogar em uma dessas aulas, vem a preocupação com a estrutura e os equipamentos."Quando eu comecei a surfar, vi que não haviam muitas mulheres surfando, então sempre que encontrava alguma na água fazia amizade para ter companhia. Com o tempo, percebi que haviam muitas que tinham vontade de aprender mas não sabiam como começar. Então, criei uma escola de surf feminino com aulas no Rio de Janeiro e viagens pelo Brasil", conta Mariana Vervloet, coach de surfe na Brasil Surf Girls.

Como a proposta desses grupos é convidar mais gente, elas oferecem toda a estrutura de que você precisa: pranchas adequadas para o seu nível, professoras prontas para ajudar e acompanhar, entre outras facilidades como água, lanches e uniformes.

Ninguém solta a mão de ninguém

Coletivo surf feminino 4 - Divulgação - Divulgação
Do Longarina: coletivo fortalece e protege para que nenhuma mulher se sinta sozinha
Imagem: Divulgação

Começar uma atividade nova, frequentar um ambiente desconhecido, encarar um novo desafio são tarefas difíceis. Fazer isso tudo sozinha é quase impossível. Por isso, os grupos têm sido facilitadores. "No coletivo a gente se fortalece, o grupo cria uma bolha protetora. Dentro do mar, ombro a ombro, a gente fica mais potente, a gente pode tudo. Lá, mulheres que nunca experimentaram tanta liberdade se empoderam. Vão descobrindo sua força juntas e levam isso do surfe para a vida, para as relações pessoais e de trabalho", diz Van Pandro Barteli, uma das fundadoras do coletivo Longarina.

E se você já tentou surfar sozinha, em grupos mistos ou até só com homens e não se sentiu confortável, talvez seja a hora de dar mais uma chance ao esporte, desta vez em um ambiente em que se sinta bem. "Encontrar uma escola ou um grupo que ofereça um bom processo pedagógico, um acolhimento adequado, em um local propício de ondas para iniciação é um passo muito importante para quem está começando.

Muitas vezes, as pessoas que iniciam sozinhas passam por experiências desagradáveis por não terem noções básicas de segurança", diz Gabriela Carreiro, coach do curso Tow-in para mulheres Pacelli Tow Surf Class.

Se eu posso isso, posso tudo

coletivo surf feminino 5 - Bruna Veloso - Bruna Veloso
"O surfe faz a mulher se desafiar o tempo todo e quando consegue superar desafios no esporte, entende que consegue tudo"
Imagem: Bruna Veloso

Elas relatam que depois que se entra no mar com uma prancha, passa a arrebentação e rema em uma onda, é possível acreditar que é capaz de encarar muitos outros desafios. "O surfe faz a mulher se desafiar o tempo todo, entrar em mares diferentes. Quando você vê que consegue fazer aquilo, se superar no esporte, entende que consegue tudo", diz Valéria Gava, uma das fundadoras do Surfnelas.

E não é só uma questão de coragem, o esporte é capaz de desenvolver habilidades úteis em diversas áreas da vida. "O surfista se beneficia de experiências positivas e reconhece através disso o próprio potencial, desenvolvendo habilidades psicológicas como concentração, atenção, autoconfiança, diálogo interior, entre outras.

Através do esporte, é possível traçar objetivos, vislumbrar oportunidades e desenvolver e fortalecer a autoestima. Compreender a capacidade do fazer, superar e persistir pode modificar e transformar a vida das pessoas", diz Cabriela Crarreiro que, além de coach do curso Tow-in para mulheres, é psicóloga esportiva.

Liberdade pra dentro da cabeça

Coletivo de surf feminino 6 - Divulgação - Divulgação
Surfe: um caminho para encontrar um tempo só para você, como as meninas do Clinic Sufr Girls
Imagem: Divulgação

Entre as tentadoras oportunidades que o surfe proporciona, segundo as praticantes, está a liberdade de ter um tempinho só para você, sem pensar no trabalho, nos filhos, na lista de tarefa. "O esporte é a maneira mais prazerosa de entender o próprio corpo e os limites dele. Sendo assim, enquanto no feminismo discutimos a liberdade dos corpos das mulheres, no esporte tomamos consciência desse corpo. Desse corpo socialmente inferiorizado, violentado e muitas vezes abusado. Esse mesmo corpo encontra no mar um espaço seguro e confortável para ser. E isso é libertador!" reflete Nuala Costa, uma das fundadoras do coletivo TPM - Todas para o mar.mizade de surfe sobe a serra

Coletivo de surf feminino 7 - Divulgação - Divulgação
Amizade no To win: o que o mar uniu, ninguém separa
Imagem: Divulgação

"As mulheres são mais dispostas a ouvir, aprender, dividir experiências. Muitas vezes os homens, por vergonha, sentimento de superioridade, ou algo parecido têm um discurso de: não preciso de você, vou aprender sozinho. Talvez por isso nos entre os meus alunos os homens adultos sejam só 20%, já as mulheres adultas estão cada vez mais presentes. Hoje eu vejo mulheres que se conheceram em aulas e eventos se tornarem amigas dentro e fora do surfe e partindo para surfar juntas, por conta própria", diz Leonardo Fróes, um dos fundadores do evento de surfe para mulheres Clinic Surf Girls.

E aí, se convenceu de que a vida é muito curta para você não surfar?

Com quem surfar?

Gals at the sea (@galsatthesea)

Longarina (@longarinaoficial)

Surfnelas (surfnelas)

Girls Surfing Experience (@girlssurfingexperience)

TPM - Todas para o mar (@tpmtodasparaomar)

Brasil Surf Girls (@brasilsurfgirls)

Pacelli Tow Surf Class (@pacellimodel)

Clinic Surf Girls (@clinicsurfday)