Ela viajou 15 vezes trocando de casa e hoje ganha dinheiro com o negócio
Andrea Aguiar, 51, descobriu o sistema de troca de casas em 2004 e se apaixonou pela possibilidade de aproveitar a viagem como uma local e, melhor de tudo, pagando apenas pela passagem aérea. Após 15 trocas nos últimos 14 anos, ela criou a primeira plataforma em português desse segmento.
“Eu sou tradutora, formada em letras, por causa da minha paixão por viagens. Escolhi uma profissão que me permitisse trabalhar de qualquer lugar. Já faz muito tempo que eu inicio o meu ano já programando as viagens que farei nos próximos 12 meses. Acho que desde que fiz meu primeiro intercâmbio, aos 16 anos. Fui para os EUA, voltei e, depois, todo dinheiro que eu ganhava era para ser gasto em viagens.
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Quando mais nova, eu viajava de qualquer jeito, sem preocupação com muito conforto. Viajava mesmo sem dinheiro. Mas quando fiquei mais velha e tive filho ficou mais complicado me hospedar em qualquer lugar. Ao mesmo tempo que eu tinha que pensar na economia, precisava de segurança e conforto. Foi quando descobri o esquema de troca de casar, fuçando na internet.
Eu moro no Rio de Janeiro, mas quando comecei a usar sites gringos de troca de casas era uma dificuldade. Os sites não davam opção no Brasil, eu tinha que mandar várias mensagens para outros proprietários e tentar criar um vínculo de confiança, que os fizesse querer trocar de casa comigo.
Fiz a primeira troca em 2004, para San Diego, na Califórnia. Naquela época nem existia esse termo de economia colaborativa, foi só uma forma que encontrei de gastar menos. O princípio da troca de casas é fazer o seu imóvel ser útil quando você não está utilizando ele. E não precisa trocar de casa com a outra pessoa ao mesmo tempo, você pode ir primeiro para lá e ela fica com crédito para ir a sua casa em outro período. Tem uma confiança nessa negociação que é muito legal.
Como você só paga a passagem, pode fazer uma viagem mais longa. Eu já fiz 15 trocas de casas nesses 14 anos. Já estive em todos os continentes, fui pra França, Nova York, Londres, Cidade do Cabo, Milão... A última troca de casa que fiz foi para Austrália. Foi quando meu filho mais velho, de 22 anos, passou na faculdade e fizemos uma viagem comemorativa em família. Ficamos 40 dias lá e trocamos de casa quatro vezes pelo país.
Não pagar hospedagem te deixa menos ansiosa, porque quando estamos pagando um hotel tem sempre uma preocupação de não estar curtindo o local o suficiente. Mas ao mesmo tempo, você quer explorar o destino, ir para a rua. Sem pagar por isso, as férias ficam mais leves. Muitas vezes eu trabalhava de lá.
E tem uma coisa muito legal que é não estar restrito a área turística. Você se hospeda em bairros residenciais. Acorda de manhã, abre a porta e tem um jornal ali. Você vê pessoas saindo para trabalhar, crianças indo para escola, você repara como eles jogam lixo fora... É uma imersão no dia a dia de quem mora ali. É um turismo de mais qualidade.
A gentileza é um pilar da troca de casas, então, já fui muito bem tratada nessas hospedagens, com cesta de frutas e bilhetes com dicas do que fazer no local. Um francês que se hospedou na minha casa deixou desenhos dos filhos espalhados pelo ambiente, para agradecer a hospedagem. É muito legal.
Você pode viver algumas trapalhadas também, por não estar num hotel com recepção. Na Escócia, lembro que a proprietária me recebeu e me deu a chave da casa. Depois eu saí, voltei e não lembrava exatamente qual daquelas casas iguais era a minha. Fiquei um tempão tentando abrir a casa errada. Na Austrália, demorei para encontrar a chave, porque o proprietário disse que estaria na casinha do cachorro, mas estava jogada no jardim. Essa aventura também torna a viagem mais legal.
Apaixonada por esse estilo de viagem, quando completei 50 anos, quis investir em algo que eu acreditava. E em algo que eu sentia falta no Brasil. Comecei, então, a estudar todos os sites de troca de casas que existiam no mundo e a pensar em como adaptar ao Brasil. Foi um ano entre estudo e concretização até nascer a Be Local Exchange, a primeira plataforma online de troca de casas em português. A empresa é minha e de mais duas sócias.
O nosso primeiro desafio, sem dúvida, foi pensar em uma solução para o sentimento de insegurança que todos nós brasileiros temos ao realizar esse tipo de transação. Permitimos a troca de mensagens entre proprietários – o brasileiro gosta muito de conversar -, ligamos para cada um durante as trocas e temos um sistema de verificação de identidade. Mas como não existe uma troca financeira, isso desestimula os golpes – muitas das fraudes pedem depósito, aqui não há dinheiro envolvido.
Também faço uma espécie de match de casas. Quando se cadastram no site, a gente faz um trabalho de “Tinder das casas”, cruza informações de cada perfil e sugere trocas. É um trabalho necessário para que a gente lucre também, já que só cobramos a anuidade de estar no site – R$ 260 – quando é realizada a primeira troca. Já temos mais de mil imóveis cadastrados na China, França, Suíça, Venezuela, Estados Unidos, Chile, Argentina, Peru, Portugal e Austrália. No Brasil, há casas no Rio de Janeiro, Fortaleza, Recife, Santa Catarina, Maceió, João Pessoa, Cuiabá, Natal, Belo Horizonte, São Paulo e Bahia.
O site entrou no ar em 2016 e só este ano passei a me dedicar somente a ele. Até então, ainda trabalhava como tradutora. Eu fiz um planejamento financeiro, considerando que ficaria de três a quatro anos com uma renda menor. Financeiramente, o site começou agora a se tornar razoável, mas ainda tiro menos do que como tradutora.
Nos últimos meses, tivemos um aumento significativo de trocas de casas pelo Brasil. Tem gente do litoral de São Paulo trocando casa com morador de Poços de Caldas, por exemplo. Santa Caterina é o estado com mais cadastros, eles se abriram muito para a ideia desde o começo. Depois deles vêm São Paulo e Rio de Janeiro.
A troca de casas tem pontos mais positivos do que negativos. Mas quem tem um nível de exigência de limpeza muito alto pode se incomodar no exterior. Porque somos mais limpos do que os estrangeiros, até por conta da nossa cultura. Eles não têm serviços domésticos como nós, então, nem sempre os cantinhos da casa são bem limpos.
Para mim, viajar traz alegria, renovação, abre a mente e os horizontes. Você sai como uma pessoa e volta outra. E não precisa ser algo só para quem tem dinheiro, é nisso que eu acredito. Você não tem que estourar seu cartão de crédito para viajar, só precisa ser mais criativo, assim como eu sempre fui.”
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