Com planejamento, é possível pedir demissão em tempos de crise
Baixa remuneração, carreira estagnada, falta de qualidade de vida, atritos com chefes e o desejo de investir na carreira de empresário costumam ser os motivos mais citados pelas pessoas que pedem demissão. Mesmo em tempos de crise econômica.
A assistente de vendas Mônica Cristina Silva de Andrade, 30, saiu da empresa que trabalhava há três anos, em novembro de 2015, por não enxergar expectativas de crescimento, ainda que se esforçasse para assumir um cargo maior. “A pressão era enorme e o retorno quase nulo. Chegou um ponto que eu não sentia vontade alguma de trabalhar, ficava doente com frequência e não conseguia mais atender os clientes”, conta.
A insatisfação com o emprego se arrastava desde o fim de 2014, mas ela decidiu aguentar para ver se o cenário interno mudava e também por medo da instabilidade. “Meus antigos supervisores enfatizavam a crise econômica o tempo todo. Eles diziam que seria difícil achar uma vaga, que as empresas estavam demitindo em vez de admitir”, afirma.
De acordo com a psicóloga Cristiane Moraes Pertusi, doutora em psicologia do desenvolvimento humano pela USP (Universidade de São Paulo), em momentos de crise, é comum se deixar levar pelo pessimismo e pela desesperança. Essa atmosfera derrotista dificulta tomadas de decisões mais criativas. Mas, em situações de extremo desconforto, é essencial se posicionar.
“A demissão é a única saída quando se torna um sacrifício estar na empresa, quando você passa a se isolar e fica com a autoestima profissional extremamente baixa”, diz a psicóloga.
Esse era o caso de Mônica, que pediu demissão e se comprometeu a cumprir o aviso prévio. “Nessa fase, comecei a mandar currículo e me inscrevi no Sindicato do Comércio Varejista do ABC. Durante o aviso mesmo já consegui um emprego novo, com carga horária menor e salário maior”, diz.
Mais oportunidades e menos riscos
Em época de crise, ser menos impulsivo é um comportamento comum e apropriado, segundo a psicóloga Edna Rodrigues Bedani, da Associação Brasileira de Recursos Humanos.
“Quando o mercado está mais aquecido de oportunidades, as pessoas pedem demissão com mais facilidade. Mas, em momentos de crise, mesmo as que recebem propostas, perguntam-se: vale a pena mudar? Porque elas sabem que, na hora do corte, as pessoas mais novas nas empresas geralmente ficam mais vulneráveis”, declara.
Segundo a especialista, o ideal é sempre procurar emprego e só depois pedir demissão. Também é preciso checar se aquilo que torna o trabalho atual insatisfatório poderá ser diferente em outras empresas.
“Conheço muita gente que saiu e depois de seis meses pediu para voltar, porque achou que a grama do vizinho era mais verde, mas era a mesma coisa”, diz Edna.
Na busca por oportunidades, vale enviar currículos, cadastrar-se em sites de vagas e contatar antigos colegas de trabalho.
“Muitas organizações divulgam internamente as vagas disponíveis e recebem indicações dos próprios colaboradores. Esse é o canal preferido de muitas empresas”, diz a psicóloga. Mas, enquanto estiver empregado, esse é um movimento a ser feito com cautela. Deixe para fazer contatos nos momentos de folga, preferencialmente do computador ou celular pessoais.
Se quiser sair, mesmo sem ter uma vaga garantida, uma reserva financeira será útil. “A pessoa tem de ter uma retaguarda, se não for uma reserva, um parceiro ou familiar que possa ajudar, pelo menos temporariamente”, diz Cristiane.
Enquanto a outra vaga não aparece, é importante manter o bom desempenho profissional, diz a psicóloga Maria Beatriz Dias Conversano, sócia diretora da DCR Consultoria em Recursos Humanos.
“Ter uma imagem profissional a zelar pode ser um motivo para continuar trabalhando bem. Mesmo em momentos de crise, há grandes oportunidades para profissionais que aceitam desafios”, diz.
Maria Beatriz reforça que não se pode contar com a sorte. “As oportunidades surgem, mas é preciso estar preparado para elas”, afirma Maria Beatriz.
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