Home office é tendência, mas há gestores que são contra o modelo
"O home office não é um modismo, é uma tendência", afirma Joel Souza Dutra, docente da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP (Universidade de São Paulo). Uma pesquisa recentemente divulgada pelo Top Employers Institute, empresa que certifica as práticas de RH de maior relevância, em todo o mundo, reforça a afirmação do especialista.
O estudo apontou que, em 2013, 15% das companhias brasileiras instituíram o modelo para os seus colaboradores; em 2012, esse índice foi de 6%. E, apesar do crescimento de 150%, o número ainda é baixo, se comparado a outros países: 65% no Reino Unido, 60% na Holanda e 58% na Alemanha, conforme o estudo divulgado este ano.
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No entanto, trabalhar em casa –de forma permanente ou alguns dias na semana– não é tão fácil quanto parece. É preciso planejamento, disciplina e uma mudança cultural profunda para que o modelo realmente funcione e os resultados continuem sendo satisfatórios.
Uma pesquisa recente da Robert Half, líder mundial em recrutamento especializado, apontou que os gestores brasileiros ainda têm resistência em investir no home office. A principal dificuldade, para eles, é coordenar a equipe remotamente, item apontado por 47% dos profissionais ouvidos.
Além disso, 42% alegam que determinados cargos requerem presença física; 19% afirmam que o modelo é ineficaz devido à demanda do negócio; 15% confirmam que faltam recursos para colocar o modelo em prática e 12% acreditam que o sistema interfere na capacidade de o funcionário trabalhar em equipe.
Para Dutra, o maior desafio é abrir mão da cultura de controle, substituindo-a pela confiança no outro. "É uma experiência nova, que implica investimentos e experimentações, até chegar a um modelo que se adeque à realidade da empresa e a de seus funcionários”, diz o especialista da USP.
Segundo Adriana Gomes, mestre em psicologia social e do trabalho e coach reconhecida pela ICC (International Coach Community), antes de apostar nesse sistema, é importante avaliar se a empresa oferece estrutura e, em especial, se o funcionário tem perfil para desenvolver suas funções à distância.
"Para trabalhar em casa de forma eficiente, o indivíduo precisa concentrar-se nas tarefas e nos resultados, administrar bem o tempo, manter a automotivação e conseguir produzir isoladamente", afirma Adriana. E para que tudo isso funcione corretamente, disciplina é a palavra-chave.
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Transição deve ser gradual
No ano passado, o Yahoo!, empresa de serviços de internet, convocou cerca de 11.500 funcionários que trabalhavam remotamente para retornarem à rotina na sede da empresa, na Califórnia (EUA). Na época, o argumento foi o de que, atuando de casa, eles estavam rendendo menos e entregando um trabalho de qualidade inferior.
De acordo com Mário Custódio, gerente de divisão da Robert Half, essa iniciativa segue na contramão da tendência, já que empresas do mundo inteiro estão buscando alternativas para migrarem para o trabalho em casa. “É preciso compreender que a proposta não é trocar um sistema pelo outro. Radicalizar não funciona. A transição deve ser gradual”, diz.
Na Ticket, empresa de benefícios ao trabalhador, o modelo remoto foi implantado em 2006 e, atualmente, 160 colaboradores da área comercial atuam neste sistema. Os funcionários que participaram do programa contaram com um treinamento específico, que incluiu a família. O intuito era ajudar não só o funcionário como todos os que convivem com ele a separarem o ‘morador’ do ‘profissional’.
“Ao trabalhar remotamente, a pessoa precisa ter uma estrutura adequada para desenvolver suas atividades e, em hipótese alguma, pode haver interferência da família”, avisa Dutra.
De acordo com Rosalina Micheletto, diretora da ABRH (Associação Brasileira de Recursos Humanos), o espaço escolhido para o escritório remoto tem de ser tranquilo, permitindo que o funcionário atenda telefonemas sem interferências e participe de reuniões por videoconferência. “Por isso, a aparência é essencial. A pessoa deve adotar a rotina de arrumar-se como se fosse sair para o trabalho, todos os dias”, diz Rosalina.
Além disso, trabalhar em casa não deve significar ausentar-se totalmente da empresa. “A passagem deve ser amena, com o menor impacto possível”, declara Rosalina. A definição da periodicidade do trabalho remoto varia de acordo com a empresa, a função e o perfil de cada funcionário. “O ideal é organizar grupos pequenos e apostar em ir realizando os ajustes necessários, aos poucos”, comenta a diretora da ABRH.
As relações interpessoais também devem ser mantidas. Portanto, equilibrar trabalho remoto e presencial é importante, principalmente na fase inicial. “O total afastamento é prejudicial para a empresa e para seus funcionários”, diz Rosalina.
Segundo os especialistas, quem adotou o modelo com planejamento e cuidado vem obtendo bons resultados. Na Ticket, pesquisas internas indicam que o modelo proporciona mais concentraçã nas metas diárias, semanais e mensais. E que o colaborador fica ainda mais próximo dos gestores e dos demais colaboradores, devido à troca constante de informações e alinhamentos via rede.
“Adotar o trabalho remoto é uma alternativa interessante e o novo formato, desde que bem estruturado, tem tudo para dar certo e ser bem aceito”, finaliza Dutra.
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