Quando chega aos seus ouvidos alguma história sobre você no trabalho, e que não é verdade, sentir raiva é inevitável. Mas é preciso esfriar a cabeça e avaliar os possíveis efeitos do boato na sua carreira, para poder agir certo, na hora certa.
"A primeira coisa a fazer é descobrir se a informação procede, o que querem dizer com ela e se o comentário surgiu com ou sem má intenção", diz Maria Cecília Coutinho de Arruda, professora da EAESP da FGV (Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas).
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"É evidente que os mentirosos estão à solta", afirma o comentarista e âncora do programa Mundo Corporativo, da rádio CBN, Milton Jung. "A mentira é inerente ao ser humano e muitas vezes a garantia de sobrevivência nas corporações".
Há quem minta para agradar e os que mentem para escapar de situações constrangedoras; aqueles que querem prejudicar alguém e os que pretendem se beneficiar. "Há mentiras aceitas socialmente e outras reprováveis", diz Milton.
Para a psicoterapeuta, presidente da Quantum Assessment e autora do livro "SobreViver – Instinto de Vencedor" (Editora Saraiva), Claudia Riecken, a pessoa que tem o hábito ou a intenção de machucar o outro pode ser chamado de ‘invalidador’. A mentira é uma de suas formas de expressão em desfavor da vítima.
"Invalidar é tirar a validade de alguém, diminuí-lo, desprezá-lo, mostrá-lo como errado, incompleto, tolo, menor. Infelizmente, todos somos, em menor ou maior grau, propagadores da invalidação", diz a autora.
Por que mentir?
As respostas são várias: vão desde a inveja ou a diferença de valores éticos, políticos e morais, até a vontade deliberada de estragar a vida do outro. Quando você é vítima de uma mentira, a dica é evitar que ela se propague.
"Se a vítima tem um pouco de afinidade com a pessoa que conta a mentira, a primeira saída é conversar com ela", diz Maria Cecília. Revele que soube dos comentários, pergunte o que ela quis dizer com tudo aquilo, de forma pacífica, para esclarecer o problema.
"Tudo poderá se resolver, mas se a reação do mentiroso for agressiva, é bem provável que o fofoqueiro seja ele mesmo e que suas intenções não sejam boas. Se o interrogado tenta fugir do assunto, insista", diz a professora da FGV.
Se uma conversa não resolve
Se a situação não puder ser resolvida com uma conversa, o caminho mais comum é procurar o departamento de Recursos Humanos. "O problema é que esse é um tema difícil de ser abordado no ambiente corporativo, e os RHs não estão preparados para lidar com ele", afirma Claudia. Segundo ela, essa deficiência permite a formação de panelinhas que cada vez mais usam desses artifícios para subir nas empresas.
Quando o problema é com colegas mentirosos, a fórmula é simples: ria das mentiras engraçadas e releve as brandas. Se forem graves, denuncie ou se afaste do mentiroso, para não terminar contaminado.
É preciso ter cautela quando o propagador de mentiras for o chefe, diz a professora da FGV. "Ir ao RH não significa fazer fofoca sobre as mentiras alheias, mas investigar qual é o comportamento mais indicado nessa situação".
Segundo Claudia Riecken, o RH é o canal formal de orientação de funcionários, principalmente quando as mentiras partem da sala da chefia. "A primeira coisa é ter certeza sobre quem está espalhando os boatos; depois, informar-se com a equipe competente para lidar com esse tipo de problema. Se não der certo, e as invalidações persistirem, parta para o ataque", diz ela.
Caso haja um código de ética da empresa, é interessante lê-lo antes de tomar qualquer atitude, prestando atenção aos direitos que se tem, a quem é possível recorrer em casos de mentiras a seu respeito.
Para Claudia Riecken, a verdade precisa ser mostrada. Um exemplo simples: "Se um colega inventa que você não sabe usar o Excel, quando tiver uma chance chame toda a equipe para uma reunião e mostre planilhas que montou com o programa. A ideia é calar a boca do fofoqueiro, deixando-o passar por mentiroso".
Não tem solução?
Se é impossível resolver o problema dentro da empresa, talvez a melhor opção seja procurar um emprego onde as pessoas se respeitem. Engolir sapo, no longo prazo, pode ser muito maléfico para a saúde física e mental. "Não permita que o problema se traduza em pressão alta, cardiopatias, depressões, pânico e reações agressivas com quem não tem nada a ver com o falatório", diz Maria Cecília.
"Quando a situação chega no limite, e depois de tentar resolver o problema internamente, a vítima poderá também recorrer à lei", diz Claudia. Para tanto, é preciso se preparar, juntando provas –e-mails, conversas, testemunhas.
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