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Nina Lemos

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Foto de homens em apoio a Tebet é símbolo de como política trata mulheres

Dirigentes de PSDB e MDB reunidos no gabinete do senador Tasso Jereissati  - Divulgação / assessoria Simone Tebet
Dirigentes de PSDB e MDB reunidos no gabinete do senador Tasso Jereissati Imagem: Divulgação / assessoria Simone Tebet

Colunista de Universa

10/06/2022 04h00

Nessas eleições, todos estão interessados no voto das mulheres. Finalmente, marqueteiros e partidos políticos perceberam que somos 52,5 % do eleitorado e nosso voto é decisivo. Ou seja, não porque eles acham que que representatividade importa ou que nossas causas são relevantes. É questão de cálculo mesmo.

Mas essa conclusão matemática tem feito com que muitos se esforcem para nos agradar. A maioria das vezes, sem sucesso. Isso porque, continuamos, quase sempre, como figurantes. E isso acontece mesmo quando somos candidatas à presidência da república.

Explico. Só existe uma mulher pré candidata à presidência, Simone Tebet, do MDB. E, pelo jeito, nem ser candidata é o suficiente para que a mulher deixe de lado o papel de figurante e pare de ser uma alma isolada em uma sala ocupada por homens brancos engravatados (a metáfora aqui é literal).

A prova: na última quarta-feira (8), o PSDB se reuniu para formalizar apoio à candidatura de Tebet na sede do Senado, em Brasília. Até aí, tudo bem. Mas a foto que foi publicada nas redes sociais para simbolizar o encontro mostrava o seguinte: nove homens brancos sentados em volta de um sofá, sorridentes, e uma tela de computador ao fundo, onde se via, com esforço, a imagem da candidata. Ou seja, ela estava presente, mas pela tela do computador. E mais nenhuma mulher foi convidada.

A foto, quando publicada no Twitter pelo jornalista Guilherme Amado, gerou muitas críticas (merecidas) e piadas.

"Não é por nada não, mas cadê as mulheres?", perguntaram. O deputado Roberto Freire, do Cidadania, respondeu da seguinte forma: "A mulher e candidata Simone Tebet na tela de vídeo conferência".

Ainda bem, né, deputado? Pelo menos isso. Ao menos ELA estava lá virtualmente, não? Só faltava a mulher candidata não estar no ato de apoio à sua própria candidatura e os homens decidirem tudo sem ela.

"Essa foto é um escárnio! O anti-poder feminino", escreveu a diplomata Irene Vida Gala. Não tem como discordar. E, como lembraram outros, a foto já veio como um meme pronto.

Podia ser só engraçado (e é mesmo) que homens tenham a cara de pau de fazer uma dessas sem nem perceber o quanto estão pagando mico. Custava convidar algumas mulheres? Custava eles irem (repito, com mulheres) ao encontro de Tebet?

Mas não é só engraçado. É também triste pensar como o espaço do poder é tão dominado por homens há anos que eles se sentem tão à vontade ao ponto de publicar uma foto dessas com naturalidade.

O colunista que publicou a foto já deu até título para o meme: "Agora há pouco, no Senado, numa reunião sobre a candidatura feminina com mais destaque nessa eleição".

Ou seja, eles realmente acham que tudo bem sentar e discutir sem mulheres "a candidatura mais feminina das eleições".

Mas o pior de tudo nem é isso. Não é difícil imaginar que existam sim, outras mulheres, além de Tebet pela tela de computador, por trás da foto. Quem será que serviu os cafezinhos e marcou a reunião?

Parem de passar vergonha, homens.