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Nina Lemos

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Mulher morta após plástica não autorizada é nova vítima da tortura estética

Raquel Huon, de 34 anos, era enfermeira e mãe de um menino de 12 anos faleceu após uma faleceu após uma procedimentos pelo médico sem o consentimento - GETTY IMAGES
Raquel Huon, de 34 anos, era enfermeira e mãe de um menino de 12 anos faleceu após uma faleceu após uma procedimentos pelo médico sem o consentimento Imagem: GETTY IMAGES

Colunista de Universa

15/02/2022 04h00

Nas redes sociais, o médico fazia propaganda de promoções do estilo: "lipo + harmonização facial pelo preço x, aproveite". Como se se tratasse da venda de um combo de hambúrguer com batata frita. Ele também chamava mulheres sem plástica de "bruxas" e falava que crianças com orelhas de abanos eram infelizes.

Trata-se do médico Renato Cazaes, que, segundo reportagem que foi ao ar no domingo (13) no programa "Domingo Espetacular", da Record, realizou procedimentos sem autorização na enfermeira Raquel Huon, de 34 anos, que morreu alguns dias depois do procedimento.

O caso aconteceu em outubro do ano passado e é chocante. Raquel teria procurado o médico depois de perder mais de 20 quilos, para fazer uma cirurgia para remover o excesso de pele nos braços (braquioplastia). Durante as consultas, ela teria sido convencida pelo médico a fazer também uma lipo. Na hora da cirurgia, ela teria ficado com medo e mudado de ideia. O médico não a levou a sério. Pelo contrário. Como tinha material sobrando, segundo os familiares da vítima, eles fizeram também uma lipoescultura, preenchimento nos glúteos e uma harmonização facial. Tudo sem o consentimento da paciente, que estava anestesiada. Sim, eles trataram a enfermeira como cobaia.

Imagina isso, você marca uma lipo no braço e acorda com o rosto transformado. Já seria horrível e injustificável, mas o caso virou uma tragédia, já que Raquel morreu dias depois por complicações da cirurgia.

Agora, a polícia investiga o caso e o médico removeu ou limitou suas contas nas redes sociais.

Quantos crimes e quanta violência existem nesse caso?

O pior de tudo. O médico não é o único a vender plásticas em redes sociais como se fosse algo banal, em promoções, parcelando a perder de vista. Esses procedimentos, que são cirurgias sérias, com riscos, onde as pessoas tomam anestesia geral, são vendidos todos os dias como algo simples e indolor. Estilo uma limpeza de pele. Esse tipo de propaganda virou algo quase banal nas redes sociais e não tem sido controlado por nenhum órgão competente.

E a enfermeira, infelizmente, também não é a primeira, nem vai ser a última, a morrer vítima dessa carnificina estética que, em vez de melhorar, tem piorado bastante com a popularização e aumento de ofertas de procedimentos.

Mais mortes

Nos últimos dois meses, foram registradas no mínimo quatro mortes de mulheres por conta de procedimentos estéticos no Brasil, país que mais realiza cirurgias plásticas no mundo (sim, o Brasil é campeão, na frente dos Estados Unidos).

Mês passado, também no Rio de Janeiro, Carla Maurício, de 48 anos, morreu por complicações após realizar uma lipoaspiração e uma abdominoplastia. No mesmo estado, em Duque de Caxias, Rosimery de Freitas morreu depois de realizar uma hidrolipo. O caso está sendo investigado pela polícia.

Também em dezembro, em Santa Catarina, a professora Roberta Lopes dos Passos, de 35 anos, morreu depois de nove dias internada por complicações de uma cirurgia plástica. A morte está sendo investigada como homicídio culposo (sem intenção de matar). No mesmo mês, em Minas Gerais, Lidiane Aparecida Fernandes, de 39 anos, morreu depois de realizar duas cirurgias plásticas. O caso está sendo investigado pelo Conselho Federal de Medicina.

São casos inaceitáveis. E não são isolados. Quantas mais vão ter que morrer vítimas desse tipo de tragédia até que a carnificina acabe?