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Nina Lemos

Gugu e Rose: não deveria ter nada de errado em ser família não-convencional

Um anos após a morte de Gugu Liberato, Rose Miriam luta para que sua relação com o apresentador seja reconhecida - Reprodução
Um anos após a morte de Gugu Liberato, Rose Miriam luta para que sua relação com o apresentador seja reconhecida Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

24/11/2020 04h00

Uma das minhas comédias românticas favoritas é um filme dos anos 90 chamado "A Razão do meu Afeto", que conta a história de um casal de amigos, interpretados por Paul Rudd e Jennifer Aniston Ele é gay. Ela, hétero, se apaixona por ele. Quando a moça descobre estar grávida (do ex namorado), eles decidem criar o filho juntos. Lembrei desse filme ao ver último capítulo da polêmica ligada a vida de Gugu Liberato.

No último domingo (22), no aniversário de um ano da morte do apresentador, os assuntos herança e seu relacionamento com Rose Mirian vieram a tona de novo. A médica deu uma entrevista ao Fantástico, na qual reafirmou que luta para ser aceita como companheira oficial de Gugu.

Os dois tiveram três filhos juntos. Apesar de nunca terem casado ou morado juntos, apareciam como família margarina em capas de revistas e pelo jeito mantiveram por 20 anos uma parceria, no mínimo, como amigos e pais (e isso não é pouco).

Rose não foi lembrada no testamento de Gugu e quer ser reconhecida como parceira dele, em união estável.

Na entrevista, ela diz, entre outras coisas, que não sabia da vida privada do apresentador. Fala também que não sentiu ciúme quando soube que o chef de cozinha Thiago Salvático afirmou ter um relacionamento com Gugu e que pediu união estável com o apresentador (Thiago acabou desistindo do processo).

A entrevista me fez achar que eles eram, sim, uma família. Mas uma "nova família", como se diz. O termo se refere a aquelas famílias que não são representadas pelo tradicional modelo de pai e mãe que dormem na mesma cama e seus filhinhos.

Quando falamos desses arranjos familiares, a gente fala do casal gay que adotou filhos (conheço vários, e são algumas das minhas famílias favoritas), mães que tiveram filhas juntas e lutam para mostrar que tudo bem uma família "não ter um pai". E - por que não? - famílias onde os pais são amigos, independente da orientação sexual do pai ou da mãe.

Afinal, se você tem três filhos com alguém e continua próximo do pai dos seus filhos vocês são uma família. Não é óbvio?

Rose e Gugu decidiram formar uma família no início dos anos 2000. De lá para cá, muita coisa mudou. A união estável entre casais do mesmo sexo foi aprovada no Brasil. E mais e mais famílias que fogem do modelinho margarina mostram a cara, inclusive famosos. Thammy Miranda e Andressa Ferreira tem o filho Bento. E o casal formado pelo ator Paulo Gustavo e o dermatologista Thales Bretas, que são pais de Gael e Romeu. Todos são assumidos, aceitos e felizes.

Talvez as coisas tivessem sido mais fáceis para Rose e Gugu se eles tivessem realizado a reunião nos dias de hoje, onde novos arranjos são mais comuns e mostrados mais abertamente.

É chato ver que a família briga e que o apresentador tem a vida exposta. Agora, que se use isso para falar de famílias que não seguem a cartilha tradicional, mas que não deixam de ser família por causa disso.

E as leis precisam se adaptar a esses arranjos. Vinte anos criando filhos juntos em uma relação de amizade configuram união estável? Como não?

Se é um desafio jurídico? Talvez sim, mas outras famílias que não seguem a regrinha também fazem as coisas mudar. Não é fácil. Exemplo: só em 2017 as certidões de nascimentos foram mudadas para que coubesse nome de dois pais ou duas mães. Pode ser devagar. Mas coisas mudam.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do que foi escrito em alguns trechos do texto, Gugu era apresentador.