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Isabela Del Monde

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Como ser um homem aliado das mulheres e criar uma sociedade antimachista

"Há três grandes ingredientes que compõem um homem aliado: coragem, empatia e respeito", diz colunista - Getty Images
"Há três grandes ingredientes que compõem um homem aliado: coragem, empatia e respeito", diz colunista Imagem: Getty Images

Colunista de Universa

11/11/2021 04h00

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Homem aliado não é homem sem passado, não é homem que nunca foi machista ou que nunca teve comportamentos inadequados. Todas as pessoas são criadas e educadas em uma sociedade estruturalmente machista e, portanto, vão cometer ou reproduzir condutas de desprezo e desrespeito contra mulheres.

O que me interessa, portanto, não é conceder certificado de "homem bom" para aliados muito menos centrar o debate em uma disputa entre homens bons e homens maus, porque, afinal, quem desenha essa linha? O que me interessa é difundir as estratégias que homens aliados podem aplicar para a construção de uma sociedade antimachista.

Mas, homens aliados, fica aqui a primeira lição: se protejam. Quem se alia às vítimas pode ser atingido pelas mesmas táticas de descredibilização e retaliação impostas às mulheres que rompem o silêncio. Entre elas, ações judiciais, processos para calar vocês, assim como acontece com vítimas. Enfrentar um processo penal é tudo, menos tranquilo.

Ser aliado exige disposição ao desconforto

Na minha opinião, há três grandes ingredientes que compõem um homem aliado: coragem, empatia e respeito. Coragem para romper com o pacto da masculinidade e arcar com as consequências dessa ruptura, como, por exemplo, a perda de trabalhos e redes de contatos. Empatia para se conectar com o relato e o trauma de uma vítima. E respeito para garantir a segurança e autonomia da vítima.

É de extrema importância preservar o sigilo de uma vítima quando ela assim o pede —e isso pode custar caro.

Porém, acredito que vale muito a pena ser uma pessoa aliada às causas que não suas. Vale a pena para as mudanças que queremos ver no mundo, vale a pena para construir ambientes de trabalho mais justos, seguros e igualitários para todas as pessoas. Vale a pena se dedicar a uma realidade menos violenta, mesmo que no curto prazo isso custe sua zona de conforto.

A aliança exige disposição ao desconforto. Mas é um desconforto momentâneo em prol da construção do conforto permanente para pessoas que nunca puderam experimentar uma vida livre de assédio e objetificação, isto é, as mulheres.