SXSW: criadores enfrentam 5 desafios em tempos de IA; como contornar?

Se de um lado entusiastas da inteligência artificial recorrem ao ChatGPT para realizar tarefas, de outro, um grupo se preocupa com o avanço dos sistemas que produzem conteúdo sintético. São os criadores.

Se as IAs estão cada vez mais aptas a virtualmente produzir o trabalho dos humanos, como vamos definir o que é criatividade e quem vai se beneficiar disso? Foi em torno dessa pergunta que discutiram Austin Carson, fundador e presidente da Seed.AI, organização que defende estruturas e ambientes para tomar melhores decisões sobre tecnologia, e Laurent Crenshaw, diretor da Patreon, empresa de financiamento para criadores.

Os dois participaram do painel "Como proteger a criatividade em tempos de inteligência artificial" desta segunda (11), no SXSW, o maior evento de criatividade do mundo, em Austin, no estado norte-americano do Texas.

Durante a conversa, a dupla listou cinco desafios para criadores em tempos de IA:

  • Avanços da IA podem infringir direitos autorais;
  • Processos criativos auxiliados por uma IA podem levantar dilemas éticos;
  • A automatização da criatividade deve levar a demissões;
  • Originalidade e autenticidade são características difíceis de definir quando se usa IA;
  • A saturação de conteúdo gerado por IA tem potencial de desvalorizar a criação

Carson e Crenshaw concordam que as ferramentas de geração de conteúdo sintético podem ser usadas como parceiro criativo, aumentar a criatividade por meio da colaboração e feedbacks e até fomentar novas ideias. Aumentar a eficiência e economizar tempo são outra vantagem. Tudo isso, diz a dupla, permite que os criadores explorarem ideias mais rapidamente e testem novos tipos de execução.

Os palestrantes não descartam a possiblidade das máquinas sugerirem novas formas de expressão artística. Ou seja, formatos que nunca vimos antes.

Crenshaw adverte, no entanto, que é importante ficar de olho nas políticas de uso dessas ferramentas para evitar que elas extraiam do acervo do criador informações importantes ou produzam imagens inspiradas na obra de outras pessoas.

Toda oportunidade muito grande representa grandes riscos. E a gente tem que manter em mente que tudo isso [inteligência artificial] é muito esquisito
Austin Carson, fundador e presidente da Seed.AI

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Ele reforça que no centro de todas as propostas para minimizar o impacto da IA sobre os criadores estão ações que foquem nas pessoas.

Nesse quarto dia de SXSW, já é possível perceber uma estratégia comum a diversas discussões: quando se começa a falar de máquinas que assustam justamente pela falta de controle, a conversa se direciona para as pessoas que as criaram ou para quem costuma operá-las. É no ser humano que está a resposta para os temores da IA.

Para entender os problemas da política atual em construção, é preciso trabalho de campo que traga respostas. Isso deve ser feito com as comunidades que usam o sistema [de inteligência artificial]
Austin Carson, fundador e presidente da Seed.AI

Outro ponto em que Carson e Crenshaw concordam é que, como o problema é de todos, a solução também deve ser compartilhada. "Abandonar os artistas é perder de vista o que queremos do futuro", afirma Carson.

Não se trata apenas de inteligência artificial e, sim, de todas as questões complexas que surgiram desde que a internet começou a ser usada.

Diante do desafio, a dupla sugere quatro linhas de ação para contornar o problema:

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  • aumentar a transparência no desenvolvimento de algoritmos;
  • otimizar o registo e a proteção do conteúdo gerado por AI;
  • definir e garantir os direitos nos trabalhos feitos por AI;
  • procurar novas fontes para valorizar o trabalho dos artistas.

Mais do que entender os próximos passos de uma máquina que nós mesmos inventamos, o desafio é entender coletivamente como criar as regras para fazer com que ela trabalhe a nosso favor.

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