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Afinal, quanto tempo levará para humanos voltarem à Lua?

Gene Cernan, astronauta da Apollo 17, a última a pousar na Lua, em 11 de dezembro de 1972 - Nasa
Gene Cernan, astronauta da Apollo 17, a última a pousar na Lua, em 11 de dezembro de 1972 Imagem: Nasa

Marcella Duarte

de Tilt, em São Paulo

15/01/2023 04h00Atualizada em 16/01/2023 10h39

Em dezembro de 2022, a Nasa deu um grande passo na meta de levar seres humanos de volta para a Lua: lançou a Artemis 1, 50 anos depois que o último homem esteve no nosso satélite.

As previsões mais otimistas acreditam que pisaremos novamente na Lua em 2025 — mas isso pode acontecer bem mais tarde.

O que está rolando

  • Um dos maiores feitos da história da Nasa foi ter colocado 12 homens para caminhar na superfície da Lua, entre 1969 e 1972; nenhum outro país conseguiu isso até hoje.
  • Em meio à corrida corrida espacial contra a Rússia, astronautas fincaram bandeiras, tiraram fotos, fizeram alguns experimentos e voltaram para casa.
  • O programa Artemis é mais ambicioso: quer estabelecer uma presença constante em nosso satélite.
  • Uma base e uma estação espacial lunar podem ser um trampolim para chegarmos mais longe -- em especial, até Marte.
  • O desafio agora é avançar em testes de tecnologias (e na criação de outras que nem existem) que permitam nossa presença permanente na Lua.
Apollo 17 13 Dezembro 1972 -  UniversalImagesGroup/Getty Images -  UniversalImagesGroup/Getty Images
Harrison Schmitt, astronauta da Apollo 17, com módulo lunar e rover ao fundo
Imagem: UniversalImagesGroup/Getty Images

Próximos passos

O calendário do programa Artemis já passou por diversas mudanças e adiamentos; veja como está agora:

Artemis 2 (2024): A jornada da cápsula Orion deve ser repetida com quatro astronautas a bordo. Eles farão um sobrevoo de dez dias, dando uma volta até o lado oculto da Lua, a cerca de 400 mil quilômetros da Terra — o mais distante no espaço profundo que qualquer ser humano já foi. Mas não pousarão.

Artemis 3 (2025): O objetivo é "alunissar" (aterrissar na Lua) e desembarcar a tripulação no polo Sul, um local diferente e mais desafiador do que os visitados durante o programa Apollo. Nenhuma pessoa, nem sequer uma missão robótica, já pousou lá. Aliás, nesta viagem a Nasa quer levar a primeira mulher e/ou a primeira pessoa "não branca" (negra ou indígena) a pisar em nosso satélite.

Espera-se encontrar depósitos de água congelada que possam ser usados para suprir a presença humana e produzir combustível. Mas a Orion não tem propulsão para descer e subir sozinha. Será preciso um sistema de pouso humano (HLS): uma nave para levar os astronautas entre a órbita da Lua, onde estará a cápsula, e a superfície. Por enquanto, a Nasa optou pela Starship, da SpaceX de Elon Musk, que ainda está em desenvolvimento.

Artemis 3.5 (2027): Documentos revelam que a Nasa pode adicionar uma missão intermediária, para que não haver uma grande lacuna no programa. Isso custaria mais uns US$ 5 bilhões (R$ 25 bi) e significaria atrasos para as fases e tecnologias seguintes.

Futuro (até 2034): Se bem-sucedido e com verbas, a etapa seguinte do programa Artemis é instalar o "Lunar Gateway", que orbitaria nosso satélite e serviria de ponto de apoio para missões (uma Estação Espacial em miniatura).

Em parceria com outras agências e empresas privadas, como a SpaceX, a Nasa também pretende estabelecer um "acampamento" — uma base permanente em solo lunar —, com uma "plataforma habitável de mobilidade", para viagens de até 45 dias.

gateway artemis - Nasa - Nasa
Concepção artística mostra cápsula Orion chegando no Lunar Gateway, com a Terra ao fundo
Imagem: Nasa

A meta é que toda essa estrutura e experiência também permitam viagens tripuladas a Marte, inicialmente previstas para a década de 2030. "É um cronograma agressivo", disse Jim Bridenstine, ex-administrador da Nasa. O mais provável é que ainda leve, pelo menos, 20 anos para isso acontecer.

Por que ninguém pisou de novo na Lua até agora?

  • Chegar à Lua é bem caro. Segundo estimativa da Nasa, esse retorno deve custar cerca de US$ 160 bilhões, em um período de 13 anos -- um pouco mais do que custou Apollo, em valores atualizados.
  • Missões tripuladas precisam de muitos testes, para garantir a segurança das tripulações.
  • É um desafio conseguir apoio governamental.

A verba da Nasa em 2022 foi de US$ 24 bilhões, e a administração Joe Biden quer elevar este valor para US$ 26 bilhões neste ano.

Parece muito, mas não é: representa apenas cerca de 0,4% do orçamento federal dos Estados Unidos. Para comparação, o exército norte-americano deve receber US$ 858 bilhões em 2023.

Parece menos ainda se considerarmos os grandes projetos espaciais simultâneos: o Telescópio Espacial James Webb, o foguete SLS (Sistema de Lançamento Espacial), as missões de defesa planetária contra asteroides (como a Dart).

Sendo assim, manter o otimista cronograma do programa Artemis nos próximos anos depende de mais dinheiro e boa vontade política — mas não sabemos quem será o presidente e quais suas prioridades em 2025 (ou mais tarde).

Desafios específicos da Lua

A Lua é nosso melhor (e mais próximo) laboratório se quisermos chegar a outros mundos hostis, como Marte.

Contudo, o ambiente é pouquíssimo amigável para seres humanos e seus equipamentos.

Gene Cernan rover - Nasa - Nasa
Gene Cernan pilota rover durante a Apollo 17; terreno acidentado e 'empoeirado' é desafio para os equipamentos
Imagem: Nasa

Para começar, pedregulhos e crateras são riscos para a segurança dos pousos. Mas a grande preocupação é o regolito — a chamada poeira lunar. Bilhões de anos de impactos de meteoroides deixaram a Lua coberta por uma grossa camada de pó muito fino e "afiado", como um talco.

Por sua interação com o vento solar, ele é eletrostaticamente carregado, se tornando muito abrasivo e grudento. E pode danificar trajes espaciais, veículos e sistemas muito rapidamente. A longo prazo, também pode ser prejudicial ao nosso sistema respiratório.

Outra questão é a luz do Sol. Diferentemente da Terra, a Lua tem um ângulo de inclinação mínimo e não tem atmosfera protetora. Ou seja, durante metade do mês, ela é exposta diretamente aos fervilhantes raios solares; na outra, fica na mais fria escuridão.

A Nasa está desenvolvendo um sistema de energia por fissão (reator nuclear), que poderia suprir a base dos astronautas com eletricidade durante as semanas de noite lunar, e trajes e veículos resistentes ao Sol e à poeira.

Nós já estivemos lá, por que retornar agora?

A Lua voltou a ser alvo na nova era da exploração espacial. Isso porque ela tem muita água guardada na forma de gelo, dentro de suas crateras e nos polos.

É por causa desse "tesouro" que os objetivos de Artemis vão além:

  • Novas missões vão focar no polo Sul lunar, onde há 13 possíveis pontos de pouso. Esse local, onde o Sol quase não bate, estima-se haver 600 bilhões de quilos de gelo.
  • Água é a chave para o objetivo de ter uma presença permanente em nosso satélite.
  • Reservas aquáticas permitiriam também a fabricação de combustível (hidrogênio e oxigênio) para naves espaciais. Assim, poderia viabilizar missões de mais longa duração ou para mais longe, sem depender da Terra.

Bill Nelson, atual administrador da Nasa, disse: "Desta vez, voltamos à Lua para aprender, viver, trabalhar, inventar, criar... para depois ir ao cosmos para explorar mais".

"Selfie" da cápsula Orion, da missão Artemis 1, com a Lua - Divulgação/Nasa - Divulgação/Nasa
"Selfie" da cápsula Orion, da missão Artemis 1, com a Lua
Imagem: Divulgação/Nasa

Bilionários aceleram esse objetivo

Um boom de empresas privadas de exploração espacial, lideradas por bilionários como Elon Musk (SpaceX) e Jeff Bezos (Blue Origin), tem levado inovação e empolgação ao setor nos últimos anos.

As agências de outros países, como China, Japão, Coreia do Sul, Índia, Israel e Europa (ESA), também entraram nessa nova corrida, onde há muita cooperação — Apollo nos ensinou que a exploração espacial como competição entre países não é sustentável.

Isso gera motivação para fazer diferente, reduzir custos e chegar mais longe. Precisaremos disso tudo para viver na Lua, ir a Marte e além.

Tudo isso não é mais uma questão de "se" — mas, sim, de "quando" vai acontecer.