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Golpes na Black Friday apelam para urgência e preços abaixo do normal

Estúdio Rebimboca/UOL
Imagem: Estúdio Rebimboca/UOL

Felipe Oliveira

Colaboração para Tilt

27/11/2020 12h49

Muitos consumidores passam meses esperando a chegada da Black Friday para fazer compras com grandes descontos. Mas não são só eles: os cibercriminosos também se aproveitam da empolgação do público para aplicar golpes.

Especialistas ouvidos por Tilt apontam que os golpistas usam qualidades da Black Friday para enganar as pessoas, como os preços baixos. Fábio Assolini, analista de segurança sênior da Kaspersky, diz que o tamanho do desconto é um dos pontos a se observar. Ou seja, se o preço estiver muito abaixo do comum, desconfie.

"Um produto que custa R$ 800 e está por R$ 80? Mexe com o emocional, são promessas que o usuário tem que prestar atenção. Não existe magia no processo de compra e venda", disse Rogério Freitas, diretor de engenharia de vendas da OneSpan na América Latina.

"Existem sites de busca, como o Zoom, que dão o histórico de preços dos últimos seis meses e pode ser um bom comparativo para evitar a fraude", recomenda Assolini.

Para Freitas, os cuidados contra golpes se concentram em três fatores:

  • Atenção aos detalhes, que podem indicar a falsidade do site;
  • Calma para buscar as ofertas corretas;
  • Desconfiança na hora da compra.

"Quando você começa a desconfiar, toma mais cuidado naquilo que está efetivamente fazendo. O tempo que investimos na pesquisa é o tempo que estamos comprando nossa tranquilidade", afirma.

Urgência na hora da compra

Outro fator usado pelos golpistas para enganar as pessoas na Black Friday é a urgência. Foi em um anúncio desse tipo que a assistente social Jacqueline Costa quase caiu ao tentar comprar um celular. Ao acessar uma publicidade no Facebook, ela se deparou com o aparelho por um preço bem abaixo do praticado. Além disso, a oferta aparecia como "urgente" e seria encerrada em apenas "uma hora".

"Quando já estava cadastrando os dados na página é que minha filha desconfiou do preço, olhou a URL e percebeu que se tratava de uma cópia de um site de uma grande varejista. Por pouco não passei meus dados do cartão de crédito", afirmou a Tilt.

Mas nem todos os casos acabam bem como o da assistente social. Segundo o diretor de engenharia da OneSpan, os criminosos se aproveitam das emoções das pessoas para aplicar os golpes. "Quando você vê uma oferta com um prazo desses, seu emocional fala mais alto que o racional, você vai abrir", explica.

Esse tipo de ação, que faz com que o cliente tenha de tomar uma decisão sem pensar direito, é uma das que mais dão certo nos golpes de Black Friday. "Vem aquela emoção, 'nossa, está em promoção e tenho que comprar antes que acabe o estoque'. O fraudador explora isso, essa sensação de urgência", explica Fábio Assolini.

Sites falsos

Um dos golpes mais comuns na Black Friday é o phishing, técnica usada pelos criminosos para enganar os clientes e roubar seus dados sem que percebam. Para isso, eles criam sites falsos, copiando o layout de grandes varejistas ou montando páginas de lojas falsas.

De acordo com Fábio Assolini, no caso dos "sites clones" uma dica simples pode salvar o consumidor: olhar atentamente para a URL. Já no caso dos sites de empresas falsas, o usuário tem um pouco mais de trabalho, mas, ainda assim, é possível perceber a fraude.

Normalmente, o consumidor encontra uma grande oferta em um site que nunca viu, com preços bem baixos. Tentando enganar o usuário, o criminoso coloca um CNPJ falso, diversos tipos de produtos e endereço físico para parecer tudo perfeito. Mas "alguns sinais" podem dar a dica da fraude.

"É só o consumidor ser curioso e pesquisar aquele número de CNPJ no Sintegra, onde qualquer pessoa pode consultar um CNPJ. Lá você encontra os dados da empresa e vai perceber que não condiz com o que estava relacionado ao site com as ofertas", aconselhou Fábio Assolini.

Outra maneira de saber se o site é confiável é por meio da página do Procon-SP, que tem um campo chamado "Evite esses sites". Na listagem, o órgão de defesa do consumidor traz empresas que já trouxeram dor de cabeça aos consumidores.

"Temos uma relação com mais de 150 empresas que o Procon diz: 'não compre porque elas já deram problema'. Ou elas não existem ou não tem políticas de pós-venda, não trocam produtos, não respeitam o direito do arrependimento, entregam fora do prazo", explica Fernando Capez, diretor executivo do Procon-SP.

Quais os riscos?

Cair em um golpe na Black Friday pode trazer alguns problemas aos usuários, principalmente financeiros. O consumidor pode não receber o produto comprado ou fornecer seus dados, que podem ser usados para algum crime.

"A perda de dados nem sempre é instantânea. O golpista fica com nome, CPF, RG, e pode usar isso para fraudes, como enviar uma fatura falsa para o email do usuário com todos os dados corretos, o que pode levar ao erro, ou até mesmo realizar compras com os dados do cartão de crédito da vítima", diz Fábio Assolini.

Os criminosos podem até abrir contas bancárias se passando pela vítima, o que poderia trazer ainda mais dificuldades. "A perda financeira é grande, claro que é, mas tem uma que para mim é a principal: a perda de tranquilidade", afirma Rogério Freitas.

Cai no golpe, e agora?

Mesmo com as dicas, todo ano muitos usuários caem nos golpes, que mudam continuamente. Para se ter uma ideia, um levantamento da Kaspersky aponta que foram bloqueadas 5.936.074 tentativas de acesso a sites de phishing na América Latina no período entre 29 de outubro e 18 de novembro deste ano, ou seja, uma média de 196 ataques por minuto no período que antecede a Black Friday.

Por isso, é compreensível que alguns usuários acabem caindo nas fraudes. Mas o que fazer quando cair em um golpe desse tipo?

Se você colocou os dados pessoais em um site falso, a recomendação é que o usuário faça a captura de tela da página e faça um boletim de ocorrência para garantir sua defesa caso os fraudadores usem o CPF em alguma transação.

Caso o usuário tenha colocado os dados do cartão de crédito na página fraudulenta, a recomendação é repetir os passos descritos acima e também acionar o banco para solicitar o cancelamento do cartão. Para comprar a crédito, Assolini recomenda ao consumidor criar um cartão virtual, que é valido apenas para uma compra e é mais seguro.

Se o usuário pagou um boleto falso, os especialistas apontam que dificilmente vai conseguir reaver o dinheiro. "Você pode até dar uma cópia desse boleto para a polícia, que consegue rastrear se o dinheiro foi para uma conta bancária, mas será muito difícil reaver", diz Assolini.

De acordo com Fernando Capez, do Procon-SP, nesses casos o consumidor terá de "ingressar com uma ação civil contra o dono da empresa, pedindo bloqueio de bens". "Mas isso sempre é uma dor de cabeça. O Procon não consegue achar algo que não existe, é pressuposto que a empresa exista", diz.