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O que a Xiaomi não contou sobre o carregador sem fio mais rápido do mundo

Carregador sem fio da Xiaomi de 80W em ação - Reprodução/YouTube
Carregador sem fio da Xiaomi de 80W em ação Imagem: Reprodução/YouTube

Lucas Carvalho

De Tilt, em São Paulo

20/10/2020 15h07

Na última segunda-feira (19), a chinesa Xiaomi revelou ao mundo seu protótipo de carregador sem fio mais rápido do mundo. O novo aparelho tem 80W de potência e a fabricante promete encher a carga total de um smartphone em apenas 19 minutos —mais rapidamente do que um carregador tradicional com fio. Mas na prática, a eficiência energética é prejudicada.

Um destes sacrifícios tem a ver com a quantidade de energia desperdiçada durante o carregamento. No vídeo de demonstração do novo carregador, a empresa diz usar uma versão "modificada" do smartphone topo de linha Mi 10 Pro. A modificação, no caso, é o tamanho da bateria. Um Mi 10 Pro comum tem uma bateria grande, de 5.260 mAh, enquanto a versão do teste tinha 4.000 mAh.

Ou seja, para fazer o carregador sem fio de 80W funcionar, a Xiaomi precisou diminuir a autonomia do seu principal smartphone. Mas os sacrifícios não param por aí. Segundo Raul Beck, pesquisador da área de Sistemas de Energia do CPqD (Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações), é provável que o novo carregador da Xiaomi seja menos eficiente do que os atuais.

"A bateria de 4.000 mAh precisaria receber 16,8 watts durante uma hora para chegar a 100% de carga. Como o novo carregador entregou essa energia em um terço do tempo, o volume de energia teve que ser três vezes maior. Sendo assim, essa bateria recebeu 50 watts em 20 minutos, que vieram de um carregador que a Xiaomi diz ser de 80 watts. Portanto, ele está perdendo 30 watts para carregar 50. Há uma perda grande de eficiência", diz Beck.

Perda de eficiência é comum em carregadores sem fio por conta da ausência de uma conexão direta entre a fonte de energia e a bateria. Como comparação, o Galaxy S20 Ultra, da Samsung, com uma bateria de 5.000 mAh, leva 105 minutos para chegar a 100% da carga usando um carregador sem fio da mesma fabricante.

Esse dado vem de testes conduzidos pelo site Phone Arena, já que a Samsung não divulga dados oficiais. Baseado na análise extraoficial, o carregador da marca tem desperdício de energia de 35%, enquanto o da Xiaomi é de 37% —quase o mesmo, portanto.

Mas em quantidade de watts, a diferença é maior. O carregador sem fio da Samsung é de 15W, e não de 80W como o novo modelo da Xiaomi. Sendo assim, 35% de 15W significa um desperdício de 5 watts por hora, enquanto o da Xiaomi vê dissipar quase 30 watts por hora.

"Ah, mas o que é perder 30 watts? É pouco, menos que uma lampadazinha dessas fluorescentes de 15 W, duas delas. Legal. Mas multiplica isso por 100 milhões de aparelhos, 200 milhões de aparelhos. Falando só do Brasil, né?", diz Beck, reiterando que se todo mundo usasse carregamento sem fio, teríamos uma grave crise energética.

Além disso, outro problema com a recarga rápida sem fio é que a vida útil da bateria fica comprometida. Quanto mais rapidamente você recarrega uma bateria, mais rapidamente ela vai degradar-se e perder autonomia. É um fenômeno típico de baterias de íon-lítio, como as de smartphones. E também pode ocorrer em carregadores rápidos com fio de outras fabricantes.

Ou seja, o desempenho recorde da nova tecnologia da Xiaomi não vem sem custos. Mas vale lembrar que essa nova tecnologia ainda está em fase de testes e não foi disponibilizada comercialmente. Cabe à empresa dar um jeito nesses problemas antes de colocar o novo carregador nas lojas.

Tilt procurou as assessorias de imprensa global e nacional da Xiaomi para entender mais detalhes sobre o carregador e aguarda o posicionamento da empresa.