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Para que serve um saco de lixo que promete proteção contra coronavírus?

O saco possui propriedades capazes de quebrar a membrana que envolve o vírus e destruir sua estrutura genética - Divulgação
O saco possui propriedades capazes de quebrar a membrana que envolve o vírus e destruir sua estrutura genética Imagem: Divulgação

Marcos Bonfim

Colaboração para Tilt

24/08/2020 04h00

Sem tempo, irmão

  • Produto usa propriedades eletroestáticas de imãs para matar o vírus
  • Análises mostraram inativação viral para o coronavírus entre 90% e 99,999%
  • Saco pode ser usado como cesto de roupa suja ou para proteger profissionais de limpeza
  • Mas especialista diz não haver garantia da efetividade contra o contágio
  • Produto deve começar a ser comercializado a partir de setembro

Em meio à corrida por soluções capazes de combater a pandemia da covid-19, uma empresa brasileira criou um saco para lixo especial que, segundo a companhia, é capaz de eliminar o contágio do novo coronavírus.

De acordo com a fabricante, a Embalixo, o novo produto funciona como uma espécie de saco higienizador —ou cesto para roupa suja— que tem propriedades capazes de quebrar a membrana que envolve o vírus e destruir sua estrutura genética. A Embalixo levou quatro meses para desenvolver a tecnologia.

A empresa afirma que o saco poderia ser usado em situações em que as pessoas voltam para casa e precisam tirar sapatos, máscaras e roupas de imediato para não infectar familiares. Além disso, o produto poderia servir para proteger profissionais de limpeza, coleta ou pessoas que lidam com o lixo acondicionado.

Rafael Costa, diretor comercial da Embalixo, conta que o saco poderia ter muitas outras funções. "Podemos revestir cadeiras, bancos de passageiros em carros de aplicativos, a depender da criatividade e necessidade de cada um também", afirma.

Para facilitar a identificação, o novo saco está sendo produzido na cor prata e está previsto para chegar aos mercados no começo de setembro, em diferentes versões.

Como funciona?

Segundo a empresa, o material usa uma tecnologia que é incorporada ao plástico e age diretamente na membrana que envolve e protege o material genético do vírus, atuando eletrostaticamente com um ímã. A partir daí, a técnica inativa as proteínas e gorduras e quebra a estrutura genética, impedindo a transição para células humanas e, logo, a contaminação.

O produto teve a eficácia comprovada pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) por meio de um teste virucida. O laudo, assinado por Clarice Arns, coordenadora do laboratório de virologia da Unicamp, conclui que os itens analisados apresentam uma inativação viral para o grupo coronavírus entre 90% e 99,999%, em uma escala de tempo que considera desde o contato imediato até seis horas.

O estudo, no entanto, não foi realizado com o Sars-CoV-2, responsável pelo novo coronavírus, e sim com um vírus da mesma família. A reportagem também entrou em contato a Anvisa, que informou que o produto não foi apresentado ao órgão para análise.

Dúvidas sobre a viabilidade do produto

Para Layla Almeida, infectologista e diretora médica da plataforma de telemedicina Conexa Saúde, embora o material seja "muito interessante" do ponto de vista de inovação, há questões importantes para entender seu custo e efetividade.

Para produzir o saco, por exemplo, a empresa está investindo entre 30% e 40% a mais do que outras opções de sacos para lixo, como os veganos e carbono zero. A empresa não informou qual seria o valor de venda do produto.

"Hoje, nem bem sabemos quanto tempo o vírus fica presente e qual o percentual de pessoas que se contaminam a partir de um material viável em cima de uma superfície. Logo, muito menos vamos saber qual a viabilidade de um produto que mate o vírus. Não temos garantia nenhuma da efetividade para o emprego populacional e epidemiológico", explica Almeida.