Você ainda vai comprar óculos futuristas para ter informações à vista
Parecia um evento pouco empolgante em São Paulo no começo de abril: uma apresentação do uso de tecnologia para a manutenção preventiva de elevadores. Mas um acessório chamava a atenção. Na simulação de conserto do aparelho, o técnico tinha acoplado à sua face um aparelho futurista, com jeitão de óculos de 2049.
Bom, era sim um par de óculos futurista, mas dos tempos atuais. Trata-se do HoloLens, óculos de realidade mista da Microsoft que foi apresentado ao mundo em 2015. Era a primeira demonstração oficial do bichão no Brasil.
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Ele projetava imagens nos olhos do técnico, permitia abrir arquivos também no campo de visão do profissional e ativava chamada de voz para pedir o auxílio de terceiros na tarefa – sem que ele precisasse segurar objetos. Três anos depois do lançamento do acessório, a tecnologia por trás dele mostra potencial, mas ainda deixa perguntas sobre como e onde pode ser usada.
Estudada desde os anos 1990, a realidade mista (também conhecida como realidade aumentada) consiste na mistura de elementos virtuais com o mundo real, permitindo a interação do usuário com ambas as esferas. Ou seja, ao utilizar um dispositivo como o HoloLens, a pessoa enxerga o que está de fato em sua frente com uma camada de projeção de outros objetos, como textos, caixas com chamadas em vídeo ou mesmo criaturas digitais geradas por computador.
Diferentes níveis de complexidade e aplicações variadas
Por conta da qualidade dos objetos virtuais que consegue produzir, o HoloLens é o que há de mais moderno neste tipo de tecnologia. Porém existem diversos produtos e empresas investindo no campo, imaginando usos variados para esses óculos futuristas.
Os mais simples e normalzões são os Spectacles, lançados pela Snap (a dona do Snapchat) em 2016. Coloridos, variados e com cara de óculos escuros normais, eles têm uma no canto de fora da lentes que tem como finalidade única gravar vídeos em primeira pessoa para publicação no Snapchat.
Eles ainda não projetam objetos virtuais nos olhos do dono, mas isso deve ser uma questão de tempo. Neste ano, saiu uma versão 2.0 do produto, com câmera de maior resolução, dois microfones, resistência a água e maior velocidade de upload dos vídeos - não é difícil imaginar num futuro próximo uma ferramenta para aplicar filtros do Snapchat. De qualquer maneira, eles são pensados para um público mais jovem e para o entretenimento simples.
Também parecido com óculos escuros, mas daqueles usados por esportistas, o Solos foi feito para ciclistas que buscam melhorar seu desempenho. Espelhados, eles têm um projetor sobre a lente do lado direito, que gera um retângulo com informações básicas de navegação ou mais aprofundadas como frequência cardíaca e velocidade do atleta.
Achou que os dois exemplos acima muito específicos? É que você não conhece o Moverio, da Epson. O dispositivo não tem lentes escuras, pelo contrário, e é usado para permitir dois pontos de vista ao mesmo tempo: o da pessoa que veste os óculos e o do drone controlado por ela.
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A Intel tinha planos de romper a bolha dos produtos de nicho com o Vaunt, aparelho que tinha como proposta se passar por óculos comuns mesmo com tecnologia avançada. Ele apostava no uso de lasers que, refletidos dentro dos óculos, projetavam cores monocromáticas direto na retina do usuário. O dispositivo conversaria com celulares para exibir informações como direções, mensagens e notificações, sem que estas fossem intrusivas. Infelizmente, no entanto, o desenvolvimento foi cancelado antes mesmo de uma versão comercial ser produzida.
É uma trajetória que reprisa o do Google Glass, que jogou luz sob a categoria, apontou caminhos e não conseguiu o carinho do público. Lançado em 2012, ele foi sendo deixado de lado pelo Google até virar um objeto voltado apenas para desenvolvedores.
Começo lento e focado no corporativo
Enquanto ainda não existe um "iPhone dos óculos", a realidade mista (ou aumentada) mostra potencial no mundo corporativo, como ferramentas técnicas em diferentes áreas.
Empresas como a thyssenkrupp, responsável pelo exemplo que abre este texto, adotaram a tecnologia para incrementar a atuação de seus funcionários, que com maiores informações à disposição se tornaram mais eficientes e menos propícios a erros quando mandados a campo.
As aplicações vão além da construção civil, com diversos usos na saúde. Uma delas foi mostrada pelo Hospital Avicenne, localizado na região metropolitana de Paris. Os médicos locais adotaram o HoloLens como um auxiliar no ato da cirurgia. O vídeo a seguir mostra como o equipamento foi utilizado para ajudar em uma operação de ombro, realizando projeções na realidade aumentada e transmitindo o que era visto pelos cirurgiões a doutores fora daquela sala.
Na área da saúde, a Microsoft também destaca a aplicação de seus óculos na educação de estudantes de medicina e enfermagem, com simulações feitas na realidade mista a partir do dispositivo.
Interesse aumentando
Apesar dos diferentes exemplos, a demanda para produtos de realidade mista ainda é baixa. Segundo levantamento da consultoria CCS Insight com base em dados de 2017, apenas 24 mil unidades de dispositivos de realidade mista foram compradas por empresas no período.
Porém, a tendência é que o cenário mude, segundo o analista George Jijiashvili, especializado em dispositivos vestíveis.
Dado que realidade aumentada é uma das tecnologias mais quentes nos smartphones, não é surpreendente que o interesse está crescendo em óculos de realidade aumentada. Bilhões de dólares estão sendo investidos nessa tecnologia e temos visto melhoras significativas em tamanho, peso e design
George Jijiashvili, especializado em dispositivos vestíveis
Jijiashvili aponta o Vaunt, da Intel, como o caminho para popularizar esses dispositivos. "Produtos como o Vaunt são um sinal claro da direção que esses dispositivos estão se movimentando, com um design um pouco diferente de um par comum de óculos. É preciso apenas de uma grande empresa tipo a Apple para pular no mercado e podemos estar olhando para um mercado de milhões de smart glasses", analisou.
Um levantamento do último mês de abril da CCS Insight aponta que tanto a realidade virtual, quanto a aumentada (ou mista) terão uma taxa de adoção 550% maior nos próximos quatro anos.
Mas tem que ser bonitinho
A tecnologia dos óculos futuristas empolga, mas um fator pesa contra seu uso: quem iria vestir um negócio desses na rua?
Esse é um desafio que desenvolvedores e designers ainda não encontraram a solução, quando se trata do usuário comum: combinar harmoniosamente hardware e aparência. Embora o HoloLens seja “bonito”, ele não é utilizável na rua ou em um restaurante. Fora do contexto de trabalho, ele tem uma aparência futurista demais para passar despercebido.
Nem mesmo os Spectacles, com sua pegada de rede social, cativaram. Fora os números baixos de venda, os óculos também não mantiveram seus proprietários engajados, já que menos da metade dos compradores continuou usando o aparelho após o primeiro mês.
Mas esse também ainda não é o único desafio da categoria.
E tem que ser mais barato
Os valores dos produtos também não ajudam muito. O HoloLens tem duas edições à venda no site da Microsoft, pelas bagatelas de US$ 5 mil (versão comercial) e 3 mil (versão de desenvolvedor). Já o Epson Moverio sai por US$ 699 enquanto o “Solos pode ser encomendado por US$ 375.
Até os mais baratos (como o Spectacles que sai por US$ 130) podem exigir um valor adicional para terem alguma utilidade. Isso porque celulares são dispositivos complementares muitas vezes necessários para o funcionamento deles
Ainda não há indicações de quedas nos preços, mas, assim como aconteceu com os smartphones também não é difícil imaginar uma queda conforme a categoria se popularize.
O potencial para a tecnologia existe. Agora é esperar para ver quem vai conseguir fazer mais bonito, mais barato e com utilidades menos específicas.
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