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Thiago Gonçalves

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Desafio para telescópios, supernova perto de nós é descoberta por amador

Localização da supernova 2023ixf, descoberta pelo astrônomo japonês Koichi Itagaki, na Galáxia do Cata-Vento - Craig Stocks
Localização da supernova 2023ixf, descoberta pelo astrônomo japonês Koichi Itagaki, na Galáxia do Cata-Vento Imagem: Craig Stocks

24/05/2023 04h00

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O astrônomo japonês Koichi Itagaki anunciou a descoberta da supernova 2023ixf, na Galáxia do Cata-Vento (também conhecido por seu número de catálogo M101) no final da semana passada. As últimas medidas dizem que a galáxia está a pouco mais de 20 milhões de anos-luz de distância, o que representa uma vizinha próxima em termos astronômicos.

Esse tipo de evento acontece uma vez a cada 10 anos, o que representa uma excelente oportunidade para pesquisadores e amantes do céu noturno.

O objeto foi descoberto com magnitude 15, e está ficando cada vez mais brilhante. Em breve pode chegar a magnitude 10 (quanto menor o número, mais luminosa a estrela), o que seria acessível a telescópios amadores relativamente modestos.

Infelizmente, a galáxia se encontra no hemisfério norte, dificultando (ou em alguns casos impossibilitando) a observação para nós aqui no hemisfério sul.

De qualquer maneira, é um evento muito interessante.

Ao contrário da última observada nesta mesma galáxia, em 2011, é uma supernova de tipo II. Isso significa que estamos observando a morte de uma estrela muito massiva, provavelmente com cerca de 10 vezes a massa do nosso Sol ou mais.

Supernovas do Tipo Ia (como a de 2011, por exemplo) são um pouco mais complicadas. Acreditamos que elas acontecem quando uma anã branca, muito compacta e com uma gravidade muito forte, tem outra estrela companheira tão próxima que começa a "roubar" material de sua vizinha. Após algum tempo, ela não aguenta mais a massa adicional, e colapsa sob o próprio peso, causando a brilhante explosão.

Neste caso, o mais interessante foi conseguir detectar uma supernova tão próxima, tão cedo, quando ela ainda está "explodindo", ou seja, enquanto seu brilho ainda está aumentando. Isso nos permite acompanhar de perto a evolução do processo, entendendo melhor a física que governa a morte de uma estrela massiva.

Ajuda de astrônomos amadores

Outro ponto que vale ressaltar na história é o papel fundamental do astrônomo amador japonês Koichi Itagaki. Apaixonado por astronomia, ele é responsável pela descoberta de mais de 80 supernovas ao longo de várias décadas.

Esse tipo de trabalho é de enorme valor para a ciência. Projetos de instituições de pesquisa não podem dedicar tanto tempo a observar todas as galáxias do universo — afinal, o tempo é limitado e o número de telescópios finito — e a colaboração com estes entusiastas é fundamental.

A descoberta de supernovas em galáxias próximas, em particular, representa um desafio para muitos telescópios. Como estão espalhadas pelo céu, é difícil monitorá-las constantemente, e os telescópios amadores acabam cobrindo um nicho interessante nesse campo.

Mas notem que o trabalho não é para qualquer um! O observatório de Itagaki possui telescópios enormes, e imagino que o investimento de tempo (e dinheiro) seja significativo, inalcançável para a maioria de nós…

Ainda assim, acessível ou não, o trabalho de Koichi Itagaki já lhe rendeu participação em dezenas de artigos científicos, representando a sua enorme contribuição para a astronomia.

Fica aqui o agradecimento pelo trabalho e dedicação!