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Thiago Gonçalves

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Viu a supernova que acabou de explodir? É assim que caçamos esse fenômeno

Imagem artística de estrela supergigante vermelha (esq.) explodindo depois de transferir gás hidrogênio para a estrela azul (dir.) - Agência Espacial Europeia e Justyn R. Maund (Universidade de Cambridge)
Imagem artística de estrela supergigante vermelha (esq.) explodindo depois de transferir gás hidrogênio para a estrela azul (dir.) Imagem: Agência Espacial Europeia e Justyn R. Maund (Universidade de Cambridge)

30/11/2022 04h00

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Há algumas semanas, cientistas mostraram resultados da imagem do aglomerado de galáxias Abell 370, onde puderam encontrar uma supernova que havia acabado de explodir. Na verdade, não viram apenas uma, mas três imagens —da mesma supernova.

O fenômeno é possível graças ao chamado efeito de lentes gravitacionais. Em aglomerados como este, há tanta matéria escura presente que a gravidade é distorcida de forma extrema, algo conhecido há tempos como resultado da relatividade geral.

Assim, a luz de objetos atrás deste aglomerado é distorcida, como se o espaço ali agisse como uma verdadeira lente cósmica.

Em alguns casos, a distorção é tão forte que a luz se curva a tal ponto que podemos ver o mesmo objeto olhando em direções diferentes — daí a existência de imagens múltiplas para a mesma supernova.

Além disso, como o caminho percorrido pela luz é diferente para cada imagem —e consequentemente o tempo de viagem é distinto em cada caso— isso significa que podemos ver imagens do mesmo objeto em momentos diferentes.

Para este evento, em particular, os cientistas tiveram sorte. Estavam buscando imagens de arquivo do telescópio espacial Hubble de vários anos atrás, mas conseguiram encontrar uma supernova que havia acabado de ocorrer, apenas algumas horas antes do registro.

Isso é valioso para entender os momentos iniciais da supernova, que resulta da explosão de uma estrela muito maior que o Sol; assim, podemos compreender melhor como uma estrela morre.

Supernova Abell 370 - Divulgação/Nasa ESA, STScI, Wenlei Chen (UMN), Patrick Kelly (UMN), Hubble Frontier Fields - Divulgação/Nasa ESA, STScI, Wenlei Chen (UMN), Patrick Kelly (UMN), Hubble Frontier Fields
Supernova Abell 370
Imagem: Divulgação/Nasa ESA, STScI, Wenlei Chen (UMN), Patrick Kelly (UMN), Hubble Frontier Fields

Procurando o inesperado

O grande problema de observações de supernovas é justamente a necessidade de contar com a sorte. Se não sabemos onde ou quando a próxima supernova acontecerá no universo, como estudá-las?

Cientistas detestam essas situações duvidosas, e por isso mesmo tentam encontrar estratégias mais controladas. Se não podemos adivinhar onde estará a próxima supernova, pelo menos podemos desenvolver maneiras de aumentar as probabilidades de encontrar uma.

Esse é um dos principais objetivos do telescópio Vera Rubin, que está quase pronto e que tem importante participação brasileira. Ele será ótimo para varrer as noites, obtendo um mapa completo do céu observável do Chile a cada três noites.

Repetindo as observações periodicamente, ele será capaz de obter não apenas imagens, mas um filme completo do universo, permitindo que a identificação de eventos astronômicos transientes (como é o caso das supernovas) seja muito mais fácil.

Tão fácil, na verdade, que a equipe espera encontrar cerca de um milhão de supernovas por ano. Um número tão grande que o desafio acaba sendo outro: como poderemos processar os dados e separar o joio do trigo, ou seja, identificar os casos mais interessantes cientificamente.

Uma coisa é certa: observando como o céu se modifica a cada três noites, seremos capazes de encontrar várias supernovas que acabam de explodir, e nosso entendimento sobre a morte de estrelas sofrerá uma enorme revolução.