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Thiago Gonçalves

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Com o James Webb, astrônomos encontram as primeiras estrelas após Big Bang

Imagem feita pelo telescópio James Webb do cluster de galáxias SMACS 0723, um dos retratos mais profundos já feitos do universo - NASA, ESA, CSA, e STScI
Imagem feita pelo telescópio James Webb do cluster de galáxias SMACS 0723, um dos retratos mais profundos já feitos do universo Imagem: NASA, ESA, CSA, e STScI

07/11/2022 04h00

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Uma equipe de astrônomos canadenses da Universidade de Toronto usou o telescópio espacial James Webb para encontrar os aglomerados globulares mais distantes já observados.

Aglomerados globulares são estruturas compostas por milhares ou milhões de estrelas e podem conter pistas importantes para entendermos a evolução do universo.

Eles contêm algumas das estrelas mais velhas conhecidas e por isso carregam informações importantes sobre o nascimento de estruturas no Cosmos.

Nossa própria Via Láctea contém um grande número de aglomerados globulares, muitos com idades superiores a 12 bilhões de anos.

O objeto batizado de "sparkler" (como as velas de aniversário que soltam "estrelinhas") segue a tendência. Analisando as imagens em diferentes cores, os pesquisadores liderados por Lamiya Mowla e Kartheik Iyer mostraram que o aglomerado teria cerca de 4 bilhões de anos de idade já na época em que é observado.

Vale lembrar que a luz viajou mais de 9 bilhões de anos para chegar até aqui. Ou seja, o aglomerado realmente se formou logo depois do Big Bang.

Para encontrar a estrutura, a equipe usou uma das primeiras imagens divulgadas do grupo de galáxias SMACS J0723.2-7327. Esse grupo funciona como uma grande lente cósmica, devido à sua enorme massa e consequente distorção do espaço tempo ao seu redor. É esse efeito que permite o aumento do brilho e a observação de pequenos detalhes, como a detecção de aglomerados globulares individuais.

aglomerados globulares - Agência Espacial Canadense com imagens da NASA, ESA, CSA, STScI; Mowla, Iyer et al. - Agência Espacial Canadense com imagens da NASA, ESA, CSA, STScI; Mowla, Iyer et al.
Astrônomos usaram o James Webb para encontrar os aglomerados globulares mais distantes
Imagem: Agência Espacial Canadense com imagens da NASA, ESA, CSA, STScI; Mowla, Iyer et al.

Com os dados em mãos, os cientistas puderam então fazer a modelagem dos dados, comparando as cores observadas com predições matemáticas de acordo com a idade das estrelas do aglomerado.

O interessante é que o aglomerado não é apenas muito antigo, mas ele também teria parado de formar novas estrelas rapidamente, antes que o universo completasse um bilhão de anos. Assim, o "sparkler" seria uma das primeiras estruturas conhecidas a ter cessado sua formação estelar.

Esse é apenas o começo de um projeto muito mais ambicioso. Por enquanto, a equipe usou apenas os dados públicos de uma imagem divulgada pelo James Webb, mas eles têm ainda muitas observações planejadas.

Eles não apenas terão acesso a novas imagens, como também ao espectro dessas estruturas. A espectroscopia é uma técnica que permite separar a luz proveniente de corpos celestes, e que oferece informações muito detalhadas sobre a sua composição química e distância.

Com as novas observações em mãos, a equipe poderá então confirmar se este e outros novos candidatos são realmente aglomerados globulares distantes e determinar com maior precisão a sua idade.

Isso abriria então uma nova avenida de estudos para a formação das primeiras estrelas do universo.