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Thiago Gonçalves

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Pesquisa liderada por brasileiros dá pistas sobre como as galáxias morrem

A equipe investigou a velocidade com que galáxias morrem em função de seu formato. À esquerda, galáxia espiral. À direita, galáxia elíptica. - Nasa/ ESA/ NAOJ/ J. Blakeslee/ R. Gendler
A equipe investigou a velocidade com que galáxias morrem em função de seu formato. À esquerda, galáxia espiral. À direita, galáxia elíptica. Imagem: Nasa/ ESA/ NAOJ/ J. Blakeslee/ R. Gendler

03/12/2021 04h00

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Será que as galáxias, assim como nós, podem morrer? Mais ainda, será que podem de alguma forma voltar à vida? Não é sempre que tenho o prazer de falar da minha pesquisa nessa coluna, mas hoje tenho a oportunidade de discutir os nossos resultados mais recentes.

O trabalho, liderado pela astrônoma Camila de Sá Freitas (que hoje faz seu doutorado no Observatório Europeu do Sul, na Alemanha), foi publicado na revista da Real Sociedade Astronômica do Reino Unido e fez a seguinte pergunta: será que a maneira como uma galáxia morre tem alguma relação com seu formato?

Mas para explicar os resultados, primeiro é necessário entender o que significa exatamente a morte de uma galáxia.

Galáxias são essencialmente uma estrutura composta por estrelas, gás hidrogênio e matéria escura. O gás age como combustível para fomentar o nascimento de novas estrelas; sem gás, não há como formar estrelas, e a galáxia, agora "morta", contém apenas estrelas velhas em seu interior.

No entanto, sabemos que não é apenas uma questão de esperar que o combustível acabe. Alguns eventos podem arrancar o gás da galáxia, no que seria um assassinato cósmico.

Sabemos também que esse processo deve ter alguma relação com o formato de galáxias. Afinal, galáxias espirais, que têm a forma de um disco mais achatado, normalmente contêm estrelas jovens, enquanto galáxias elípticas, com um formato mais arredondado ou espiral, em geral abrigam estrelas velhas.

Nós então desenvolvemos um método que nos permitiu, pela primeira vez, medir a velocidade com que uma galáxia estava morrendo. E mostramos que as galáxias elípticas morriam mais rápido, de forma mais violenta.

Isso acontece, provavelmente, devido às colisões de galáxias. Quando duas galáxias espirais colidem, o evento é tão violento que pode mudar sua forma, transformando a soma das duas em uma nova galáxia elíptica — é o que provavelmente vai acontecer quando a nossa Via Láctea colidir com a Galáxia de Andrômeda, daqui a alguns bilhões de anos.

Esse evento poderia também expulsar o gás ali presente, matando ambas as galáxias no processo.

Quando isso não acontece, a galáxia pode morrer pacificamente, mantendo seu formato espiral e esgotando seu reservatório de gás aos poucos. É uma galáxia morrendo de velha, tranquilamente em sua cama cósmica.

O que é mais interessante é que nosso método também era capaz de medir o processo contrário: quando uma galáxia volta a formar estrelas após já ter "morrido"? Uma ressurreição no universo?

Esse processo também tem relação com a forma, e acontece sobretudo em galáxias mais assimétricas, sem uma forma muito definida. Isso provavelmente é o resultado de uma galáxia morta colidindo —e canibalizando— uma mais jovem com muito gás. Isso permite que a defunta volte à vida, formando novas estrelas ainda que por pouco tempo.

Um trabalho que me enche de orgulho. Não apenas porque é um tema bastante relevante no contexto do estudo da evolução de galáxias, mas porque é liderado por brasileiros. É sempre importante lembrar que aqui no país também fazemos ciência de ponta!