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'Criamos um monstro': como influ feita com IA ganha R$ 166 mil por mês?

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Desde que Diogo Cortiz, também colunista do UOL e apresentador do Deu Tilt, me falou dela, fiquei obcecado.

Basta ver alguns posts de seu perfil no Instagram para saber que ela bate ponto na academia. Seu gatinho preto, o Neo, é um fofo. Seu cabelo rosa já teve diversos comprimentos. Não hesita em exibir o corpo esbelto. Aitana Lopez é deslumbrante.

Não é isso, porém, que me faz pensar nela.

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Imagem: Arte/UOL

O lance é que Aitana não existe. Não é que ela habita meus sonhos. Aitana nunca tomou Sol nas praias em que foi fotografada, nunca andou por aquelas ruas, nunca vestiu aquelas roupas. Aitana é:

  • ... Um personagem sintético. Foi criada por inteligência artificial e, como ela, há uma legião de seres virtuais invadindo as redes sociais, seja para...
  • ... Vender ou promover produtos, atuar como namorada de solitários ou atuar como influenciador digital. Só que...
  • ... Ela, um ser digital, recebe convites para ir a lugares. E, para enevoar ainda mais os limites entre o físico e o real, Aitana posa com pessoas reais, como a designer Paula Gureta e a influenciadora Elena Moreli. Outra coisa bem real que ela faz é...
  • ... Negócios: a moça é embaixadora da rede espanhola de salões de beleza Llongueiras; faz publis para marcas por até 5 mil euros; cobra 7,50 euros mensais de quem a acompanhar no Fanvue, plataforma similar ao Onlyfans; e recebe entre 10 e 30 euros mensais para papear pelo Telegram. No fim das contas...
  • ... Aitana fatura até R$ 166 mil por mês, me contou a Clueless, agência de Barcelona que a criou. Com o sucesso dela, a empresa está criando 30 modelos virtuais. Uma delas será "brasileira". É...
  • ... Blair da Silva. Estranhou o nome gringo? Acontece que a Clueless sempre tenta incluir um "AI" ou "IA" no nome para remeter à inteligência artificial. PS. Laís, Maria, Flávia ou Patrícia atenderiam a regra sem parecer que os pais da moça perderam alguma aposta.
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Imagem: Arte/UOL
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Há um quê de perverso em figuras como Aitana: com feições incrivelmente reais, elas habitam as redes sociais, um espaço que por excelência favorece relações parassociais, "um fenômeno que emerge em conexões unilaterais entre duas pessoas", explica Diogo.

Olha o perigo. Depois de acreditar que Aitana é real, tem gente nutrindo por ela sentimentos para lá de humanos. É o caso de um ator mexicano de novelas, cuja identidade não me foi revelada. Ele se encantou e mandou DM convidando Aitana para um encontro quando ela fosse ao México.

Antes de rir do sujeito, saiba que tem gente séria —e poderosa— que admite: no futuro, muita gente vai cair de amores por seres de IA.

Acho que a tecnologia será tão poderosa que, sim, você vai ter pessoas entrando em relacionamentos profundos com esses assistentes ou agentes. Devemos nos preparar para todas essas possibilidades
Sundar Pichai, CEO da Alphabet, dona do Google e do YouTube

As consequências desses seres sintéticos, porém, vão além de uma dor de cotovelo e são mais profundas para nossa sociedade. A presença deles pode demolir as barreiras entre virtual e físico.

Os influenciadores sintéticos irão confundir os limites entre a realidade e a fabricação digital, desafiando a percepção de autenticidade das pessoas. Eles podem criar conteúdo atraente e envolvente, mas também podem contribuir para padrões e expectativas irrealistas
Sofía Novales, gerente de produto da Clueless

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Imagem: Arte/UOL

Depois da primeira "curtida" em uma foto de Aitana, passei a ser perseguido por personagens sintéticos. Alguns bens reais, uns assustadoramente reais, outros nem tanto.

Nem todos os personagens sintéticos querem ser confundidos com humanos. É o caso da Lu, do Magalu, e do CB, das Casas Bahia. Mas seus criadores veem a mesma coisa: o influenciador digital perfeito, pois trabalha sem reclamar, pode ter suas ações controladas e não cobra.

Fazendo brainstorming de novos e potenciais empreendimentos, ficamos surpresos com a taxa altíssima cobrada pelos influenciadores hoje em dia. Isso nos fez pensar: 'E se criássemos nosso próprio influenciador?' O resto é história: criamos um monstro sem querer. Um lindo, no entanto
Sofía Novales, gerente de produto da Clueless

A empresa pioneira não acha que seu monstrinho vá tomar o lugar de humanos, mas, sim, que vá conviver conosco.

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"Não achamos que modelos reais se tornem obsoletos ou sejam substituídos por modelos gerados por IA, como a Aitana. Antecipamos uma coexistência entre os dois. Vemos um potencial para os influenciadores virtuais terem um impacto mais forte em determinados setores, como moda e beleza, onde a estética visual desempenha um papel significativo.", diz Sofía.

Trends. Filtros. Vidas artificiais. E agora personagens sintéticos. Bons os tempos em que achávamos que as fake news eram as únicas coisas inventadas que circulavam nas redes sociais.

Deu Tilt

Toda semana, Diogo Cortiz e Helton Simões Gomes conversam sobre as tecnologias que movimentam os humanos por trás das máquinas. O programa é publicado às terças-feiras no YouTube do UOL e nas plataformas de áudio. Assista ao episódio da semana aqui:

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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