Nos bastidores do fim da Mixer, streamers relatam surpresa: "Foi um baque"
Jogo Rápido
- Streamers da Mixer foram pegos de surpresa com o anúncio do fim da plataforma
- Criada em 2016, a Mixer não conseguiu bater de frente com a concorrente Twitch
- No Brasil, mais de 200 streamers eram parceiros da Mixer, e agora decidirão entre Twitch e Facebook
Quando a Microsoft anunciou o fim da plataforma de streaming Mixer, a notícia foi uma surpresa para muita gente, incluindo os streamers que transmitiam por lá. "Amigos meus estavam em live quando a plataforma anunciou o fechamento e eles questionaram: 'Como assim vai fechar se estou ao vivo agora mesmo?'", comenta Heitor "Heitir", um dos maiores streamers brasileiros na Mixer.
O START conversou com ele e outros parceiros da plataforma aqui no Brasil, grandes e pequenos. Também soubemos sobre os bastidores do fim das operações pelos relatos de um ex-funcionário da Mixer.
Quem? Onde? Quando?
No final de junho, a Microsoft soltou a bomba: A Mixer teria só mais um mês de vida, encerrando as atividades em 22 de julho.
Todos os streamers com quem falamos receberam a informação da mesma forma que o público em geral: "Eu fiquei sabendo inicialmente via publicação no Twitter, depois de cerca de 20 minutos chegou um email da Mixer", conta Carneiro, do canal CarneiroPlayTV, que faz streaming na plataforma desde 2017.
Para Felipe Hayashi, do canal Hayashii, outro streamer brasileiro popular da Mixer, não passava pela cabeça um fim tão repentino, ainda mais depois da chegada do nomes grandes na gringa, como Ninja e Shroud, na plataforma: "A gente imaginava que existia um plano de longo prazo a ser seguido e que continuariam investindo", conta o streamer, que é conhecido por jogar Call of Duty.
Foi um baque para todos, em especial porque não haviam nem rumores de que isso poderia acontecer
Hayashii, streamer da Mixer
Após o anúncio, surgiram rumores de que até mesmo os próprios funcionários da Mixer ficaram sabendo na hora. Aqui no Brasil, pelo menos, foi o que aconteceu.
Bruno "VanDep" de Paula era gerente de parcerias da Mixer no Brasil e América Latina. Ele diz que até esperava mudanças, mas mesmo assim foi algo que ele não previu: "Existiam rumores internamente sobre o que aconteceria com a plataforma, mas a expectativa dos que estavam lá era que continuaria com o foco no mercado americano", revela.
Lamento muito pelo staff da Mixer, que era pequeno (60-70 pessoas) e que ralaram muito pra que desse certo, mas é a realidade desse meio
Bruno VanDep, ex-funcionário da Mixer
Em entrevista para o site The Verge, Phil Spencer, chefe da divisão Xbox, da qual a Mixer fazia parte, deixa claro que a aposta na plataforma não deu certo e ainda estava bem atrás em comparação ao principal rival, a Twitch, da Amazon.
Mixer: o começo de um sonho
A plataforma para transmissões ao vivo foi criada em 2016 com o nome de Beam e, no mesmo ano, foi comprada pela Microsoft e incorporada à divisão Xbox da empresa.
A intenção em ser uma concorrente da Twitch era óbvia e, em 2017, a empresa mudou o nome para Mixer, passando a se integrar com Windows 10 e Xbox One.
O objetivo era atrair jogadores para transmitirem o que jogavam direto do videogame. Deu certo para Carneiro, do canal Carneiro PlayTV: "Como minha plataforma de videogame preferida é o Xbox One, acabou sendo muito natural o meu interesse em fazer Lives na Mixer", conta o streamer, que está na plataforma quase desde o início.
No Brasil, a Mixer começou as operações em meados de 2018. Os investimentos no país começaram muito bem e fizeram com que a plataforma tivesse seu próprio estande na Brasil Game Show 2018, por exemplo. Segundo relatos, isso uniu bastante a comunidade de streamers da plataforma no pais.
Desde o início a Mixer vendia como um dos seus principais atrativos o recurso FTL (de Faster Than Light, ou Mais Rápido do que a Luz em tradução livre) para lives sem atrasos, o que melhorava a interação dos streamers com o público.
Só que a real vantagem da Mixer, principalmente em territórios como o Brasil, era ser uma plataforma em crescimento, o que era atrativo para streamers pequenos e de médio porte, que não precisavam brigar por tanto espaço como na Twitch, por exemplo.
Segundo Bruno VanDep, a situação ficou ainda melhor depois de iniciativas como os Sparks, as moedas virtuais da plataforma.
"O site se tornou muito atraente para streamers médios que popularam a plataforma por um tempo, porque (os Sparks) era uma forma (de o streamer) ganhar dinheiro sem que o público precisasse doar", explica VanDep.
Quanto mais tempo alguém assistia a uma live, mais sparks ganhava, e poderia mandar figurinhas para o streamer que, por sua vez, enchia um diamante para receber dinheiro. Tudo sem que o público pagasse com dinheiro real. "(o Spark) foi o maior acerto na história da empresa", comenta VanDep.
O sistema de Sparks foi temporário, mas cumpriu o objetivo: atraiu streamers que se tornaram parceiros. No Brasil, a Mixer chegou a ter mais de 200 streamers com esse status. Mas o que isso significava?
Parças
Assim como acontece na Twitch, streamers parceiros da Mixer recebiam alguns benefícios, entre eles: a possibilidade de monetizar o canal com incrições pagas, destaques da live na home da plataforma, receber embers (outra moeda virtual da plataforma) do público e, de vez em quando, até ganharem jogos no lançamento.
No começo da pandemia causada pelo Coronavírus, a grande maioria dos parceiros da Mixer também recebeu uma ajuda de custo de US$ 100 da plataforma, por causa das situações alarmantes.
Para alguns dos streamers parceiros da Mixer com quem conversamos e que eram considerados pequenos, com menos de cinco mil seguidores na plataforma, os benefícios não chegavam a gerar uma renda extra.
"Nós não vivemos de streaming, todo o dinheiro que entrava na conta era revertido pro canal e emergências pessoais", contam as meninas da Comunidade Gamer Feminina, um grupo só com streamers mulheres que faziam transmissões diárias na Mixer.
Debbie, Maia, Mel, Nina e Thai, as fundadoras do grupo e do canal, completaram um ano como parceiras da plataforma dois dias depois do anúncio do fim da Mixer. Ainda assim, elas não se arrependem de estarem por lá.
O Jogando Juntas, do casal Alina e Márcia, era outro canal considerado pequeno. Atraía de 40 a 70 pessoas nas lives, mas a parceria com a Mixer as beneficiou de outras formas:
"A nossa comunidade só aumentou após a nossa parceria com a Mixer", dizem as streamers. "Lá conseguimos conquistar várias pessoas que nos assistem com frequência".
Já streamers considerados grandes, como Hayashii e Heitir, que tinham mais de 90 mil seguidores na Mixer e chegavam a juntar cinco mil pessoas em live, têm um contrato com a plataforma e recebiam uma renda.
Hayashii, por exemplo, conta que divide o tempo entre as lives e os vídeos em seu canal no YouTube, mas que "as streams, já há uns anos, me dão um retorno financeiro maior e mais seguro que o Youtube".
Os contratos de ambos exigiam metas, baseadas em desempenho, mas eles consideram que era algo bastante justo e orgânico, e que funcionava bem para eles e a plataforma.
Os bastidores do começo do fim
Na metade de 2019, a Mixer freou os investimentos para a América Latina com o intuito de investir mais nos EUA. Pouco tempo depois, a plataforma anunciou o contrato de exclusividade de Ninja e Shroud, dois dos mais populares streamers da Twitch.
Tudo foi feito com pompa e direito a vídeo especial pelo Ninja.
Por aqui no Brasil, porém, sem os investimentos a situação ficava mais complicada. Bruno VanDep passou a trabalhar praticamente sozinho, sendo o único representante da empresa no país. Lembrando que, no total, a Mixer tinha cerca de 70 funcionários, a maioria nos EUA.
"Conseguimos no final lançar o Partner Spotlight BR, que colocava em destaques parceiros Brasileiros na capa do site. Fazíamos o que podíamos com o que tínhamos", conta o gerente de parcerias.
Do lado dos Streamers parceiros, alguns começaram a sair da Mixer. Foi o caso do canal Jogando Juntas.
"O que sentíamos era que a maioria dos streamers parceiros brasileiros estavam deixando a plataforma e voltando para a Twitch", dizem as streamers. "Tínhamos o receio de que a plataforma parasse com as atividades no Brasil, mas nunca passou pela nossa cabeça que terminaria totalmente".
Se para streamers que eram parceiros a situação já parecia complicada, para quem não era, a plataforma se tornava, cada vez mais, uma opção inviável.
Fabricio Ferreira, do canal Fabricio SDW, migrou para a Twitch em abril deste ano com um "baita aperto no coração, pois gostava da Mixer, mas eu precisava unir meu público em uma única plataforma", comenta.
Senti que deveria me dedicar por inteiro no Twitch, pois era onde eu estava conseguindo mais resultados nos últimos meses
Fabricio SDW, ex-streamer da Mixer
E agora: Facebook ou Twitch?
Com o fim da Mixer, a Microsoft também anunciou uma parceria com o Facebook Gaming, inclusive com a opção de os parceiros da Mixer continuarem com o mesmo status na nova plataforma.
No Brasil, foi oferecido a mesma opção para os streamers, mas o que decidir?
O Facebook Gaming ainda é uma plataforma em crescimento, mas que já passou por polêmicas e a saída de muitos de seus streamers. Ir para a Twitch, enquanto isso, é ter de se esforçar em dobro para ganhar destaque e relevância em meio a tantos outros nomes.
Canais como Jogando Juntas e a Comunidade Gamer Feminina recusaram a oferta do Facebook e optaram pela plataforma da Amazon. "Pretendemos nos estabelecer na Twitch, e focar no canal para tentarmos uma parceria no futuro", dizem Alina e Márcia.
Outros canais, como o CarneiroPlayTV, aceitaram a proposta e já realizam lives na rede de Mark Zuckerberg: "Estou animado com essa mudança e quero me empenhar para poder continuar crescendo e me desenvolvendo como streamer e influenciador".
Hayashii e Heitir, por ainda estarem em contrato com a Mixer, só vão decidir o futuro após o fim derradeiro da plataforma, em 22 de julho.
Adeus, Mixer
Além da surpresa pelo fim repentino da Mixer, um sentimento em comum com todos os streamers com quem conversamos era de terem vivido um bom momento na plataforma da Microsoft.
"Uma coisa quero ressaltar: o tempo que passei na plataforma é algo que levarei com muito carinho para minha vida", diz Heitir. O discurso é parecido entre todos os streamers.
O mesmo vale para BrunoVanDep: "Tinha muitas pessoas do bem e trabalhadoras, e gostaria de aproveitar esse espaço pra agradecê-las. Sem elas, a Mixer não teria sido nada aqui. Elas mereciam mais e serão bem sucedidas pra onde forem depois de tudo isso".
A partir de 22 de julho, a Mixer se junta a outras plataformas de streaming que nasceram e morreram nos últimos anos no Brasil, como Azubu, Streamcraft, Cube TV e outras.
De todas elas, a Mixer parecia a que poderia bater de frente com a Twitch, por ter uma empresa como a Microsoft bancando, mas fica cada vez mais evidente que o cenário de stream é difícil e precisa de muito planejamento a longo prazo.
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