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Vecet supera depressão e faz sucesso como narrador de League of Legends

Arthur "Vecet" Nogueira faz parte da equipe de transmissão do Circuito Desafiante de LoL  - Divulgação/Riot Games
Arthur "Vecet" Nogueira faz parte da equipe de transmissão do Circuito Desafiante de LoL Imagem: Divulgação/Riot Games

Gabriel Oliveira

Colaboração para o START

04/05/2020 17h00

O narrador de League of Legends (LoL) Arthur "Vecet" Nogueira, cujo trabalho no Circuito Desafiante vem sendo exaltado, se apoiou nos eSports para lidar com a depressão e hoje vive o melhor momento da carreira. Viciado em adrenalina, o caster de 30 anos quer retomar a prática de esportes radicais que marcaram a adolescência, buscando o equilíbrio de saúde e sucesso profissional.

Vecet tem recebido elogios pelas narrações no Circuito Desafiante ("Circuitão", para os íntimos), o torneio da 2ª divisão do cenário competitivo no Brasil. Ele também narrou partidas do Campeonato Brasileiro (CBLoL) de 17 a 19 de abril, em substituição a Tácio Schaeppi, que precisou se afastar temporariamente por conta de uma cirurgia bariátrica.

Natural de Niterói (RJ), Vecet começou a trabalhar com rádio online e site de animes em 2005, aos 15 anos. Em 2009, criou o canal no YouTube pelo qual passou a se tornar conhecido nos anos seguintes, com vídeos sobre LoL.

Nessa época, Vecet promoveu competições pela internet com a participação de inscritos de seu canal. Era organizador e, ao mesmo tempo, narrador.

Com a experiência que obteve e os contatos dos tempos de anime, o caster começou a ser convidado para narrar campeonatos online, eventos presenciais e torneios universitários. Neles, conheceu o comentarista Felipe Tonello, com quem Vecet dividiu os microfones em boa parte da carreira.

"Olhamos para a dupla de MonteCristo e DoA na Coreia do Sul, que sempre teve essa pegada de que não é só seriedade. Que pode ter uma conversa, uma piada, uma brincadeira. Fomos nos aprofundando em cima disso, de que é um espetáculo. Fizemos zilhões de campeonatos, basicamente todo fim de semana", relembra Vecet, em entrevista ao START, sobre a parceria com Tonello.

Em 2015, quando a Riot Games Brasil montou a equipe de casters que trabalharia no CBLoL, Vecet se afastou do League of Legends. Ele não chegou a participar do processo seletivo realizado pela desenvolvedora no ano anterior e continuou produzindo conteúdo para o YouTube, diversificando os jogos.

Voz no Overwatch

Vecet - Reprodução - Reprodução
Vecet em narração da Overwatch League
Imagem: Reprodução

Em 2016 veio o Overwatch, jogo que animou Vecet a novamente voltar as atenções para a narração.

"Eu me apaixonei por Overwatch. Eu disse: eu quero narrar este jogo", rememora o caster. "Foi quando eu decidi que queria ser narrador".

Vecet conta que se dedicou tanto ao First-Person Shooter (FPS) da Blizzard Entertainment que passou 48 horas gravando gameplay e lançou mais de 100 vídeos para o seu canal em um fim de semana. Com acesso às versões alpha e beta, o narrador se destacou na comunidade e logo recebeu convites da Blizzard para fazer transmissões em português de diversas competições, inclusive no Brasil. Ele se mudou para São Paulo em 2018.

No ano passado, Vecet narrou a Overwatch League, principal competição da modalidade, em uma fase crítica da Blizzard. Naquela época, pouco antes do início da disputa, houve demissão em massa na empresa norte-americana, o que afetou o departamento de eSports.

"Ficamos numa incerteza se iria rolar ou não [a transmissão], porque perdemos pessoas que estavam acima de nós. O pessoal que ficou deu a vida para fazer o produto acontecer", relata Vecet. "Quando começamos, decidimos seguir o que já estávamos fazendo e dar a nossa cara à transmissão. A Overwatch League sempre foi uma coisa descontraída".

Esse perrengue, com a consequente união da equipe de transmissão, concretizou o perfil de narração de Vecet. "A Overwatch League não teve muita divulgação no Brasil, como deveria ter tido, e o público estava ali porque, de alguma maneira, conseguimos mantê-lo ali, assistindo aos jogos, se divertindo e tendo noites bacanas. Foi a prova de que, como caster, podemos segurar o público".

Convite da Riot Games

Vecet Circuitão - Divulgação/Riot Games - Divulgação/Riot Games
Vecet em transmissão do Circuito Desafiante de League of Legends
Imagem: Divulgação/Riot Games

Também em 2019, Vecet recebeu o convite da Riot Games Brasil para fazer testes para a empresa, que promovia mudanças na equipe de casters, de olho na temporada 2020.

Principal voz do LoL brasileiro, Diego "Toboco" Pereira deixou a companhia, sendo substituído por Diniz "Gruntar" Albieri, que antes era do Circuito Desafiante, o que abriu uma vaga na 2ª divisão.

Vecet conta ao START que saiu do teste "devastado", porque cometeu erros na narração de umas lutas.

"Eu sou um cara que dependo da criação de histórias para narrar. Na hora do teste, muito baseado em lutas, acabei não indo tão bem. Eu me perdi um pouco nas coisas que estavam acontecendo. Não é que o teste tenha sido ruim, é que eu me foquei nestes detalhes que eu errei. Fiquei muito triste. Quando eu erro, fico neurado em cima disso", admite o narrador.

Semanas depois, em uma reunião, a Riot Games apresentou o projeto do Circuito Desafiante para 2020 e o convidou para comandar as transmissões.

"Eu fiquei extremamente feliz. Foi uma passagem, saindo de uma empresa que cuidou tão bem de mim, a Blizzard, para um novo passo", analisa Vecet.

Elogios da galera

Vecet narrando - Divulgação/Riot Games - Divulgação/Riot Games
Imagem: Divulgação/Riot Games

Logo na estreia, o novo narrador chamou atenção e recebeu elogios do público, de pro-players e de outros profissionais de eSports. Publicações positivas sobre a narração de Vecet se sucederam nas rodadas seguintes.

"Fico feliz com esta volta ao LoL, ainda mais com um público novo me conhecendo. Estou contente que estão curtindo a narração", comemora Vecet.

Ele destaca que a aceitação do seu estilo de narração lhe deu confiança para a sequência do Circuito Desafiante e a oportunidade de narrar o CBLoL, o torneio da elite do LoL brasileiro. Mais uma vez, a comunidade exaltou Vecet.

"Fico muito feliz de ter sido recebido tão bem por Tixinha, Melão e Nappon [casters do CBLoL]. Foi um quarteto que funcionou muito bem. Fico mais feliz de chegar no primeiro dia podendo manter o que eu sempre fiz, fazendo o meu, e as pessoas terem gostado. Eu nunca, na minha vida, imaginei que iria parar no Trending Topics do Twitter porque as pessoas curtiram meu trabalho", comenta o profissional.

Estilo próprio

Vecet caster - Divulgação/Riot Games - Divulgação/Riot Games
Imagem: Divulgação/Riot Games
Vecet desenvolveu estilo próprio, mais descontraído, e destaca que o papel principal do narrador deve ser transmitir emoção. Uma das características que o próprio caster pontua sobre si são as pausas durante as jogadas, o que cria uma tensão que prende o público.

"Eu gosto do estilo do CS [Counter-Strike], que aproveita muito do silêncio. Eu tentei entrar um pouco nisso. Às vezes eu estou falando e dou uma pausa? Vai construindo a [narração da] jogada e depois sobe [a voz]. Fazer uma coisa linear não tem o ponto onde a pessoa tem que prestar mais atenção".

"Narrador tem que passar emoção para quem está em casa. Não adianta a pessoa assistir ao jogo, mas estar apática. Conseguir levar emoção é uma das partes principais para mim".
Arthur "Vecet" Guimarães

Definindo-se como perfeccionista, Vecet conta que não costuma assistir a outros narradores, porque acaba absorvendo trejeitos e sotaques deles, mas não deixa de estudar. Ao término de cada transmissão, o caster vê as partidas que narrou por duas vezes. "Primeiro para analisar os jogos e depois para ver onde eu errei e o que eu posso melhorar".

Ele diz que também costuma ler os comentários dos espectadores, mesmo podendo se deparar com críticas dos haters implacáveis da internet. "Eu não me importo, eu sei filtrar. Às vezes tem comentário pertinente, apesar de negativo, porque a pessoa falou de maneira educada e explicou".

Antes de cada dia de trabalho, Vecet se aquece cantando. Fã de músicas de anime e rock pesado, o caster solta o vozerio. "É pra eu entrar com sangue bombeando, animado, para pegar o ritmo na transmissão e levar energia".

Ele chegou a iniciar um curso de locução na adolescência, mas não concluiu. Durante toda a vida, conta ter convivido com pessoas, como o ex-companheiro de transmissão Tonello, que lhe ajudaram a controlar e potencializar a voz.

Depressão

Para Vecet, os eSports não são apenas meio de subsistência por conta de sua atividade, mas também representam a tábua de salvação na luta contra a depressão. Ele faz questão de falar do assunto, que ainda é tabu na sociedade.

Ao START Vecet conta que a doença começou quando tinha 18 anos por problemas em um relacionamento e por ter deixado de treinar ginástica olímpica, em razão do encerramento das aulas que frequentava na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).

Na adolescência, o hoje narrador era adepto de esportes e atividades radicais. Além de ginástica olímpica, praticava parkour, trilha, surf, rapel, escalada. Parou tudo por conta da depressão.

"Eu era viciado em adrenalina", define o caster, que engordou por consequência da doença. "Eu queria fazer mais coisas, mas estava triste. Eu continuei comendo o que sempre comi. Eu como a mesma quantidade de comida daquela época. A diferença é que, ao invés de treinar um zilhão de horas na semana, eu parei de treinar".

eSports como salvação

Foi nessa época que a depressão apareceu que Vecet, com 19 anos, passou a se dedicar à produção de conteúdo e a investir nas narrações. Ele fez três cursos universitários (Educação Física, Mídias Digitais e Animação 3D), mas não concluiu nenhum deles.

"Tanto minha namorada, Bruna, quanto os eSports seguraram demais a minha vida. Criação de conteúdo, contato com o público e tê-la me apoiando sempre foram as bases para eu poder me reerguer", reflete o caster.

Ele não chegou a fazer terapia nem usou remédios contra a doença, mas recomenda que quem sofre da mesma doença procure tratamento psicológico. "Eu sugiro que ninguém faça o que eu fiz, porque sei o quanto eu sofri. Eu sei quantas noites passei em claro, o quanto dói, o quanto às vezes é difícil levantar da cama".

Os eSports tornaram-se, portanto, o tratamento para a doença de Vecet, que aprendeu a lidar melhor com os períodos tristes que ainda o afligem de vez em quando.

"Há momentos em que eu tenho de brigar para levantar da cama, mas o que importa muito é como você está lidando com isso. Existem, óbvio, situações em que você se deixa de entregar um pouco, mas é parar e pensar positivo", ensina Vecet.

Essa experiência o fez ter uma consciência ainda maior do seu papel na comunidade. Ele acredita que os seus conteúdos, sejam em vídeo ou em transmissões ao vivo, podem servir para aliviar a mente de quem sofre de depressão.

"É um choque de realidade pensar que o meu trabalho, o que eu estou fazendo, impacta muito na vida de outra pessoa, pode ser negativo ou positivo. Como figura pública, eu tenho uma responsabilidade pesada. É por isso que me preocupo muito com as pessoas", diz o caster.

De volta à adrenalina

Vivendo a melhor fase da carreira nos eSports, Vecet quer retomar a prática de esportes e atividades físicas, coisas que deixou de lado na época do início da depressão para se dedicar apenas ao trabalho.

"Eu sou tranquilo em ser gordinho, só que eu quero voltar a fazer umas coisas que meu corpo não deixa, então eu quero achar o equilíbrio", contextualiza o caster. "É um ponto da minha carreira em que eu posso ter um ânimo para focar um pouco mais nesse lado, trazer esses dois lados à tona ao mesmo tempo, o profissional e a saúde".

"Eu gosto de viver, não só sobreviver", arremata Vecet, ressaltando que a saúde reflete no seu desempenho e que é preciso aproveitar a onda recente de positividade. "Ver tudo dando certo reforça a pensar de uma forma melhor, cuidar mais de você mesmo, da sua imagem, do seu corpo, da sua saúde. Quando você está sendo recompensado, estimula a ter mais esforço".

Futuro

Embora esteja com a popularidade em alta, Vecet argumenta que não "tem a neura" de ser promovido para narrar o CBLoL. Ele repete que pretende só fazer o seu trabalho da melhor maneira possível.

"Se eu chegar ao CBLoL um dia, bacana, eu vou ficar feliz. Mas não é uma parada que me tira uma noite de sono: 'ah, eu tenho que chegar ao CBLoL, porque estou no Circuitão'. Vou continuar fazendo o meu trabalho", comenta o caster.

Ele destaca que pensa assim porque narra com a mesma entrega, independente do nível do jogo e do tamanho da audiência.

"A transmissão que eu faço em um tier 3 [terceira divisão] para 100 pessoas é a mesma que eu vou fazer no CBLoL com 75 mil. É por isso que eu não tenho muito essa neura de chegar lá", explica Vecet.

Quem acompanha o trabalho do narrador, que saiu de um site de animes para se transformar em narrador de uma voz inconfundível, não tem dúvidas do potencial dele.

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