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OPINIÃO

Pillars of Eternity II: Falhas técnicas ofuscam brilho do RPG nos consoles

Pillars of Eternity II: Deadfire é um RPG denso e cheio de conteúdo, mas que nos consoles sofre com "loadings" muito demorados - Divulgação
Pillars of Eternity II: Deadfire é um RPG denso e cheio de conteúdo, mas que nos consoles sofre com "loadings" muito demorados
Imagem: Divulgação

Rodrigo Lara

Colaboração para o START

28/01/2020 12h00

Resumo da notícia

  • RPG da Obsidian lançado para PC em 2018 finalmente chega aos consoles (PS4, Xbox One e Switch)
  • Aventura é um prato cheio para quem gosta de criar personagens e investigar os mínimos detalhes de cada missão
  • Experiência é prejudicada pelos tempos de carregamento: prepare-se para telas de "loading" superdemoradas

Sequência de um dos cases de maior sucesso do Kickstarter - o primeiro da série teve mais de 70 mil contribuintes na plataforma de financiamento coletivo -, "Pillars of Eternity II: Deadfire" é um tipo de game que faz o meu estilo: RPG complexo, com diversos sistemas diferentes e, principalmente, longo. Principalmente essa versão de console, que vem recheada com as expansões já lançadas para PC, daí o sufixo "Ultimate Edition".

Eu estava empolgado para reencontrar um dos melhores RPGs de 2018. Liguei meu Xbox One X e comecei o game disposto a dedicar um bom tempo a ele. O problema é que, logo nas primeiras horas de jogatina, ficou claro que se eu quisesse explorar devidamente o arquipélago do Fogo Morto, eu teria que gastar um tempo muito maior do que o planejado. E, pior: pelos motivos errados.

Tempo bem gasto

Em "Pillars of Eternity II" você encarna um personagem conhecido como Observador, nome que faz referência à sua habilidade de enxergar e interagir com a alma dos mortos. Depois do final do primeiro jogo, você está de boa na sua fortaleza quando um gigante de cristal adormecido sob a construção é despertado por um deus chamado Eothas. Você sobrevive graças a um outro deus, Berath, e em troca precisa ir atrás de Eothas e descobrir o que ele está tramando.

É uma sequência direta do primeiro jogo, mas todos os eventos são resumidos e recontados para familiarizar novatos na série.

Entre sair do zero e criar a minha elfa druida expert em manejar armas de fogo e adagas eu levei 36 minutos. A razão para isso é que, além de escolher raça, gênero e aparência, há uma série de outras opções, como definir a origem social do personagem, classe de habilidades

Como todo bom RPG da estirpe de "Baldur's Gate" e "Divinity: Original Sin", um dos primeiros sistemas de "Pillars of Eternity II" que você vai conhecer é a ferramenta de construção de personagem.

A opção surge logo após você definir se deseja jogar com um sistema de batalhas em tempo real, mas que pode ser pausado a qualquer momento, ou usando um modo totalmente por turnos. No primeiro caso, além da mudança no combate, o sistema de movimentação muda, emulando o "apontar e clicar" de um mouse. Já no segundo, os personagens se movimentam como em um jogo tradicional para console.

Pillars Inventário - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação

Segue-se então uma breve introdução e, após responder a um questionário referente às ações que o seu personagem fez no primeiro "Pillars of Eternity" - é possível importar um save do jogo anterior -, temos a tal ferramenta de criação do personagem.

Bem, entre sair do zero e criar a minha elfa druida expert em manejar armas de fogo e adagas eu levei 36 minutos. A razão para isso é que, além de escolher raça, gênero e aparência, há uma série de outras opções, como definir a origem social do personagem, classe de habilidades (é possível criar personagens híbridos, mas eles acabam evoluindo mais lentamente) e familiaridade com determinadas armas e distribuir alguns pontos de habilidade iniciais.

É, sem dúvida, um sistema robusto, mas que demanda tempo: se você é do tipo que quer saber exatamente o que está escolhendo, o que inclui ler a descrição de todas as opções antes de definir qualquer coisa, provavelmente vai levar o mesmo tempo que eu - ou até mais - para começar o jogo efetivamente.

Pillars of Eternity II: Deadfire

Uma aventura nos mínimos detalhes

Uma vez definido o seu personagem, ele acorda em um barco no qual comanda uma tripulação. A tranquilidade acaba logo e, poucos minutos depois, você já está no meio de um ataque de piratas. É o primeiro contato com o sistema de combate do jogo, que consegue ser dinâmico e cruel em doses similares.

Para se ter uma ideia, não há certeza de sucesso de nenhuma ação, já que "Pillars of Eternity II" usa a lógica dos dados de um RPG de mesa. Isso significa que mesmo um ataque ao lado do inimigo pode, simplesmente, errar o alvo. As decisões também precisam ser muito bem planejadas, uma vez que há o "fogo amigo": ataques com área de efeito podem atingir aliados e colocar tudo a perder durante as lutas.

'Pillars of Eternity II' usa a lógica dos dados de um RPG de mesa. Isso significa que mesmo um ataque ao lado do inimigo pode, simplesmente, errar o alvo

Dada essa complexidade toda, não é surpresa que cada luta, mesmo com inimigos comuns, leve alguns minutos para ser completada. Há a opção de deixar o controle de alguns aliados a cargo da inteligência artificial do jogo, o que ajuda a poupar um bocado de tempo e pode ser uma forcinha extra para jogadores inexperientes.

Pillars combate - Divulgação - Divulgação
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O mesmo vale para as batalhas marítimas, quando você terá que comandar o seu navio contra embarcações inimigas. Aqui, há uma lógica de turnos: a ideia é você, por meio de comandos consecutivos, posicionar o seu navio da melhor forma para atacar os inimigos. No decorrer do confronto, é possível afundar a embarcação inimiga ou, ainda, levar a cabo uma invasão e iniciar uma luta convencional contra os tripulantes adversários.

Isso, somado ao tempo que você levará para ler a enorme quantidade de textos que há no jogo - o que permite, por exemplo, fazer escolhas sensatas e evoluir corretamente os seus personagens -, para explorar o mapa em si, para completar quests que envolvem falar com vários personagens e por aí vai, significa que "Pillars of Eternity II" passa longe de ser indicado para jogadores mais afoitos por ação.

Mas, apesar desse "pedágio temporal" caro cobrado pelo game em si, essa é a parte boa das horas que você gastará com o RPG.

Tempo (muito) mal gasto

Pillars livro - Divulgação - Divulgação
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Explorar o que "Pillars of Eternity II" oferece seria muito mais tranquilo se o jogador não tivesse que lidar um problema de tirar qualquer um do sério: os gigantescos tempos de carregamento.

O incômodo é tamanho que me fez sentir saudade de jogos como "Destiny 2", "The Witcher 3" e "Uncharted 4". E vou além: em alguns momentos, precisei olhar duas vezes para ter certeza de que o RPG não estava rodando em um Neo Geo CD.

Duvida? Bem, eu anotei alguns tempos de carregamento para ações corriqueiras. Ligar o game e carregar um jogo salvo levou 1 minuto e 23 segundos entre eu apertar sobre o arquivo de save e o jogo começar, propriamente. Já entre resolver entrar em uma casa enquanto eu andava por uma das cidades jogo e, efetivamente, estar dentro dela, foram absurdos 42 segundos.

Esse problema se repete o tempo todo, uma vez que, principalmente em áreas urbanas, você vai querer entrar nos lugares para conversar com personagens, comprar itens etc.

Explorar o que "Pillars of Eternity II" oferece seria muito mais tranquilo se o jogador não tivesse que lidar um problema de tirar qualquer um do sério: os gigantescos tempos de carregamento

Para dar uma noção mais exata, cronometrei quanto tempo dentro de uma 1h de jogatina eu passaria vendo telas de carregamento: 25 minutos. Em um game que exige cerca de 50h para ser completado, isso significa que você passará por volta de 20h encarando carregamentos. É quase um dia todo vendo uma tela de loading.

E, ao que tudo parece, essa treta toda com o tempo de carregamento não é de hoje: é possível encontrar relatos de reclamações similares até mesmo quando a versão de PC foi lançada. Considerando que é uma questão que afeta diretamente no gameplay, resta esperar uma atualização que ao menos alivie esse problema.

Além dos loadings em excesso, a versão de console de "Pillars of Eternity II" dá umas engasgadas, com quedas de taxa de quadro e até mesmo alguns travamentos, algo especialmente sério se considerarmos que o game rodava no console mais potente disponível no mercado. Novamente, o que resta é esperar atualizações que possam corrigir esses problemas.

No mais, o jogo traz belos gráficos, textos traduzidos para o português e uma jogabilidade que, no final das contas, funciona bem em sua adaptação para os consoles. Pena que, com todos os problemas de desempenho, os vários pontos positivos desse ótimo RPG acabem ficando relegados a um triste segundo plano.

Pillars Navio - Divulgação - Divulgação
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Pillars capa - Divulgação - Divulgação
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"Pillars of Eternity II" finalmente chega aos consoles, mantendo a sua pegada de "RPG-robusto-que-exige-dedicação" vista nos PCs. O problema maior é que, no caminho entre os computadores e os videogames, o jogo adquiriu uma série de problemas, com destaque para os loadings demorados e numerosos. São questões que fazem com que, infelizmente, o brilho de uma grande história acabe sendo ofuscado por problemas técnicos.

Lançamento: 28/01/2020
Plataformas: PlayStation 4, Switch e Xbox One
Preço sugerido: R$ 249,90 (PS4) e R$ 222,45 (Xbox One); preço para Nintendo Switch indisponível
Classificação indicativa: 14 anos (Violência, Nudez, Linguagem imprópria)
Desenvolvimento: Obsidian Entertainment
Publicação: Versus Evil

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL