'Como Nossos Pais': o que Belchior quis dizer em música eternizada por Elis
A campanha publicitária da Volkswagen, que reuniu Elis Regina e Maria Rita com a ajuda da inteligência artificial, causou polêmica nas redes sociais e mobilizou sentimentos conflitantes. O comercial usou a canção "Como Nossos Pais", escrita por Belchior em 1976 e eternizada na voz de Elis.
Qual a origem da música?
A música, trata do conflito de gerações em sua letra. Em entrevista ao professor Pasquale, no programa Nossa Língua Portuguesa, transmitido pela TV Escola na década de 1990, Belchior explicou o real significado da música.
Essa música surgiu da vontade, explícita e direta, de fazer uma canção ácida, um pouco amarga, reflexiva, sobre essa condição sempre mutante do jovem na era da comunicação e o comprometimento político que essa mudança acarreta. Como essa mudança ocorre com muita frequência, eu quis fazer uma canção que ultrapassasse a mera narrativa do conflito de gerações, e que fosse também pessoal. Que falasse do conflito de gerações, sim, mas naquilo em que ele comprometia a alma do jovem urbano, provinciano e metropolitano.
A entrevista foi ao ar em 1996, 20 anos após o lançamento de "Como Nossos Pais". Ainda assim, o próprio Belchior enfatizou que a canção ainda continuava muito atual, "apesar da acidez", e que os espectadores iam assumindo o significado dela ao longo do tempo.
Questionado por Pasquale, ele ainda deixou claro que se identificava com a letra da música.
"Quero dizer também que há um outro aspecto interessante: o autor não tem tanto distanciamento nessa canção. Eu, como autor, estou comprometido com o personagem dela. Eu me identifico com aquele drama, com aquele conflito e também com o contraste que eventualmente o autor poderia elidir, mas que nesse caso não faz", disse.
'Ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais'
Belchior também falou sobre um dos trechos mais emblemáticos da letra da canção, o que diz que "ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais".
Essa constatação, essa verificação, parece uma coisa assentada na música, como se a gente dissesse sem que passasse para o espectador a pena, a dor que vem dessa constatação. Daí o comprometimento do autor, simplesmente observamos que isso acontece, mas não concordamos com isso, não gostaríamos que assim fosse. Aí é que o eventual distanciamento do autor, e a palavra do autor às vezes é confusa. Às vezes esse distanciamento não é muito bem percebido. Mas, na minha consciência de autor da música, isso é perfeitamente claro. E creio que, ao longo do tempo, para a maioria dos ouvintes, esse sentimento que é tão preciso na música vem passando com muito vigor.
Belchior morreu aos 70 anos em Santa Cruz do Sul (RS), em 2017.
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