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Por onde anda a banda Malta, campeã da 1ª temporada do Superstar?

De Splash, em São Paulo

07/04/2023 04h00

A banda Malta explodiu para o Brasil em 2014, quando venceu a primeira temporada do reality Superstar (Globo).

O grupo de rock impressionou de cara por se inscrever no programa sem que seus integrantes jamais tivessem feito um show juntos antes. Para completar a receita, decidiram subir ao palco para cantar músicas autorais, fugindo dos covers que geralmente marcam os realities musicais.

A largada foi de muito sucesso. Depois de ganhar o programa, eles venderam mais de 300 mil cópias do álbum Supernova e acumularam vitórias em premiações, incluindo duas indicações ao Grammy Latino em 2015. Mas os anos seguintes foram de muitas mudanças, um declínio duramente sentido e o sonho de agora voltar ao topo em nova formação.

Splash reuniu o guitarrista Thor Moraes, o baterista Adriano Daga e o novo vocalista João Gomiero para relembrar a história da banda que completará dez anos em setembro deste ano.

Da formação que venceu o Superstar, o vocalista Bruno Boncini deixou a Malta em 2016 após divergências profissionais. Segundo os ex-colegas, o motivo que mais pesou foi a rotina de viagens do grupo e a vontade por uma vida mais anônima.

"Eu xinguei para caramba, falei tudo que você pode imaginar, mas foi tudo bem resolvido. [...] No Brasil, a galera tende a focar sempre no vocal e isso gera um estresse maior. Ele preferiu o anonimato. Ele não gostava muito de viajar e sempre foi um problema, sempre foi uma dificuldade", diz Thor Moraes.

Depois de Boncini, a banda ainda teve Luana Camarah nos vocais. Ela foi escolhida em um reality promovido pelo grupo e anunciada ao vivo no palco do Encontro (Globo) ainda em 2016, permanecendo no grupo até 2020. Após a pandemia e um período com Thor nos vocais, o grupo prepara a volta com novo vocalista.

'Essa daí é a minha banda'

João Gomiero, o vocalista que chega para cantar na nova fase da Malta, é um homem que por 11 anos cantou em barzinhos e manteve um podcast sobre música, o Troca o Disco, mas que pagava as contas mesmo como gerente financeiro.

Em um show na noite, o cantor conheceu Giu Daga, o produtor musical que reuniu a banda pela primeira vez em 2014 e irmão do baterista Adriano. Em 2021, Giu foi convidado do podcast do amigo e do papo entre os dois abriu o caminho para o convite final.

"Dois meses de ter gravado esse programa toca o telefone, mais ou menos 21h30, com uma mensagem dele: 'aí, João, negócio é o seguinte, eu não sei que que você quer fazer da sua vida, se você tá cantando ainda ou não, mas eu te indiquei pra Malta'" João Gomiero

Nove anos atrás, o novo vocalista da Malta estava sentado no sofá assistindo ao Superstar quando a banda estourou. Ele afirma a Splash que via a música que eles estavam fazendo e sonhava em estar no lugar que Bruno Boncini ocupava à época.

"Na hora que eu vi Malta pela primeira vez com um show incrível e vocal absurdo, lembro de virar para minha esposa, ela gostando muito e dizendo 'nossa, que legal, parece o som que vocês fazem', que eu tinha uma banda própria também. E falei: "essa daí é a minha banda, só que com outro vocalista", destacou.

É engraçado, mas eu sempre depositei uma energia de tipo 'sabe que a Malta é um lugar que eu consigo estar? Eu acho que eu conseguiria estar ali e seria um negócio que casaria'. E no final das contas eu tô aqui agora e é muito legal ver isso pensando no passado sabe? Esse é lei da atração que não falha e é uma coisa linda.
João Gomiero

Para 2023, os planos de recomeço da Malta incluem os lançamentos de um DVD com 28 faixas, que já está gravado e está previsto para abril, e um álbum de músicas inéditas, que pretendem lançar no segundo semestre.

O DVD será um mix de músicas do primeiro álbum e da fase com Luana, medleys de outras bandas e algumas inéditas. No ano passado, o primeiro lançamento da nova fase com quatro faixas, sendo uma em parceria com a banda Rosa de Saron, parceira musical mais frequente do grupo.

O grande sonho agora não poderia ser outro: querem viver de novo o que a Malta viveu entre 2014 e 2016. "Acho que nós tivemos a grande oportunidade de viver nosso sonho, já concretizar e realizar nossos sonhos. Agora, eu acho que é continuar esse sonho, só que com o João tendo as mesmas experiências que nós tivemos", diz Thor Moraes.

'Compramos essa briga lá dentro'

Lançado em 2014 na Globo, o Superstar tinha a meta de descobrir novos talentos na música. Com a primeira temporada exibida nas noites de domingo, a atração contava com Fernanda Lima, André Marques e Fernanda Paes Leme como apresentadores

O time de jurados era formado por nomes de peso na música brasileira: Ivete Sangalo, Fábio Júnior e Dinho Ouro Preto. Além disso, o público era convidado a participar com voto nas melhores apresentações por meio de um aplicativo da emissora carioca.

A loucura de estrear uma banda no palco de um reality show e tudo que veio depois daquele dia é algo que vive nas memórias dos dois integrantes que viveram a experiência.

Todo mundo já tocava, já tinha suas carreiras, mas ali foi a primeira apresentação e aparição da banda. Então, tinha todo esse cuidado e apreensão de 'pô, é uma banda de rock se apresentando pela primeira vez ao vivo num domingo à noite, em uma das maiores redes de TV do mundo, né?'. Deu um belo frio na barriga.
Adriano Daga

Para Thor Moraes, a decisão da Malta em se apresentar trazendo suas músicas autorais foi acertada. Afinal, se o objetivo da atração era descobrir novos talentos, nada mais lógico do que levar a sua marca ao programa. Entre as músicas apresentadas, "Diz Pra Mim" e "Memórias" são duas faixas que se tornaram hits da época.

"Era todo mundo fazendo cover e a gente insistindo [para tocar músicas próprias]", diz. "A gente comprou essa briga lá dentro, né? Eu acho que esse foi o diferencial que você não se vê tanto hoje em dia, a galera brigando pelo som autoral acima de qualquer coisa."

Com 74% dos votos do público, Malta superou as bandas Jamz, Luan e Forró Estilizado e Suricato na final do reality da Globo e embolsou R$ 500 mil, além de um grande contrato com a Som Livre. Com o prazo apertado para concluir e lançar o primeiro CD, a banda aproveitou que suas músicas a bem da verdade já tinham sido "lançadas" ao vivo.

"Não tem melhor coisa do mundo você ter um CD praticamente inteiro lançado na maior TV de audiência do Brasil. E aí foi aquele sucesso que deu, né? Deram 15 dias para a gente terminar e lançamos. A gente lançou e com 24 horas de lançamento do álbum já bateu disco de ouro físico e isso não acontecia há sei lá quantos anos"" Thor Moraes.

Mudanças de vocalistas

A saída de Bruno Boncini por incômodo com a rotina atribulada, apesar de ter sido "bem resolvida", não deixou de ser também frustrante, porque aconteceu pouco tempo depois do auge improvável do grupo. "Entendo isso porque eu também sou um pouco assim, mas a gente conseguiu o mais difícil que é estourar uma banda de rock no Brasil", comenta Moraes.

A escolha por fazer um concurso para substituí-lo foi ideia de Adriano Daga. Foram mais de 800 mil inscritos, que foram filtrados em dez finalistas. Ao final do percurso, a única mulher entre os concorrentes foi a vencedora. São dela os vocais dos álbuns "Indestrutível" (2016) e "Malta IV" (2019)

"No rock ainda tem aquele lance assim tipo 'mano, rock com mulher'. Só que a gente não ligava para isso porque a gente a gente viu que a Luana era", declarou o guitarrista. "Ela é uma das melhores vocalistas que tem no mundo se bobear. É uma potência realmente inacreditável que ela tem. Nas gravações, eu falava "pelo amor de Deus, Luana. Que é isso."

Com a chegada da pandemia, Malta pausou a agenda de shows e começou a pensar em novos projetos para se manter na ativa. Entre as conversas, Luana e o grupo acabaram encerrando a parceria "em comum acordo".

"Acho que foi o caminho natural das coisas. A gente percebeu que estava forçando demais uma coisa que não ia acontecer naturalmente", diz Thor, que por dois anos assumiu o vocal após a nova mudança. Uma experiência que ele não deseja repetir.

"Eu pude entender o quão difícil é cantar, cantar e tocar então nem se falar", diz. "Depois eu falei: "precisamos achar alguém porque eu não consigo. Não é isso que eu quero. Quero tocar e pular como uma tilápia saindo da água no palco". A minha vida e e a minha essência é essa, né? Eu me senti muito travado ali."

Com João Gomiero no vocal, Adriano Daga acredita que a Malta está com uma vibe parecida de quando explodiram para o Brasil e crê num recomeço "com pé direito".

"Cada álbum, cada nova "História", citando até nossa música. Então, cada época é um recomeço, né? Ainda mais quando você muda de vocalista. Pra nós, é um recomeço inclusive de volta ao começo. A gente tá com o João sentindo que estamos numa essência muito parecida do começo da banda no aspecto de composição, sonoridade. Então, é um recomeço com o pé direito", finalizou.