Topo

Não é só dinheiro: por que famosos se afastaram de filmes pornôs no Brasil?

Alexandre Frota e Chloe Jones na capa do filme "Obsessão", produzido pela Brasileirinhas - Reprodução
Alexandre Frota e Chloe Jones na capa do filme "Obsessão", produzido pela Brasileirinhas Imagem: Reprodução

De Splash, em São Paulo

11/11/2022 04h00

Fundada em 1996 por Luis Alvarenga, a Brasileirinhas marcou a "era de ouro" do mercado pornográfico no Brasil. Nos últimos 20 anos, a produtora de filmes contou com nomes conhecidos do público que acompanhava a TV: Alexandre Frota, Rita Cadillac, Gretchen, Leila Lopes e Mateus Carrieri.

A internet mudou a perspectiva não só da empresa, mas também de todo o setor. Por diferentes motivos, são raras as participações de artistas consolidados nas produções pornográficas desde 2010.

Fontes ouvidas por Splash citam a própria mudança do mercado, menos concentrado em grandes produtoras, que deixaram de pagar altos valores em cachês; e a consolidação de novas plataformas, como o OnlyFans. Além disso, no longo prazo ficou mais claro o custo social para quem aceitou fazer filmes do gênero e acabou excluído de ações publicitárias e projetos na TV.

A realidade das principais empresas que produzem filmes pornográficos no Brasil hoje não é mais a mesma do que era na época. Clayton Nunes, CEO da Brasileirinhas, conta em entrevista a Splash mudanças de estratégia tanto da empresa quanto dos profissionais que atuam nas produções.

Antes produtos que faturavam alto nas locadoras e sustentavam por si só a indústria, hoje os filmes são meio para que a Brasileirinhas ganhe dinheiro com outras fontes de recursos, como acesso premium a bastidores, caso do reality "Casa das Brasileirinhas".

Já as atrizes entram no jogo para se tornarem conhecidas, o que aumenta a base de seguidores e abre outras portas, a mais vistosa delas sendo as plataformas em que podem vender conteúdo diretamente a interessados, como o OnlyFans.

"Elas nos procuravam anteriormente com a finalidade de serem atrizes pornôs. Hoje elas buscam apenas a fama, aumentar a base de seguidores, ficarem conhecidas para aí, sim, entrar no OnlyFans ou obter êxito com um canal no XVideos", comentou Clayton Nunes.

"Consiste em acompanhar o dia das atrizes por uma semana. Você conversa diretamente com elas em nossos chats e ainda vê, ao vivo, como são feitos os filmes pornôs. A melhor participante do mês ganha o direito de retornar no mês seguinte", explica Nunes sobre o "Casa das Brasileirinhas".

Rita Cadillac participou de filmes pornôs entre 2004 e 2008 - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Rita Cadillac participou de filmes pornôs entre 2004 e 2008
Imagem: Reprodução/Instagram

'Fiz por dinheiro'

Em reportagens da época e em entrevistas recentes, celebridades relatam ter recebido valores menores do que os que hoje se praticam no mercado pornográfico.

Em entrevista ao podcast 4talk Cast em agosto de 2021, Alexandre Frota revelou quanto ganhou com filmes pornôs após ser questionado pelos apresentadores Victor Sarro e Cintia Chagas.

"Não me arrependo de ter feito. Na época foi ótimo. Recebi R$ 500 mil por quatro filmes, mais um apartamento, em São Paulo, que valia R$ 180 mil", afirmou.

Assim como admitiu Rita Cadillac em live realizada em outubro de 2020, Alexandre Frota foi claro em relação ao motivo de ter entrado no mercado: dinheiro.

"Escolhi fazer uma coisa que gostasse de fazer e ainda ganhasse grana. Escolhi a melhor produtora e fui. Entrei e o cara não acreditou. Ele olhou para minha cara e riu. Mas eu disse que iria fazer", completou o ator.

Reportagem da revista Veja, publicada em 2009, conta que especulava-se nos bastidores que as atrizes Leila Lopes e Regininha Poltergeist ganharam em torno de R$ 300 mil para participarem de três filmes. Profissionais da época divergiam em declarações sobre os valores de fato investidos em cada produção, mas é certo para nomes de destaque da indústria que os investimentos atuais são bem mais modestos.

A atriz pornô Katharine Madrid, destaque do setor atualmente, comentou sobre a queda de investimentos em relação ao passado em conversa com Splash. Ela destaca que o conteúdo era mais restrito na época das locadoras, o que aumentava a valorização e se convertia em lucro para as produtoras.

"Pelo que o pessoal da Brasileirinhas me passa, eu ganharia muito bem se eu trabalhasse naquela época (anos 2000). As atrizes raramente faziam programas e, quando faziam, cobravam muito caro para fazer uma renda extra. Mas conseguiam se manter somente com os filmes", comentou.

Redes sociais e novas plataformas

Outras das figuras de maior sucesso no mercado pornô atualmente, Elisa Sanches acredita que a exposição é um dos fatores que afastam artistas já consolidados.

"O preconceito existe, infelizmente. As pessoas sofrem essa discriminação. Faz você perder a vontade de fazer, apesar de nunca ter atrapalhado meu trabalho. [...] O mais importante é ser você mesma", comentou a atriz.

Katharine Madrid participou de 20 filmes produzidos pela Brasileirinhas e relata que a visibilidade é o único interesse das atrizes. Para ela, o setor não é atrativo para quem já tem fama na TV, no streaming ou nas redes sociais.

"É mais fácil ter uma produção independente e se beneficiar do nome que você já tem. Em outras plataformas você fica com o lucro líquido, e não só com o valor de um cachê. Quem mais ganha com os filmes são as produtoras, que podem vender e terceirizar os conteúdos", analisou Katharina.

A atriz pornô Katharine Madrid - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
A atriz pornô Katharine Madrid
Imagem: Arquivo Pessoal

As redes sociais tiveram participação vital nesta mudança de cenário, principalmente após a chegada de canais próprios para comercialização de conteúdo adulto.

A mudança direcionou o lucro para outro mercado. Ao todo, entre recursos obtidos e intermediados pela empresa, o OnlyFans estima movimentar mais de R$ 30 bilhões por ano no mundo.

Pessoas ou marcas?

Para Christie Giovannetti Poleto, especialista em gestão de imagem e marca pessoal, a participação em um filme pornô pode atrapalhar a sequência da trajetória profissional dos atores.

"Acho que vão principalmente pelo dinheiro, sempre pensando não vai interferir na sequência. Mas depende. Caso eles busquem um trabalho considerado conservador no futuro, é possível que essas participações atrapalhem [...] O próprio Alexandre Frota nunca mais fez uma novela", lembrou em papo com Splash.

Segundo a análise da especialista, artistas também se consideram marcas atualmente e precisam considerar a influência e as parcerias que exercem nas redes sociais. Este movimento também motiva o afastamento do artista em relação ao mercado pornô.

"Em um início de carreira é importante seguir a essência, sem gerar polêmicas ou posicionamentos que a pessoa não precisa. A sua marca precisa que você levante bandeiras? É bom ter calma. Uma pessoa é diferente de uma marca", analisou.

"Você vai se posicionando dentro dos seus objetivos. Se você já é famoso e escolhe fazer um filme pornô, acreditando que não vai arranhar uma imagem fortalecida? É um risco", analisou Christie. Elisa Sanches também contou que já deixou de ser chamada para projetos devido aos trabalhos em pornôs.

"As atrizes americanas saem do pornô para fazer sucesso em Hollywood. No Brasil, os atores vão para a pornografia após desaparecerem da televisão", comentou o empresário Evaldo Shiroma em entrevista à Veja em 2009.

A atriz Sasha Grey começou carreira no pornô antes do sucesso em "Open Windows" (2014) - Divulgação - Divulgação
A atriz Sasha Grey começou carreira no pornô antes do sucesso em "Open Windows" (2014)
Imagem: Divulgação

Sexo sem exames

Diferente do que acontecia na época em que os artistas se destacavam no pornô, as medidas de segurança apresentaram falhas nos últimos anos.

"Estou no pornô desde 1999, e só ouvi falar de brasileiros com HIV em 2004, quando uma atriz testou positivo nos EUA. Não acontecia no Brasil até o ano passado, quando apareceram três atrizes que contraíram o vírus produzindo cenas para canais de streaming", contou Clayton Nunes, da Brasileirinhas.

Fora das empresas renomadas do mercado, como a Brasileirinhas e a Sexy Hot, as filmagens nem sempre são acompanhadas por produtores especializados. Para Clayton, esse é o principal fator para a falta de segurança no setor.

"Pessoas estão fazendo sexo sem exames ou, quando feitos, são testes em postos de saúde gratuitos. A maioria realmente não entende que usar exames de um mês atrás não faz sentido", concluiu.