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'Eu sofri da heterossexualidade compulsória', diz Bruna Linzmeyer

Bruna Linzmeyer - Reprodução/Instagram
Bruna Linzmeyer Imagem: Reprodução/Instagram

De Splash, em São Paulo

29/08/2022 13h57Atualizada em 29/08/2022 16h53

Bruna Linzmeyer disse que sofreu com a heterossexualidade compulsória antes de se relacionar com mulheres. Hoje, ela se identifica como "sapatão-queer".

A atriz de 29 anos escreveu um depoimento exclusivo à Vogue em celebração ao Dia Nacional da Visibilidade Lésbica.

"As primeiras vezes que eu fiquei com mulheres foram mágicas, foi leve e divertido. Essas relações fizeram com que eu me enxergasse de outro jeito, eu gosto de quem eu sou quando eu estou entre mulheres, especialmente entre mulheres queers", relatou Bruna.

Ela lembra que alguns meses depois do início do primeiro namoro com uma mulher, foi surpreendida com uma matéria expondo fotos e a rotulando como "bissexual".

"Com o passar do tempo, fui olhar de novo pra aquela matéria de jornal. Talvez o que foi mais duro nela não foi expor minha relação e a pessoa que estava comigo, foi me definir como 'bissexual'.

Por que bissexual? Por que eu fui casada com um homem cis antes de começar a namorar mulheres? Até hoje, muitas pessoas se confundem dizendo que sou bi ou pansexual, só porque eu já me relacionei com homens.

A atriz explica no texto o conceito de heterossexualidade compulsória, cunhado nos anos 80 por Adrienne Rich — filósofa e teórica queer.

"Fala sobre como somos levados a sermos heterossexuais sem nunca nos perguntarmos se é isso mesmo que a gente quer, que a gente gosta, que a gente é. Aquela coisa que você faz na vida só porque tá todo mundo fazendo. [...] E por conta disso, muita gente se casa em casamentos heterossexuais, têm filhos e segue todo esse roteiro normativo sem nunca conseguir olhar pro seu próprio desejo, escutá-lo e ter coragem de vivê-lo caso ele seja dissidente dessa norma".

Bruna ainda relatou que seu irmão terminou um casamento de 11 anos com uma mulher para ficar com um homem. Na ocasião, ninguém o rotulou como bissexual.

"Pareceu claro muito rapidamente pra todo mundo que ele era gay. Por que eu era bi e ele era gay? Será que a nossa sociedade valoriza e reconhece muito mais as relações que têm falos? Nessa lógica equivocada, dois homens cis sempre seriam gays e duas mulheres sempre seriam bi... Complicado, né?"

Refletindo sobre a matéria, a atriz concluiu que era lésbica (ou "sapatão", como ela prefere se referir). "Entendi que apesar de ter me relacionado com homens cis até os meus 22 anos, e terem sido ótimas relações, eu sofri da heterossexualidade compulsória".

E sou sapatão com muito orgulho, e me considero queer também. Entendo minha identidade-sexualidade como sapatão-queer. Queer significa "estranho"/ "anormal" em inglês. É uma das formas que ainda tentam me ofender, me xingam "você é anormal". E quem disse que eu quero ser normal?

"Esse mês de agosto é importante pra gente ouvir o que essas vozes estão dizendo, mas também pra gente comemorar nossos amores, nossa vida, as tantas mulheres lésbicas que fizeram caminho pra que a gente chegasse aqui", pontua Bruna Linzmeyer.