Por que Claudia Raia 'deixou' a política após apoiar campanha contra Lula?
Com a aproximação das eleições de 2022, diversas celebridades vêm se posicionando a favor dos principais candidatos à Presidência da República: Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Jair Bolsonaro (PL) e Ciro Gomes (PDT). No entanto, uma personalidade que não pretende usar de sua imagem para influenciar no pleito deste ano é Claudia Raia.
Hoje com 55 anos, boa parte deles dedicados à arte, Claudia Raia já participou ativamente do cenário político do Brasil em 1989, quando foi uma das celebridades mais entusiasmadas a se posicionar em favor da candidatura de Fernando Collor de Mello a presidente pelo então PRN (atual Agir), que disputou e venceu o segundo turno contra Lula.
No entanto, o desfecho dessa história se tornou um pesadelo para a atriz. Collor adotou a impopular medida de confiscar as poupanças dos brasileiros para conter a inflação e acabou deposto do cargo tempos depois em meio a escândalos de corrupção.
Por ser amiga do político e ter se engajado ativamente na campanha, Raia foi alvo de inúmeras críticas e, a partir daquele momento, decidiu que não se envolveria mais em campanhas de políticos, nem mesmo para apoiar seus familiares.
Início da amizade
Em 1991, Claudia Raia falou abertamente sobre o início de sua amizade com Fernando Collor de Mello em entrevista ao programa "Roda Viva", da TV Cultura. Na ocasião, a atriz contou que eles se conheceram quando ela viajou com a peça "Gatão de Estimação" para Maceió. Collor e sua então esposa, Rosane Malta, se apresentaram como fãs do trabalho de Claudia Raia e foram conhecê-la nos bastidores.
À época, lembrou Raia, Collor era candidato a deputado federal por Alagoas e ela fez questão de demonstrar apoio a sua candidatura. Com a vitória nas urnas, a artista lembrou que Collor passou a considerá-la como "pé de coelho", ou seja, um amuleto da sorte.
"Ele era candidato a deputado federal. Fiz um agradecimento à presença deles na plateia, já conhecia ele de jornal, achava um político interessante, e eles foram até o camarim me cumprimentar, e eu disse para ele: 'você vai ganhar como deputado federal'. Assim foi o início da nossa amizade. Ele ganhou, achou que eu era pé de coelho dele, que eu tinha que estar do lado dele, e ficamos muito amigos", declarou.
Naquela entrevista, a atriz se referiu a Collor como uma pessoa bem-humorada e que "isso ninguém pode negar". "Ele é uma pessoa absolutamente determinada, ele é muito exigente com ele mesmo", falou.
Vídeo de campanha
O pleito de 1989 foi importante para a democracia brasileira porque significou a retomada das eleições pelo voto popular, após 29 anos de um período marcado pela ditadura militar e o assassinato de centenas de opositores por parte dos militares.
Naquele cenário, os nomes mais fortes ao Planalto eram Collor e Lula — Collor venceu com 55% dos votos válidos, em uma campanha fortemente marcada pela televisão — a edição tendenciosa da TV Globo em favor de Collor em um debate é o episódio mais célebre. Décadas depois, o petista acusou a emissora carioca de fazer uma "mutreta" para prejudicá-lo. A Globo já admitiu ter errado no episódio.
Mas aquela campanha também contou com a participação de diversas celebridades, a exemplo de Claudia Raia, que se destacou pelo entusiasmo e pela fé que depositava no político. A atriz chegou a protagonizar comerciais em que incentivava os brasileiros a irem votar como ela, "de verde e amarelo, cheia de fé", para votar "certo, votar em Collor".
"Eu vou votar pela primeira vez para presidente como a maioria dos brasileiros. E você não vai perder essa oportunidade, né? Saía de casa como eu vou fazer de verde e amarelo, cheia de fé, na cabine eleitoral pegue sua cédula igual a essa e vote certo, vote para ganhar, marcando para ganhar, 20, Collor. Vote como eu, vote Collor", disse a atriz na propaganda eleitoral.
Arrependimento
Três anos depois de vencer as eleições, Fernando Collor de Mello foi destituído do cargo. O então presidente se viu envolvido em vários escândalos de corrupção, além de ter confiscado a poupança dos brasileiros, o que levou para as ruas uma multidão de caras-pintadas que pediam seu impeachment.
Quando esteve no "Roda Viva", em 1991, Claudia Raia foi questionada sobre o que achou da atitude tomada pelo então presidente, e falou que aquela "foi uma situação caótica". Segundo contou, ela também teve seus rendimentos retidos e não tinha dinheiro sequer para comprar cigarros.
"O [meu] dinheiro ficou preso, eu não tinha dinheiro para comprar cigarro. Lembro que estava iniciando a novela 'Rainha da Sucata' e a Glória Menezes também não tinha um tostão, então a gente juntou o que a gente tinha, compramos um maço, e ficou dez cigarros para cada uma. Foi uma situação caótica, mas eu acho que faz parte, eu também me sentiria muito mal se o meu dinheiro não tivesse ficado preso, se o de todo mundo ficou preso, o meu também teria que ficar preso", declarou à época.
Desde então, Claudia Raia falou sobre sua participação nas eleições de 1989, quando endossou a campanha contra Lula e a favor de Collor, sempre em tom de arrependimento. Em várias entrevistas, a atriz falou que hoje não apoiaria nem mesmo sua mãe, Odette Motta Raia, que faleceu em março de 2019.
"Esse processo foi muito dolorido e espero que isso nunca se repita. Eu só acho definitivamente que política e arte não caminham juntas", disse ela em 2021 à Rádio Cultura FM.
"Eu acreditei que o Fernando Collor era o cara que iria mudar o Brasil, eu e todo mundo, mas não foi assim", continuou. "E acho que hoje o Brasil vive uma divisão e muitos lugares do mundo vivem também essa mesma divisão. E eu acho isso muito ruim, muito prejudicial. É a campanha do ódio", completou.
No mês passado, a artista voltou a comentar o assunto em entrevista à revista JP e disse não ter a intenção de "passar nunca mais" por algo parecido com o que vivenciou na época.
"O que passei por aquela situação do Fernando Collor não quero passar nunca mais. Nem se minha mãe reencarnasse e se candidatasse faria campanha para ela", afirmou.
Romance?
Devido a sua proximidade com Fernando Collor de Mello, Claudia Raia chegou a ser apontada como amante do político. Naquela ocasião, Raia tinha colocado um ponto final em seu casamento com Alexandre Frota, e surgiram rumores de um suposto envolvimento dela com o "caçador de marajás".
"Diziam que eu transava com o Collor na despensa da Casa da Dinda", disse a artista, referindo-se à residência da família do ex-presidente em Brasília.
De acordo com o livro "Notícias do Planalto", de Mario Sergio Conti, Raia frequentava o Palácio do Planato. "[O motorista Eriberto França] ia à casa de uma amiga de Claudia Raia, pegava a atriz e seguia para o Palácio do Planalto. Uma vez, levou Claudia Raia do hotel Kubitschek até as imediações do Palácio do Buriti, sede do governo do Distrito Federal, onde encontrou com Dario César Corrêa, segurança pessoal de Collor. O PM alagoano ficou com o Opala que Eriberto França dirigia, deu-lhe o Verona em que estava e levou a atriz embora", diz a publicação.
Raia rememorou essas fofocas no livro de memórias "Sempre Raia um Novo Dia" (HarperCollins Brasil), escrito pela jornalista Rosana Hermann. A famosa relembrou quando estava nos Estúdios Globo e recebeu uma ligação pessoal de Collor pedindo ajuda dela em meio aos pedidos de impeachment, mas ela se recusou. Segundo contou, aquele episódio marcou o fim da amizade entre eles.
Além de ter sido apontada como amante de Collor, as notícias da época ainda falaram que ela teria contraído HIV porque o ex-presidente "estava muito magro e as pessoas me acusaram deter um caso com ele".
"Aí eu tive meu teatro vazio, tive que ser capa de revista com resultado negativo de HIV. Paguei o preço por uma escolha errada, com uma pessoa errada", disse a famosa ao "Fantástico".
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