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Choro de funcionários e polícia: como foi o fim da TV Tupi há 42 anos?

De Splash, em São Paulo

18/07/2022 04h00

Há exatos 42 anos, em 18 de julho de 1980, a TV Tupi encerrava suas atividades. A emissora de televisão, que foi a primeira do país e também da América do Sul, foi impedida de renovar suas concessões após problemas administrativos e financeiros, e teve seu sinal encerrado sob protestos. A crise da rede, porém, começou anos antes do seu fechamento.

Em 1968, após a morte de Assis Chateaubriand, fundador da Tupi, os problemas começaram de forma considerável. Em entrevista à BBC, em 2020, o jornalista Rodolfo Bonventti, da Associação dos Pioneiros, Profissionais e Incentivadores da Televisão Brasileira (Pró-TV), reforçou que a dificuldade da rede foi, de fato, a má administração.

"Quando o Chatô morreu, não deixou um herdeiro. Não havia ninguém que soubesse administrar aquele império, formado por rádio, TV, jornal e revista", afirmou.

No decorrer da década de 1970, apesar de manter o segundo lugar em audiência e faturamento, as adversidades começaram a se agravar com o enfrentamento de greves, processos trabalhistas, demissões e dívidas.

O ano de 1980 começou com mais salários atrasados e alguns funcionários chegaram a ser pagos com cheques sem fundo até que, em julho, com motivos variados para cada uma das filiadas, o presidente João Figueiredo, último mandatário da ditadura militar no Brasil, assinou o decreto que extinguiu a emissora.

Ao longo de seus quase 30 anos de história, a Tupi consolidou cinco dos mais importantes formatos da televisão brasileira: teledramaturgia ("O Direito de Nascer"), telejornalismo ("Repórter Esso"), programas de humor ("Os Trapalhões"), de auditório ("Programa Silvio Santos") e infantis ("Capitão Aza").

Vigília tentou salvar canal

Apesar de muitos funcionários terem ficado sem receber salários, alguns deles propuseram continuar tocando a emissora — a proposta, no entanto, não foi aceita pelo governo da época.

Ainda assim, em transmissão ao vivo realizada por cerca de 18 horas, na TV Tupi do Rio de Janeiro, e comandada pelo locutor e apresentador Jorge Perlingeiro, alguns funcionários, artistas e telespectadores fizeram uma vigília visando evitar o fim do canal.

"Respeite nossas lágrimas, respeite nossos filhos, respeite nosso trabalho, respeite a todos nós. Não tire nossa estação do ar. Pelo amor que o senhor tem a sua mãe, senhor presidente [Figueredo]. Não deixe tirar nossa estação do ar. Respeite as nossas lágrimas, nós estamos chorando para trabalhar, nós queremos trabalhar", disse um dos trabalhadores durante a transmissão.

Polícia Federal

Os esforços dos funcionários e as cenas dramáticas de choro, diretamente do antigo Cassino da Urca, e desespero de trabalhadores não foram suficientes para impedir o fechamento da emissora.

Em 18 de julho de 1980, engenheiros do Departamento Nacional de Telecomunicações, acompanhados por agentes da Polícia Federal, foram até a sede da TV Tupi, no 10º andar de um prédio na avenida Professor Alfonso Bovero, em São Paulo, e lacraram os transmissores.

O mesmo aconteceu em outras cidades em que a rede tinha emissoras, como Rio de Janeiro, Fortaleza (TV Ceará), Belém (TV Marajoara), Porto Alegre (TV piratini), Belo Horizonte (TV Itacolomi), Recife (TV Rádio Clube). Restaram apenas Salvador (TV Itapoan) e Brasília (TV Brasília).

SBT e TV Manchete

No mesmo ano, o governo brasileiro concedeu a concessão do então canal inativo para duas novas emissoras: o SBT, de Silvio Santos, e a TV Manchete, de Adolfo Bloch.