Topo

Luciano Szafir relata medo da morte em internações: 'Foi um horror'

Luciano Szafir - Reprodução/TV Globo
Luciano Szafir Imagem: Reprodução/TV Globo

De Splash, em São Paulo

21/06/2022 09h54Atualizada em 21/06/2022 09h54

Luciano Szafir recebeu alta no último final de semana após ser internado com obstrução intestinal. Ele havia acabado de retirar a bolsa de colostomia, necessária para lidar com as sequelas da covid.

O ator de 53 anos teve a doença pela primeira vez em fevereiro de 2021 e se recuperou bem. Na 2ª vez que pegou covid, no entanto, foi internado na UTI e precisou passar por uma cirurgia de emergência para tratar um sangramento abdominal, além de sofrer uma embolia pulmonar.

Ao O Globo, Szafir contou que a única vez que havia ficado internado foi após um incêndio "há muitos anos" em seu apartamento. O ator havia engolido muita fumaça, mas, fora isso, sempre foi super saudável.

"Durante a covid eu não conseguia dar três passos, na semana seguinte eu já andava 50 metros sem passar mal. Meu corpo respondeu bem, mas eu não conseguia tomar banho sozinho. Saía cansado, como se eu estivesse corrido meia maratona. Foi um horror", relatou.

Eu passei 29 dias deitado ou sentado olhando para o teto. Claro, fazia fisioterapia durante uma hora por dia, mas depois voltava a deitar ou sentar na maca sem respirar um ar puro. Se contar todo o meu período em hospitais, eu passei 70 dias dentro deles. Eu não pretendo passar por um bom tempo nem para visitar alguém. Luciano Szafir para O Globo

O artista elenca a retirada da bolsa de colostomia como o pior momento de suas três internações. "Depois da cirurgia, eu já estava no quarto, começando a me alimentar, prestes a receber alta, uma das alças do meu intestino inflamou e a comida que eu coloquei para dentro ficou entupida. Passei muito mal, precisei vomitar, mas não foi o suficiente, colocaram uma sonda em mim. Um cabo, de cerca de 60 centímetros. Os médicos introduziram pela minha narina até a região da garganta", disse.

"De lá, eu precisei fazer movimentos peristálticos para engolir o tubo, que tem a grossura de um canudo de milkshake, até chegar no estômago. Fiquei uma semana com essa sonda, sem me alimentar direito, sem dormir, foi desesperador. E isso precisava ser feito para desinflamar as alças e fazer com que o órgão voltasse a funcionar normalmente. Foi doloroso, duro e muito difícil".

Szafir diz que em dois momentos esteve "frente a frente com a morte". O primeiro momento aconteceu em sua primeira internação, depois que foi operado.

"Eu estava no CTI, eram duas da manhã, tomei meu remédio, dei boa noite para todo mundo e dormi. Quando abri o olho, havia uns quatro médicos em volta de mim. Acordei sentindo uma dor no peito absurda. No quadro, onde fica os batimentos cardíacos, estava marcando 180. O normal acelerado era 70. Os meus batimentos cardíacos chegaram nos 202, antes de pararem", contou.

"Eu ouvi aquele som contínuo da máquina, o mesmo que escutamos nos filmes quando o personagem morre. Eu só pensava que a qualquer momento as luzes se apagariam. Eu estava totalmente consciente, quase quebrei a mão da doutora de tanto que eu a apertava. Foram os dez piores segundos da minha vida. E do nada a máquina começou a contar os batimentos novamente, até parar no 80. O meu coração foi desligado. É uma sensação de pular do precipício sem paraquedas".

O segundo momento aconteceu durante a retirada da bolsa de colostomia. A pressão do ator chegou a 5 por 2 e ele precisou tomar uma injeção de noradrenalina. "Eu acabei pegando um trauma muito grande de hospital e internação. A todo o momento, desde que eu entrei no hospital, tive medo de morrer. A cada dez minutos, eu não sabia se eu sobreviveria outros dez".

Este último procedimento também houve complicações. A cirurgia deveria ser feita de forma robótica, mas os órgãos do ator estavam compactados. Os médicos tiveram de abrir o abdome de Szafir do peito até o umbigo, o que lhe rendeu algo em torno de 40 pontos.

Recuperação

Por enquanto, o ator segue com uma dieta restritiva. "Como fiquei muito tempo sem colocar uma comida ou bebida na boca, o simples fato de comer uma sopa já está sendo delicioso. Mas não vou mentir, sinto falta de um bom e belo prato de arroz e feijão, daqueles bem grande e temperado para comer de colher".

Szafir também começou terapia após a primeira internação. Ele relata que passou a ter crises de pânico após a temporada no hospital.

Foi um alívio para mim nesses períodos e uma peça fundamental que levarei para a vida. Eu converso sobre meus medos, sobre ansiedade, sobre TOC, mas é um trabalho de médio e longo prazo, não é algo que se resolve do dia para a noite. Eu, inclusive, passei por uma crise de pânico muito forte com minha terapeuta no telefone. Ainda tive forças para ligar para ela. Sempre meditei, fiz yoga, mas eu precisava de ajuda, não estava conseguindo voltar ao eixo sozinho.

O artista diz que a terapia o ajudou a encarar alguns traumas, mas ele segue sem conseguir assistir séries médicas, como antes.

Desfile com bolsa de colostomia

Luciano Szafir nas passarelas do SPFW - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Luciano Szafir nas passarelas do SPFW
Imagem: Reprodução/Instagram

O ator diz que nunca havia falado em bolsa de colostomia até passar pela cirurgia. Nas redes sociais, recebeu ajuda de outras pessoas colostomizadas e percebeu que todos tinha algo em comum: baixa autoestima e receio com a bolsa coletora.

"[Falei com] pessoas que nunca namoraram por causa da bolsa, ou que nunca ficaram nus por conta do medo da rejeição. Eu comecei a perceber que as pessoas são as mesmas, e que essa bolsa é o significado delas estarem vivas. Foi daí que surgiu a ideia de fazer um desfile mostrando o quanto essa bolsa era importante na vida de tantas pessoas, mas todo mundo foi contra", revelou.

Minha mãe falava 'Ai filho, não vai mostrar isso', meus assessores falavam que eu tinha assuntos melhores para falar. Tem muitas pessoas famosas que eu descobri que usaram bolsa e mantiveram escondidas porque não sabiam como as pessoas reagiriam. A colostomia não te define, você não muda quem você é por isso e eu precisava mostrar isso para as pessoas. Tinha que dar uma esperança para essas tantas que me escreveram.

O ator, então, decidiu desfilar na São Paulo Fashion Week. Ele não esperava a repercussão de sua atitude. "Depois, vi homens e mulheres publicando fotos em suas redes sociais sem camisetas, mostrando a bolsa, pessoas que sofriam bullying na escola, que não iam para a praia por conta da bolsa tirando fotos na areia. Recebi mensagem de pessoas que estavam pensando em se suicidar por causa da bolsa. Eu mudei a mentalidade delas, e isso vale muito a pena", conta.

Valeu ter ficado doente só para mudar a vida dessas pessoas. Eu não pensei em vaidade, mas em fazer alguma coisa para ajudar. Eu não tenho mais aquela vaidade de menino de 30 anos. Já passei por essa fase. É legal e conta ter beleza estética, isso para qualquer idade, porém essa causa era muito maior que eu.

Nova chance

Após o último ano conturbado, o ator considera que recebeu "uma segunda oportunidade de viver". "Eu vou continuar levantando cedo, fazendo minhas orações, meditando, e pretendo levar meus filhos no colégio todos os dias", diz.

"Depois disso vou cuidar da minha saúde, seja por meio da fisioterapia, ginástica, musculação. As reuniões de trabalho ou gravações serão só a partir das 11h, e vou parar definitivamente às 19h", completa, afirmando que vai fazer 54 anos e "já trabalhou muito".

Quero aproveitar ao máximo ao lado das pessoas que eu amo, dizer 'não' sem medo de me preocupar com o que as pessoas vão pensar sobre mim. Acho que isso foi a grande mudança que aconteceu comigo: eu parei de me preocupar mais com os outros e passei a me preocupar mais com a minha família e comigo.

Ele, inclusive, diz que a família foi o que o fez sobreviver a tudo que enfrentou nos últimos meses. "Eu quero viver para quero ver meus filhos envelhecerem, se casarem. Vi a Sasha recentemente, e agora faltam os outros dois. Quando estou nessa posição, me lembro da minha mãe que já enterrou uma filha, minha irmã mais velha, nos meus três filhos, na minha esposa, meus irmãos. Eu amo a família intensamente, isso me dá forças para passar por qualquer obstáculo por pior que ele seja. Hoje eu sei o quanto a vida é valiosa".