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Ministério da Justiça muda classificação indicativa de filme de Gentili

Cena de "Como se tornar o pior aluno da escola" (2017) - Reprodução/Netflix
Cena de "Como se tornar o pior aluno da escola" (2017) Imagem: Reprodução/Netflix

De Splash, em São Paulo

16/03/2022 07h58Atualizada em 16/03/2022 13h04

O Ministério da Justiça e Segurança Pública mudou a classificação indicativa do filme "Como se tornar o pior aluno da escola", produção de 2017 de Danilo Gentili que vem sendo associada à pedofilia por perfis bolsonaristas. Além dele, o ator Fabio Porchat também se tornou alvo das acusações.

Em decisão publicada no Diário Oficial da União, o longa que está na Netflix é recomendado agora apenas para maiores de 18 anos por conter "coação sexual, estupro, ato de pedofilia e situação sexual complexa". Antes, o filme era indicado para maiores de 14 anos.

A decisão recomenda ainda que, na TV aberta, o filme seja exibido apenas após as 23h. "A nova classificação etária, com os devidos descritores de conteúdo, deve ser utilizada em qualquer plataforma ou canal de exibição de conteúdo classificável em até 5 dias corridos", diz o texto do despacho assinado pelo secretário José Vicente Santini.

Ontem, o Ministério da Justiça e Segurança Pública determinou a suspensão da disponibilização, exibição e oferta do filme nas plataformas de streaming.

O documento determina que Netflix, Telecine, Globoplay, YouTube, Apple e Amazon suspendam a exibição e oferta do filme, "tendo em vista a necessária proteção à criança e ao adolescente consumerista". Caso as plataformas não cumpram a determinação em cinco dias, será aplicada multa diária no valor de R$ 50 mil.

Em meio à polêmica, Gentili disse sentir "orgulho" de ter conseguido "desagradar" em um mesmo nível de intensidade tanto os petistas quanto os bolsonaristas, e falou em "falso moralismo".

Ele também disse que a mensagem do filme é o oposto de apologia à pedofilia:

A cena em questão é exatamente sobre uma pessoa que se apresenta como o melhor aluno da escola, que seria uma autoridade, pedindo coisas abjetas e absurdas para os alunos, que não obedecem o cara só porque ele é uma autoridade. Então, na verdade, em momento algum o filme faz apologia à pedofilia. O filme vilaniza a pedofilia. Danilo Gentili

Fábio Porchat, que interpreta o vilão Cristiano, personagem envolvido na cena criticada, corroborou com a fala de Gentili.

"Eu interpreto um vilão. É um personagem mau, que faz coisas horríveis. Um vilão pode ser racista, nazista, machista, pedófilo, matar ou torturar pessoas. Quando isso aparece em um filme, não quer dizer que estamos fazendo apologia", disse o ator em vídeo exibido no "Jornal Nacional" (TV Globo) de ontem.

Não é um incentivo ao que o vilão está praticando, mas sim um mundo perverso sendo revelado ao público. Existem momentos em que é duro assistir. Quanto mais bárbaro o ato, mais repugnante é. Fábio Porchat

Entenda

Os nomes dos humoristas Danilo Gentili e Fabio Porchat ficaram entre os assuntos mais comentados do Twitter no domingo devido às acusações de incentivo à pedofilia pelo filme "Como se Tornar o Pior Aluno da Escola", disponível no catálogo da Netflix. A plataforma de streaming também foi alvo de críticas.

Quando lançado, o longa-metragem mirim já havia sido alvo de polêmica por uma cena de cunho sexual que envolve Porchat.

Na ocasião, Adriana Munhoz, mãe do ator Bruno Munhoz, à época com 13 anos, não escondeu sua preocupação com as cenas mais pesadas do filme, uma dela justamente com conotação sexual.

"Qual me chocou mais? A cena do Porchat, eu não tinha visto pronta, sabia mais ou menos como seria, mas depois de ver pronta foi mais tranquilo. Era uma cena que preocupava sim", admitiu a mãe de Bruno, em entrevista ao UOL.

Em "Como se Tornar o Pior Aluno da Escola", Fabio Porchat interpreta Cristiano, um homem com desvios sexuais e dono do caderno que o ex-colega (papel de Danilo Gentili) roubou na escola para escrever o guia de "pior aluno", encontrado pelos protagonistas Pedro (Daniel Pimentel) e Bernardo (Bruno Munhoz).

Agora, o longa voltou a ser assunto nas redes sociais, dentro de um contexto político, com perfis bolsonaristas e de políticos apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) criticando a produção.

Em meio ao burburinho gerado, houve quem apontasse a hipocrisia desses mesmos críticos de agora, que antes aplaudiam Gentili, na época em que ele era apoiador do então candidato.