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Wagner Moura diz que não canonizou Marighella: 'Ele é questionado no filme'

Wagner Moura comentou sobre o protagonista em "Marighella" - Bob Wolfenson/Divulgação
Wagner Moura comentou sobre o protagonista em "Marighella" Imagem: Bob Wolfenson/Divulgação

De Splash, em São Paulo

04/11/2021 22h19

Wagner Moura comentou sobre a maneira como trabalhou o protagonista do filme "Marighella", que estreou hoje nos cinemas. Em conversa com Juca Kfouri transmitida pela TVT, o ator de 45 anos afirmou não ter canonizado o político e ativista Carlos Marighella na obra.

Quando você tem uma obra atacada, você entende que tudo tem a ver com o estado das coisas do que com o filme. O 'Tropa de Elite' também gerou polêmica e eu me envolvi profundamente nas discussões. Mas era um ambiente democrático, totalmente diferente. Ninguém precisa gostar do Marighella, quem já tem uma opinião formada não vai mudar com o filme. Mas eu não canonizei, ele é questionado o tempo todo no filme. Meu trabalho é dar complexidade ao personagem, não sei fazer de outra forma. Você pode ver e dizer que não gostou do filme, mas não se pode impedir o debate.
Wagner Moura

Assim como fez em entrevista ao "Roda Viva" exibida na última segunda-feira (1) pela TV Cultura, Wagner Moura reforçou que continua respondendo ataques mesmo sem respeitar as posições de integrantes do governo de Jair Bolsonaro (sem partido).

Seria um caminho mais fácil (fazer um filme de Sérgio Fleury ou Brilhante Ustra, figuras atuantes em defesa do governo durante a ditadura militar). Temos um presidente que abertamente que dedicou ao seu voto a um dos maiores crápulas do Brasil quando aconteceu o impeachment da Dilma. Era um canalha que torturava pessoas e ainda chamada os filhos do torturado para assistir.
Wagner Moura

Escolha de Seu Jorge para viver protagonista

Wagner Moura explicou a escolha de Seu Jorge para viver Carlos Marighella no filme. Após reconhecer que o político não era negro como o artista selecionado, ele reforçou as origens africanas e lembrou que o protagonista enfrentou questionamentos racistas durante a trajetória.

Marighella não era como Seu Jorge, mas era negro. [...] O codinome de Marighella na luta era 'preto'. Os ataques sofridos só reforçam o racismo estrutural. Minha primeira escolha foi o Mano Brown, que tem uma cor de pele parecida. Quando não foi possível, eu não ia repetir a síndrome de 'escrava Isaura' presente na sociedade. Quando escolho o Seu Jorge, eu vou no caminho inverso do audiovisual brasileiro e, com isso, eu reafirmo a negritude de Marighella.
Wagner Moura

Na última terça-feira (2), Moura voltou a ser questionado pelo presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo. Ele afirma que o diretor do filme não nega o racismo na obra. Na conversa com Juca Kfouri, o artista voltou a criticar o governo Bolsonaro.

O governo do Bolsonaro é uma tragédia. Estes 20% que seguem apoiando é o povo que pede a volta dos militares e coisas do tipo. Bolsonaro emerge do esgoto do Brasil e vem de uma cultura elitista, racista. Mas nós somos mais do que o Bolsonaro. Foi uma eleição pedagógica, estávamos camuflados por governos progressistas e não vimos os problemas do país. Foi um ensinamento claro para a maioria da população do Brasil.
Wagner Moura

Questionado anteriormente no "Roda Viva", Wagner Moura comentou sobre as ameaças sofridas durante a produção do filme e destacou a importância da obra.

Moura afirmou não ter medo "dessa gente" classificada por ele como "fascista" e "covarde" e ponderou que, ao seu ver, as ameaças não se restringem ao perigo físico, mas também à tentativa de censura do filme por órgãos do governo.