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Sem funk e com fiscal de máscaras: como o Rio tenta voltar com os shows

Lucas Pasin

De Splash, no Rio

25/08/2021 04h00

Noite quente no Rio de Janeiro e cariocas ocupando boa parte dos bares da cidade, ao mesmo tempo que ainda lutam contra a pandemia de covid-19. Era neste cenário em que Nando Reis subia aos palcos da cidade para dois dias de shows na zona sul, cantando ao lado do filho, Sebastião Reis, nos últimos dias 20 e 21. A apresentação aconteceu na tradicional casa Vivo Rio, e Splash acompanhou como o espaço busca, segundo eles, "dar exemplo na retomada da vida cultural da cidade''.

Show de Nando Reis no Vivo Rio - Júlio César Guimarães / UOL - Júlio César Guimarães / UOL
Show de Nando Reis no Vivo Rio
Imagem: Júlio César Guimarães / UOL

Logo na entrada, tudo muito diferente para quem estava acostumado a frequentar o local. Se antes muitas barraquinhas de lanches e bebidas disputavam clientes, por agora, nenhuma delas ocupa o calçadão em frente à casa de espetáculos.

Seu Juarez, 71, vendedor há mais de 20 anos, explica o que estava acontecendo.

Proibiram as barraquinhas de comida na frente da casa. Agora, só podemos ficar distantes, na lateral, ou então lá atrás. Estou me virando como posso, a gente sempre dá um jeito.

Ambulantes esperam em casa de show no Rio - Julio Cesar Guimaraes/UOL - Julio Cesar Guimaraes/UOL
Ambulantes esperam em casa de show no Rio
Imagem: Julio Cesar Guimaraes/UOL

No lugar das barraquinhas, estruturas como "grades" dividiam espaços para que as pessoas pudessem entrar na casa de shows respeitando o distanciamento. Funcionários da casa recebiam o público com álcool em uma mão e medidor de temperatura na outra. Respeitando as regras, a lotação máxima do espaço para a noite era de 40%.

"Contratamos novos funcionários para atender todas as novas demandas. Além disso, treinamos todos eles para entenderem a importância dos procedimentos. O cliente deve ter as mãos higienizadas, tirar a temperatura, e, o principal, estar sempre de máscara. Só fazemos shows com mesas, e elas respeitam o distanciamento de 1,5 metros. Queremos dar exemplo e pecar pelo excesso, não pela falta", explica Jorge Valbuena, gerente operacional do Vivo Rio.

Casa de shows no Rio - Julio Cesar Guimaraes/UOL - Julio Cesar Guimaraes/UOL
Clientes são recebidos por funcionários da casa de show e medem temperatura
Imagem: Julio Cesar Guimaraes/UOL

'Curral' e drible aos cambistas

O show daquela noite combinava com um público, segundo Jorge, "mais adulto e tranquilo, que respeita as regras". Mas o Vivo Rio, antes da pandemia, já recebeu diversos tipos de eventos, incluindo bailes funks. Por enquanto, isso ficou no passado.

Evitamos funk. Não podemos colocar pistas de dança, e alguns ritmos podem deixar o público mais agitado. Só fazemos shows em que seja possível ter mesa. Já fizemos o pagode do Thiaguinho, por exemplo, e colocamos grades, como um 'curral' entre as mesas. Assim poderiam levantar para dançar, mas sem contato.

O maior desafio, segundo o gerente operacional do local? Driblar os cambistas.

Não é permitido que pessoas que não sejam do mesmo convívio dividam mesa. Por isso, vendemos de duas maneiras: ou compra a mesa completa, quatro ingressos, ou a pessoa compra dois e nós não deixamos outras pessoas dividirem o espaço. O problema é que cambistas compram quatro e vendem separado na porta. Preciso até deixar mesas na reserva para fugir desse problema. Como vou colocar pessoas que não se conhecem juntas? Vai dar confusão.

Casa de shows Vivo Rio - Julio Cesar Guimaraes/UOL - Julio Cesar Guimaraes/UOL
Mesas devem respeitar distanciamento em show
Imagem: Julio Cesar Guimaraes/UOL

Sem máscara para beber e comer

O principal motivo para proibir que pessoas de convívios diferentes se sentem juntas é a ausência de máscaras quando é feito o consumo de bebidas e comidas. Boa parte do show, o público - respeitando a distância das mesas - fica sem máscara para consumir no bar do espaço. É o único momento em que a proteção é liberada. Caso contrário, seguranças, que circulam com lanterninha na mão, pedem que a máscara seja colocada.

Nando Reis - Julio Cesar Guimaraes/UOL - Julio Cesar Guimaraes/UOL
Nando Reis se emociona em show no Rio
Imagem: Julio Cesar Guimaraes/UOL

No palco: emoção e hit pedindo fim da pandemia

Durante o show, Nando Reis mostra muita emoção em poder cantar novamente para um público e chega a ficar com os olhos cheios de lágrimas.

"Que saudade de ouvir gente cantando e gritando. Passamos a valorizar muito quando estamos privados de algo. É o momento de se proteger, mas também de se declarar ainda mais para as pessoas que amamos", diz o cantor em determinado momento.

Ao cantar um de seus hits, a música "N", uma adaptação à letra pede o fim da pandemia:

Espero que essa p*rra de pandemia acabe para que a gente possa se ver de novo.

O artista chega a mostrar ao público algumas canções inéditas, e entrega: "Na impossibilidade de fazer shows me dediquei a compor".

Na despedida, Nando Reis volta a se emocionar, desta vez de mãos dadas com o filho. Alguns fãs tentam tirar foto com ele próximo ao palco. Mas, sem máscara, nada de selfies.

Nando Reis e o filho, Sebastião Reis, em show - Julio César Guimarães / UOL - Julio César Guimarães / UOL
Nando Reis e o filho, Sebastião Reis, em show
Imagem: Julio César Guimarães / UOL