Topo

Documentário causa polêmica ao recriar voz de Anthony Bourdain digitalmente

Diretor diz que recebeu autorização da viúva de Anthony Bourdain; ela nega - Mike Pont/WireImage
Diretor diz que recebeu autorização da viúva de Anthony Bourdain; ela nega Imagem: Mike Pont/WireImage

De Splash, em São Paulo

17/07/2021 11h37

O documentário "Roadrunner: A Film About Anthony Bourdain", lançado ontem nos cinemas dos Estados Unidos, tem sido criticado por espectadores e cineastas por utilizar inteligência artificial para recriar a voz do chef morto em 2018.

Em entrevista à revista GQ, o diretor Morgan Neville afirma que teve autorização da viúva de Anthony Bourdain e da agente literária do chef, assim como da administração de seu patrimônio. No Twitter, a viúva Ottavia Bourdain nega: "Certamente NÃO fui eu quem disse que Tony não se importaria com isso".

Na entrevista, Neville explica que a empresa contratada para recriar a voz do chef abasteceu uma inteligência artificial com mais de 10 horas de gravações da voz de Bourdain para que o resultado fosse fiel.

A voz criada digitalmente foi usada para inserir no documentário três frases que Anthony Bourdain escreveu, mas nunca foi gravado dizendo. Nas redes sociais, espectadores questionam se o recurso é ético:

"A decisão do cineasta de usar uma inteligência artificial para reproduzir citações escritas de Bourdain (mesmo que tenha a permissão dos administradores do patromônio) é preocupante. NÃO é correto. O tom de uma pessoa, ritmo, timbre, tudo isso reflete seus pensamentos durante a fala. A inteligência artificial pode reproduzir sua voz, mas nunca poderá entender seus sentimentos. Nojento, de verdade", diz uma usuária do Twitter.

Outros não veem problemas em usar a tecnologia para esse fim: "Vocês estão transformando isso numa coisa muito maior do que realmente é. Usar inteligência artificial para recitar citações que o diretor achou importantes o suficiente para divulgar parece válido. Usar inteligência artificial para inventar coisas que ele disse é que seria tão problemático quanto vocês acham".

O diretor revelou o uso de inteligência artificial no filme em uma entrevista à revista New Yorker em que a jornalista pergunta como ele conseguiu gravações de uma fala específica de Bourdain. O diretor afirma que não pretende divulgar quais são as outras partes criadas digitalmente:

Se você assistir o filme, fora essa fala que você mencionou, você provavelmente não vai saber quais outras citações foram ditas pela inteligência artificial. E você nunca vai saber. Mais tarde podemos fazer um debate sobre a ética dos documentários.