Thiago Stivaletti

Thiago Stivaletti

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
Opinião

'No Rancho Fundo' estreia com potencial de superar 'Mar do Sertão'

Uma bela panorâmica de um chapadão abriu nesta segunda o primeiro capítulo de "No Rancho Fundo", a nova novela das seis da Globo. Ao final dela, conhecemos Quinota (Larissa Bocchino), mocinha romântica que brinca de bem-me-quer, mal-me-quer com uma delicada flor. Ela é romântica, generosa mas nada rústica - não dispensa o celular pra falar seu amado Marcelo Gouveia (afinal, estamos em 2024). Mas o sinal do aparelho é péssimo e não pega bem no rancho de sua família.

A nova novela é uma sequência do autor Mário Teixeira a seu último sucesso no horário, "Mar do Sertão", que conquistou o público ao reunir um grande elenco genuinamente nordestino e uma mistura inspirada de romance e comédia. Neste primeiro capítulo, já deu pra sentir que tem potencial pra ser ainda melhor que a antecessora em vários aspectos: talento do elenco reunido, comédia, sotaque sertanejo. A promessa já se reverteu em audiência, com a estreia marcando média de 20,2 pontos, acima de "Elas por Elas", que acabou na semana passada.

O elenco de "No Rancho Fundo" reúne alguns dos melhores veteranos da Globo. Andréa Beltrão abraça o desafio inédito em sua carreira de viver uma mulher rústica com Zefa Leonel, mulher forte que peita os homens do garimpo de igual pra igual. Já nas primeiras cenas, ela já evocou a Diadorim de Guimarães Rosa e a Maria Moura de Rachel de Queiroz, já encarnadas na TV por Bruna Lombardi e Glória Pires. Zefa comanda uma família de mulheres fortes e homens fracos, cujo pai é o lavrador aparvalhado Tico Leonel - Alexandre Nero engraçadíssimo, invocando o gênio de Chico Anysio, que sabia como ninguém criar tipos cômicos do Brasil profundo.

Neste primeiro capítulo, também conhecemos o bom moço Artur (Túlio Starling), contraponto ao irmão cafajeste Marcelo Gouveia (José Loreto). E o amargo Quintino (Du Moscovis), que trata os filhos de criação na ponta da faca e sem o menor amor. "No Rancho Fundo" ainda bate um recorde na história da Globo: a volta de sete personagens de "Mar do Sertão" ao elenco fixo da nova novela, entre eles o prefeito Sabá Bodó (Welder Rodrigues) e a ex-vilã Deodora (Débora Bloch), agora dona do cabaré local, oscilando entre a comédia e o drama (ela ainda guarda o remorso de ter matado o próprio filho no final da novela anterior). E há ainda o retorno de Totonho e Palmito, os geniais repentistas que aparecem sempre ao final cantando em forma de cordel os eventos do próximo capítulo.

Assim como o neto Bruno Luperi prossegue a tradição do avô Benedito Ruy Barbosa com os remakes de "Pantanal" e "Renascer", Mário Teixeira se destaca hoje como o grande herdeiro das novelas de um Brasil profundo e cômico de Dias Gomes ("Roque Santeiro", "O Bem-Amado") e Aguinaldo Silva ("Pedra sobre Pedra", "A Indomada"). E ainda se inspira nos diálogos inteligentes de Ariano Suassuna ("O Auto da Compadecida") para reforçar a receita. Junto a Rosane Svartman, Mário está ajudando a manter a relevância da telenovela contra todos os prognósticos de decadência do gênero. Vai valer a pena ligar a TV às 18h nos próximos meses.

NO RANCHO FUNDO - De segunda a sábado às 18h25 na Globo

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

Deixe seu comentário

Só para assinantes