Thiago Stivaletti

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Opinião

SBT manda bem com Chega Mais e pesa a mão no mundo cão com Tá na Hora

O SBT estreou nas últimas semanas a sua nova programação. Não sei se podemos falar realmente em novidade nesta que é uma das emissoras mais conservadoras do país — tanto no conteúdo que oferece quanto no pensamento político de seu dono, Silvio Santos.

Acompanhei nas últimas semanas duas novidades apresentadas pela emissora de Silvio: o matinal Chega Mais e o vespertino Tá na Hora. Enquanto o primeiro não deixa nada a dever à programação matinal de Globo, Record e demais concorrentes, o segundo segue honrando o pior do DNA da emissora.

O Chega a Mais marca a volta de Regina Volpato ao SBT depois de cinco anos de Gazeta e 15 anos após sair da emissora, onde apresentou o Casos de Família. Seus fãs têm razão quando a defendem como uma séria sucessora para a futura aposentadoria de Ana Maria Braga na Globo. Ela reúne o carisma, a inteligência, a bagagem e o nível de informação necessários para apresentar um programa que reúne os mais diversos assuntos. Sua dobradinha com Michelle Barros tem funcionado bem nesses primeiros dias, enquanto Paulo Mathias é uma presença dispensável ao vivo no estúdio.

Como todo programa da manhã, o Chega Mais tem bons e maus momentos. Dias atrás, uma competição em torno da melhor coxinha de São Paulo movimentou o programa. Na última terça (26), o programa fez um pacote completo de reportagens sobre a Páscoa que incluiu aquelas curiosidades que fazem grudar na tela: desde um bizarro ovo de acarajé feito em Salvador (claro!), até um bufê de ovos de Páscoa, entre salgados e doces, num restaurante a quilo de São Paulo. Também teve um bom momento musical com a banda Mamonas Assassinas - O Legado, liderada por Ruy Brissac, que também viveu o vocalista Dinho no cinema. O papo ainda rendeu com a presença de um parente de Dinho que contou curiosidades sobre ele e a família.

E há ainda o cardápio de sempre: fofocas, dicas para casa, informações de utilidade pública. Na última quinta (28), um oba-oba em torno de Silvia Abravanel, com ex-talentos da casa, como Maísa Silva e Priscilla Alcântara, se derramando em elogios a ela, rendeu um papo informativo sobre adoção no Brasil com a presença no estúdio de uma especialista no assunto — Silvia foi adotada por Silvio Santos e sua primeira esposa, Maria Aparecida. São quatro horas de programa no ar, das 9h30 às 13h30, em que o pacote de notícia, informação e entretenimento é entregue com dignidade.

Christina Rocha e Marcão do Povo à frente do Tá na Hora; programa ficou em quarto no ibope
Christina Rocha e Marcão do Povo à frente do Tá na Hora; programa ficou em quarto no ibope Imagem: REPRODUÇÃO/SBT

Diferente é o cenário do Tá na Hora, programa mundo-cão herdeiro do Aqui Agora, que o SBT celebrizou nos anos 1990 com nomes como Gil Gomes e o Homem do Sapato Branco. Comandado por Cristina Rocha e Marcão do Povo, o programa tem a missão de atrair os espectadores que engordam a audiência de José Luiz Datena na Band. São duas horas e 15 minutos diários injetando pânico na população — não surpreende que a última pesquisa Datafolha mostre a segurança como maior preocupação dos brasileiros.

O programa tenta usar a força do ao vivo para reter o espectador em reportagens como "Mãe vai ficar cara a cara com o assassino da própria filha a qualquer momento". Histéricos, Cristina e Marcão berram um por cima do outro, interrompendo também os repórteres que entram das delegacias. As informações jorram sem parar em meio à gritaria, e Cristina ainda parece perdida sem dar conta de tanta coisa em ritmo acelerado.

Os dois alimentam a raiva do espectador com comentários como "Estou até com ânsia de vômito. Se eu visse cara a cara o assassino do meu filho, nem sei..." ou "Pela cara dele, não está nada arrependido! Só está com essa cara aí porque foi preso..." E dá-lhe merchans (ações comerciais patrocinadas) desde os primeiros minutos de programa. Na semana que passou, pelo menos as reportagens sobre as chuvas e enchentes, em especial no Espírito Santo, ajudaram a amenizar o mundo cão. Sem chuva, porém, o programa deve dedicar todo o seu tempo a jorrar sangue para cima do espectador.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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