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Thiago Stivaletti

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Na estreia, 'Amor Perfeito' acerta em não sublinhar o racismo

Camila Queiroz, Diogo Almeida e Levi Asaf em Amor Perfeito - Globo/Divulgação
Camila Queiroz, Diogo Almeida e Levi Asaf em Amor Perfeito Imagem: Globo/Divulgação

Colunista do UOL

20/03/2023 19h53

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Com a estreia de "Amor Perfeito" nesta segunda, a Globo vai aos poucos saldando uma dívida histórica no que diz respeito à representatividade dos negros em suas novelas. A TV Manchete estreou "Xica da Silva" com Taís Araújo em 1996, mas demorou oito anos para a mesma Taís estrelar "Da Cor do Pecado" (nome problemático) na maior emissora do país.

O momento é outro, e hoje representatividade parece ser a palavra de ordem na emissora. Quando "Terra e Paixão", a próxima novela das nove, estrear em maio, a Globo terá pela primeira vez protagonistas negros em suas três novelas inéditas no ar: Diogo Almeida e Levi Asaf em "Amor Perfeito", Sheron Menezzes em "Vai na Fé" e Bárbara Reis na novela de Walcyr Carrasco. Um dos autores e ao menos metade da equipe da nova novela das seis é composta por profissionais negros.

"Amor Perfeito" faz parte de uma nova corrente de dramaturgia que tem na série "Bridgerton", da Netflix, um divisor de águas. Neste primeiro capítulo, houve pelo menos dois grandes conflitos inter-raciais colocados: a briga física entre Gaspar (Thiago Lacerda) e o médico Orlando (Diogo Almeida) pelo coração da mocinha Marê (Camila Queiroz); e um conflito mais antigo, entre os pais de Orlando e Marê, antigos sócios no hotel que ficou sendo apenas do pai da segunda, Leonel (Paulo Gorgulho). Mas em nenhum momento se falou de racismo, ou a cor da pele apareceu como o motivo dos conflitos. Orlando é um médico estabelecido em Belo Horizonte. É uma decisão acertada, após décadas em que o negro aparecia somente como vítima de racismo nas novelas, seja como escravizado em novelas de época ou vivendo situações de preconceito no presente. A representatividade passa pela afirmação de imagens positivas, não apenas ligadas a racismo e preconceito.

Afora isso, "Amor Perfeito" já se destacou pela luxuosa reconstituição dos anos 30, das locações em São Paulo ao Grande Hotel Budapeste na fictícia cidade mineira de Águas de São Jacinto. Na inauguração do café do hotel, Priscilla Alcântara fez uma belíssima participação como Carmem Miranda. Camila Queiroz prova que é uma das melhores atrizes de sua geração, mandando bem como mulher fatal em novela das 11 ou como mocinha romântica em novela das 6 - que bom que sua briga com a Globo ficou para trás. E Mariana Ximenes promete um show de expressões geladas e figurinos exuberantes como a madrasta vilã Gilda.

Só não deu para sentir ainda qual será a importância na novela de Marcelino (Levi Asaf), o filho perdido de Orlando e Marê que será criado num convento. O personagem é inspirado em um clássico dos anos 50, o romance espanhol "Marcelino, Pão e Vinho". A julgar pela abertura em tons infantis, esta será uma novela que dará um grande peso ao seu protagonista infantil - o que pode fazer de "Amor Perfeito" herdeira de outras novelas do horário, como "Sonho Meu" (1993), "Era uma Vez"(1998) e "Coração de Estudante" (2002).