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O que faz uma cidade de leitores?

Não é raro o pessoal de Maringá lembrar dois escritores premiados num passado quase recente na hora de apresentar as credenciais literárias da cidade. Marcos Peres venceu o Prêmio Sesc de Literatura de 2013 e o São Paulo na categoria autores estreante em 2014 com o surpreendente "O Evangelho Segundo Hitler" (Record).

Com o romance "Nihonjin" (Benvirá), Oscar Nakasato levou o Jabuti de 2012 - ano do fatídico caso do Jurado C, quando um senhor achou razoável atribuir notas completamente discrepantes aos finalistas. Tanto Nakasato quanto Peres são da cidade no interior paranaense.

É um outro ponto, no entanto, que me chama a atenção no município de 410 mil habitantes: a quantidade de bons leitores, algo notado nas vezes em que estive por lá e acompanhando um pessoal pela internet. Meio causa e meio consequência disso são os clubes de leitura que pipocam na cidade. Lembro alguns: Amigos da Palavra, Livros e Risos, Bons Casmurros, Leia Mulheres e Maringá. Este, o mais antigo, existe desde 2006.

Nas iniciativas maringaenses parece haver um equilíbrio razoável entre o fomento da cena local em diálogo com o que acontece para além da cidade. Indicativo a se levar em conta é a Festa Literária Internacional de Maringá, que neste ano chega à décima edição.

Pela Flim já passaram nomes que vão de Milton Hatoum, Ana Maria Machado e Maria Valéria Rezende, referências na literatura nacional, até a ruandesa Scholastique Mukasonga e a argentina Selva Almada, autoras relevantes mundo afora. Recomendo, aliás, fortemente a leitura de ambas, publicadas por aqui pela Nós e pela Todavia, respectivamente.

A edição deste ano da Festa acontecerá entre os dias 4 e 8 de outubro no estacionamento do Estádio Willie Davids. Com mais de 60 atividades gratuitas e uma programação bastante diversa (veja aqui), receberá nomes como Geovani Martins, Paulo Scott, Luci Collin, Patrícia Campos Mello e o português Afonso Cruz. Eu participarei de uma mesa no dia 6, às 9h, ao lado de Rogério Pereira, editor do Jornal Rascunho. A distribuição de cerca de cinco mil vale-livros para alunos de escolas municipais é uma das ações que fazem parte do evento.

Victor Simião, atual secretário de Cultura da cidade, é jornalista e construiu sua caminhada também em contato com os livros, a leitura e a literatura. Antes da carreira pública, promovia eventos e, na rádio CBN, teve uma coluna sobre o assunto. Simião que traz outras informações a serem observadas.

São 82 mil usuários cadastrados e 145 mil livros à disposição nas seis bibliotecas municipais de Maringá, que, segundo dados do ano passado, já receberam mais de 200 mil pessoas. Além disso, hoje há um investimento anual de cerca de R$350 mil para o fomento de diversas pequenas iniciativas ligadas à literatura.

Escrevi que me chamava a atenção a rede de bons leitores criada na cidade. É uma rede que se espalha por aí. Não é a coisa mais difícil do mundo esbarrar com leitores de Maringá acompanhando eventos literários em outras regiões do país.

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Quando pensamos em o que faz com que uma cidade média se torne um lugar povoado por leitores, talvez olhar com atenção para o que se passa nesse município paranaense traga ideias e inspirações.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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